A guerra é a guerra

É um filme claustrofóbico e brutal sobre homens em guerra, algures entre Líbano e O Resgate do Soldado Ryan.

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Fúria, senhores, não é nem um filme de guerra clássico, nem um veículo heróico à medida da carinha laroca de Pitt (que, aqui entre nós, se está a tornar num dos mais interessantes “astros” do cinema americano, pela maneira como se investe em projectos que correm riscos e saem fora do baralho). E também não se espere da quinta realização do argumentista David Ayer a irrisão selvagem de uns Sacanas sem Lei: Fúria tem a claustrofobia sufocante de um Líbano, o filme de Samuel Maoz sobre uma tripulação de tanques durante a invasão do Líbano em 1982, sobreposta ao caos controlado com que Spielberg filmou a abertura do Resgate do Soldado Ryan
 
Não é o tipo de linhagem que se esperaria para um objecto como este, que se inscreve abertamente numa tipologia do “filme de guerra” que acompanha um pequeno grupo de homens em missão mas que não hesita em ejectar sentimentalismos e evocar uma qualquer frontalidade herdada de Samuel Fuller. E, já agora, nada no anterior trabalho de Ayer como realizador, quase sempre esforçado e sincero mas derivativo, faria prever o bom resultado de Fúria. Enquanto argumentista, Ayer tornou-se conhecido pelo excelente Dia de Treino, que valeu em 2002 o Óscar a Denzel Washington e uma nomeação a Ethan Hawke, e Fúria pode ser visto como uma versão desse filme transplantada para os últimos dias da Segunda Guerra Mundial e o avanço final dos Aliados sobre Berlim, acompanhando um dactilógrafo colocado numa tripulação de veteranos tanquistas. Norman (um excelente Logan Lerman) é literalmente “atirado às feras”, lançado para uma linha da frente suicida onde as hipóteses de sobrevivência eram quase inexistentes devido à fragilidade dos tanques americanos, quase indefesos perante a superioridade técnica dos equivalentes alemães. E Pitt é excelente no papel do comandante de tanque que é ao mesmo tempo pai e confessor, tirano e amigo, guerreiro e confidente, servindo como “cola” que mantém alerta uma tripulação sempre à beira da explosão, liderando habilmente um ensemble de actores inteiramente masculino que está “no ponto”. 

É, por isso, pena que o final inevitável desta história de homens adquira uma dimensão heróica ausente da contenção sóbria, brutalista do resto do filme, como se a “panela de pressão” que Ayer gere habilmente ao longo do que veio antes só pudesse explodir numa pirotecnia sentimental e inflacionada que remete para os filmes de guerra dos anos 1940. Mas talvez não houvesse mesmo outra maneira de acabar este survival movie disfarçado de drama, completando o “romance iniciático” de Norman pelo meio do inferno. E Fúria não deixa por isso de ser uma bela surpresa.  

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Fúria, senhores, não é nem um filme de guerra clássico, nem um veículo heróico à medida da carinha laroca de Pitt (que, aqui entre nós, se está a tornar num dos mais interessantes “astros” do cinema americano, pela maneira como se investe em projectos que correm riscos e saem fora do baralho). E também não se espere da quinta realização do argumentista David Ayer a irrisão selvagem de uns Sacanas sem Lei: Fúria tem a claustrofobia sufocante de um Líbano, o filme de Samuel Maoz sobre uma tripulação de tanques durante a invasão do Líbano em 1982, sobreposta ao caos controlado com que Spielberg filmou a abertura do Resgate do Soldado Ryan
 
Não é o tipo de linhagem que se esperaria para um objecto como este, que se inscreve abertamente numa tipologia do “filme de guerra” que acompanha um pequeno grupo de homens em missão mas que não hesita em ejectar sentimentalismos e evocar uma qualquer frontalidade herdada de Samuel Fuller. E, já agora, nada no anterior trabalho de Ayer como realizador, quase sempre esforçado e sincero mas derivativo, faria prever o bom resultado de Fúria. Enquanto argumentista, Ayer tornou-se conhecido pelo excelente Dia de Treino, que valeu em 2002 o Óscar a Denzel Washington e uma nomeação a Ethan Hawke, e Fúria pode ser visto como uma versão desse filme transplantada para os últimos dias da Segunda Guerra Mundial e o avanço final dos Aliados sobre Berlim, acompanhando um dactilógrafo colocado numa tripulação de veteranos tanquistas. Norman (um excelente Logan Lerman) é literalmente “atirado às feras”, lançado para uma linha da frente suicida onde as hipóteses de sobrevivência eram quase inexistentes devido à fragilidade dos tanques americanos, quase indefesos perante a superioridade técnica dos equivalentes alemães. E Pitt é excelente no papel do comandante de tanque que é ao mesmo tempo pai e confessor, tirano e amigo, guerreiro e confidente, servindo como “cola” que mantém alerta uma tripulação sempre à beira da explosão, liderando habilmente um ensemble de actores inteiramente masculino que está “no ponto”. 

É, por isso, pena que o final inevitável desta história de homens adquira uma dimensão heróica ausente da contenção sóbria, brutalista do resto do filme, como se a “panela de pressão” que Ayer gere habilmente ao longo do que veio antes só pudesse explodir numa pirotecnia sentimental e inflacionada que remete para os filmes de guerra dos anos 1940. Mas talvez não houvesse mesmo outra maneira de acabar este survival movie disfarçado de drama, completando o “romance iniciático” de Norman pelo meio do inferno. E Fúria não deixa por isso de ser uma bela surpresa.  

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