Olhar de Wang Bing sobre a China moderna volta a triunfar no DocLisboa
Documentarista recebe pela terceira vez o prémio maior do festival de cinema, que recompensou ainda o filme português Volta à Terra, de João Pedro Plácido.
Em comum, os dois vencedores têm o olhar sobre gente que vive “longe da civilização”. Father and Sons, na sequência da atenção prestada por Wang Bing aos desfavorecidos da China moderna, acompanha o quotidiano de dois meninos entregues a si próprios enquanto o pai trabalha duramente. Rodado inteiramente em longuíssimos planos fixos a partir da soleira do casebre improvisado onde moram, pontuado pelo som do televisor que parece estar sempre aceso e a luz do telemóvel durante a noite, Father and Sons explora igualmente a fronteira entre o documentário convencional e o objecto-instalação artística que Wang Bing já visitou noutros filmes como The Man with No Name.
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Em comum, os dois vencedores têm o olhar sobre gente que vive “longe da civilização”. Father and Sons, na sequência da atenção prestada por Wang Bing aos desfavorecidos da China moderna, acompanha o quotidiano de dois meninos entregues a si próprios enquanto o pai trabalha duramente. Rodado inteiramente em longuíssimos planos fixos a partir da soleira do casebre improvisado onde moram, pontuado pelo som do televisor que parece estar sempre aceso e a luz do telemóvel durante a noite, Father and Sons explora igualmente a fronteira entre o documentário convencional e o objecto-instalação artística que Wang Bing já visitou noutros filmes como The Man with No Name.
Volta à Terra segue alguns meses na vida da aldeia da Uz, no Norte de Portugal, uma comunidade fervilhante de vida que parece “a contra-corrente” da desertificação rural do nosso país. O filme de João Pedro Plácido recebeu ainda o Prémio Escolas, entregue por um júri distinto.
O júri da competição internacional, formado este ano pela montadora Dominique Auvray, pelos cineastas Nicolás Pereda, Alessandro Rossetto e Nuno Lisboa, e pelo crítico Chris Fujiwara, entregou o Prémio Especial do Júri ao francês Éric Baudelaire por Letters to Max, onde a correspondência do realizador com o antigo diplomata abecázio Maxim Gvinjia abre espaço para uma reflexão sobre a própria noção moderna de estado-nação. Curiosamente, este prémio “duplica” igualmente o palmarés do DocLisboa em 2012, que deu a Wang Bing o Grande Prémio e a Baudelaire o Prémio Especial por The Anabasis of May and Fusako Shigenobu.
O júri atribuiu ainda uma menção honrosa ao filme dos street artists napolitanos Cyop & Kaf, Il Segreto, que segue uma mão-cheia de jovens e adolescentes competindo pelas fogueiras de Santo António nas ruas daquela cidade italiana; e o prémio de Curta-Metragem a Tôi Quên Roi!, do argentino Eduardo Williams, sobre a descoberta do mundo por um miúdo vietnamita.
A competição nacional foi este ano julgada pela actriz Joana Preiss e pelos programadores Jaime Pena e Jürgen Bock. Mas, ao contrário de anos anteriores, este júri não atribuiu nenhum outro prémio para além dos dois troféus principais de longa-metragem (a Volta à Terra, co-produzido com a França e a Suíça) e curta-metragem (a Motu Maeva, filme-ensaio produzido em França pela portuguesa Maureen Fazendeiro). Uma situação que faz eco da preocupação levantada esta semana pela demissão em bloco de várias personalidades, entre as quais a direcção do DocLisboa, da Secção Especializada para o Cinema e Audiovisual, entidade responsável pela escolha dos júris dos concursos audiovisuais do ICA.
Três outros prémios foram atribuídos por júris separados. O júri de Primeira Obra escolheu Songs from the North, o ensaio da sul-coreana Soon-mi Yoo sobre a Coreia do Norte que venceu precisamente o mesmo galardão no festival de Locarno. O júri Universidades escolheu como melhor longa do concurso internacional Hit 2 Pass, peculiar filme-ensaio sobre a própria matéria do cinema assinado pelo canadiano Kurt Walker. E o júri Investigações premiou Evaporating Borders, onde a sérvia radicada em Nova Iorque Iva Radivojevic fala do modo como a imigração em larga escala afecta Chipre.
Finalmente, o Prémio PÚBLICO para melhor longa-metragem portuguesa, votado pelo público do DocLisboa, coube a Ilusão, onde Sofia Marques filma a criação da peça do mesmo nome pela Cornucópia de Luís Miguel Cintra.
Os filmes premiados serão exibidos de novo no domingo. Os vencedores dos prémios nacionais, Motu Maeva e Volta à Terra, passam às 18h na Academia Almadense e às 22h no Grande Auditório da Culturgest; o Grande Auditório mostra ainda Evaporating Borders às 19h30. No cinema São Jorge, Songs from the North é exibido às 16h15, Tôi Quên Rôi e Father and Sons às 19h, e Letters to Max às 21h15. O prémio do público será mostrado às 16h15 no City Campo Pequeno.