Ordem defende que Portugal só está preparado para o ébola “no papel”
Bastonário divulga nota depois de conhecidos os dois pareceres que faltavam dos colégios da especialidade de Medicina Tropical e de Doenças Infecciosas. Defende que no terreno continuam a existir falhas, mas exclui risco de epidemia.
O comunicado de José Manuel Silva, intitulado “A melhor prevenção para o futuro é fazer com rigor e transparência o trabalho no presente”, é feito a propósito da divulgação de mais dois pareceres de colégios de especialidade da Ordem dos Médicos sobre o ébola. Os colégios de Medicina Tropical e de Doenças Infecciosas deram a conhecer as suas posições nesta sexta-feira, depois da polémica lançada há pouco mais de uma semana pelo Colégio da Especialidade de Saúde Pública, que num parecer manifestava preocupação com a forma como as autoridades de Saúde portuguesas têm lidado com o problema e considerava que têm passado “mensagens de enganosa tranquilidade” à população.
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O comunicado de José Manuel Silva, intitulado “A melhor prevenção para o futuro é fazer com rigor e transparência o trabalho no presente”, é feito a propósito da divulgação de mais dois pareceres de colégios de especialidade da Ordem dos Médicos sobre o ébola. Os colégios de Medicina Tropical e de Doenças Infecciosas deram a conhecer as suas posições nesta sexta-feira, depois da polémica lançada há pouco mais de uma semana pelo Colégio da Especialidade de Saúde Pública, que num parecer manifestava preocupação com a forma como as autoridades de Saúde portuguesas têm lidado com o problema e considerava que têm passado “mensagens de enganosa tranquilidade” à população.
O caso levou o director-geral da Saúde, Francisco George, a denunciar numa comissão parlamentar de saúde que o documento tinha sido divulgado pelo presidente daquele colégio sem consultar outros membros. Lembrou, ainda, que faltava ainda conhecer a posição do Colégio de Medicina Tropical e do Colégio de Doenças Infecciosas, garantindo apenas que nenhum parecer “prejudicaria o trabalho” da Direcção-Geral da Saúde.
Agora, o bastonário vem garantir que os novos pareceres são “complementares e coerentes” e reforça que muitas das medidas melhoraram mas ainda estão a ser implementadas, considerando "uma sorte não ter havido, até aqui, a importação de nenhum caso". Quem anda no terreno, como a Ordem dos Médicos, percebe o quanto ainda está por fazer, a todos os níveis, tanto a nível hospitalar como nos Cuidados de Saúde Primários”.
A Ordem dos Médicos reconhece que o risco de casos “é alto”, mas que “o risco de epidemia é baixo”, como diz o parecer das Doenças Infecciosas. Porém, na opinião do colégio das Doenças Tropicais, “se no papel Portugal está preparado, a realidade do terreno nem sempre mostra o mesmo.”. “Falta ainda algum equipamento de segurança, particularmente importante nos Serviços de Urgência de Lisboa e Porto. E falta treino, treino, treino e mais treino”, justifica o documento.
Segundo a Ordem, o país só está preparado para actuar em casos programados. “Para o primeiro dos cenários de entrada de um doente de ébola em Portugal, quando este vem já com diagnóstico, mesmo que só de probabilidade, pode dizer-se que Portugal está razoavelmente bem preparado. O problema maior é se a entrada for de um infectado em período de incubação, que só adoeça e procure ajuda médica alguns dias depois, inclusive podendo dirigir-se a um qualquer serviço de saúde, público ou privado, preparado ou não para receber casos de ébola”, diz José Manuel Silva, socorrendo-se do parecer da Medicina Tropical.
O primeiro parecer do Colégio de Saúde Público apelava a uma “apertada vigilância nos aeroportos”, com presença permanente de autoridades de saúde. Agora, o Colégio de Doenças Infecciosas reforça, para os serviços de saúde, a “necessidade de todas as instituições e de todos os profissionais de saúde estarem informados, preparados e de cumprirem as orientações sucessivamente actualizadas pela Direcção-Geral da Saúde quanto aos procedimentos recomendados”. Isto porque, segundo José Manuel Silva, “nos Estados Unidos três casos de infecção secundária bastaram para evidenciar que, ao contrário do que afirmavam as autoridades, o nível de preparação dos EUA era insuficiente”.