É estranha a experiência de ouvir o segundo álbum dos Alt-J, inesperada banda sensação britânica, vencedora do prestigiado e prestigiante Mercury Prize o ano passado. Classificamo-la como inesperada porque a música dos Alt-J, bucolismo folk para a era electrónica, canções multiformes criadas por uma banda com um inspirado poder de síntese, não parecia talhada para o estrelato pop. E, no entanto, o culto tornou-se massivo e An Awesome Wave, a estreia, um dos álbuns de destaque de 2012. Chega entãoThis is All Yours, segundo passo na discografia da banda nascida num dormitório da Universidade de Leeds.
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É estranha a experiência de ouvir o segundo álbum dos Alt-J, inesperada banda sensação britânica, vencedora do prestigiado e prestigiante Mercury Prize o ano passado. Classificamo-la como inesperada porque a música dos Alt-J, bucolismo folk para a era electrónica, canções multiformes criadas por uma banda com um inspirado poder de síntese, não parecia talhada para o estrelato pop. E, no entanto, o culto tornou-se massivo e An Awesome Wave, a estreia, um dos álbuns de destaque de 2012. Chega entãoThis is All Yours, segundo passo na discografia da banda nascida num dormitório da Universidade de Leeds.
Composto em grande parte enquanto a banda apresentava An Awesome Wave em digressão, apresenta a mesma síntese que ouvimos na estreia. Mas tudo é mais reflectivo, mais lento, mais crepuscular. A pop de refrão bem exposto dá lugar a coros de vitral (têm essa solenidade), as guitarras dedilhadas encontram-se com flautas, com sintetizadores ambientais, com o som quente de órgãos vintage e, ocasionalmente, destaca-se aquela produção saturada que não deixava qualquer espaço sonoro disponível.
Arrival in Narae
Nara(Nara é uma cidade japonesa), mostram esta nova delicadeza dos Alt-J, prog e folk processados por cérebros do século XXI.
Every other freckle, baixo e sintetizador unidos no tal som saturado, flauta a libertar-nos dessa densidade, cativa-nos com as melodias de voz que se vão sobrepondo em harmonias inesperadas. Mas, à medida que o álbum avança, o encantamento como que se desvanece. Nem é por essa
Let hand freeque se atira de cabeça a riffalhada blues-rock apenas para nos recordar que já existiram uns Gomez e que não, não precisamos que existam mais nenhuns (e nunca tínhamos sequer pensado nisso). Não é porém esse tiro ao lado a causar esta estranha sensação de progressivo desapego à música que os Alt-J gravaram em
This Is All Yours.
Hunger of the pinetraz a curiosidade da voz samplada de Miley Cyrus (
I’m a female rebel, canta ela, trazida da sua
4x4) e a certeza de que os Radiohead aventureiros são referência para os Alt-J. E antes dela e depois dela, os coros continuam a harmonizar, as guitarras são dedilhadas, a percussão de tarola e latas dá ritmo a estas canções em câmara lenta em que a graciosidade é objectivo falhado: porque a ternura parece cansaço e o sonho, sonambulismo. Como se os Alt-J, cansados nos intervalos das digressões, soubessem que queriam apenas serenidade e sonhar com os verdes prados de casa, mas não soubessem exactamente o caminho para lá chegar. Criam um ambiente e desenham a sonoplastia, mas não conseguem dar-lhe verdadeiramente um corpo. E é pena. Porque
This Is All Yoursé um álbum muito bonito. Infelizmente, é um álbum muito bonito falhado.