Rita está a recomeçar a vida em França
Estudou Teatro, Comunidade e Educação, na Universidade de Évora. Em Portugal, tinha cada vez mais dificuldade em encontrar trabalho na sua área. Trabalhou em centrais de atendimento, restaurantes, cafés. Fazia trabalho voluntário para não se perder do caminho que escolhera.
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Estudou Teatro, Comunidade e Educação, na Universidade de Évora. Em Portugal, tinha cada vez mais dificuldade em encontrar trabalho na sua área. Trabalhou em centrais de atendimento, restaurantes, cafés. Fazia trabalho voluntário para não se perder do caminho que escolhera.
Ao vê-la naquela aflição permanente, alguns amigos desafiaram-na: “’Bora lá às vindimas em França!” Rita foi. Tinha 41 anos. “Estive dois anos a viver essa aventura. Já estou velha para andar, de mochila às costas, a fazer trabalho sazonal, pelo campo. Andei por toda a França, a dormir em campings ou em quintas, até ficar doente. Fui hospitalizada. Recorri a ajudas francesas.”
A legislação francesa prevê diversas medidas para ajudar pessoas em situação de pobreza com residência estável no país. Rita é beneficiária de Rendimento Solidariedade Activa (RSA), medida criada em 2009 no meio de um acalorado debate sobre o estigma que se abatera sobre o Rendimento Mínimo. Vive com o dinheiro contado. “Recebo 438 euros.”
Só com RSA não viveria na Bretanha de que tanto gosta. “O quarto custa 400 euros. Tenho ajuda para pagar isso. Do meu bolso saem à volta de 80 euros para o alojamento”, esclarece. Não é só. Quem tem poucos recursos, pode beneficiar de cobertura complementar do regime universal de cuidados de saúde. “Tenho médicos e medicamentos gratuitamente durante um ano. Estou a aproveitar para tratar da minha saúde de uma forma que não conseguiria em Portugal.”
Não se sente parada, à sombra do RSA, nem lhe passa pela cabeça que alguém a quisesse recambiar para Portugal por estar temporariamente incapaz de trabalhar. “Isto é para retomar a minha vidinha. Já tinha feito uma formação de dois meses em língua francesa. Estou a fazer uma segunda formação para aprimorar o meu francês, de forma a retomar o trabalho que fazia em Portugal. Dizem-me que em França há muitas oportunidades a esse nível, que tenho possibilidades de fazer valer as minhas competências mais facilmente. Quero retomar a minha vidinha.”
Faz parte de um conselho consultivo local da Rede Europeia Anti-Pobreza em França. Chegara havia pouco ao centro de acolhimento de urgência quando ouviu falar naquela estrutura e se dispôs a participar. “Ajuda-me um pouco a sair da questão que me coloco tantas vezes: ‘O que estou aqui a fazer?’ Ajuda-me a dar sentido à experiência que estou a ter. Os últimos dois anos foram muito duros. O trabalho no campo é muito duro. Sempre trabalhei na área social e, de repente, vi-me do outro lado, do lado inverso….” Sobre os migrantes nada a preocupa tanto como a sorte dos refugiados, que esperam anos a fio, numa espécie de limbo, por um estatuto que lhes permita trabalhar.