Turquia deixa combatentes curdos passarem fronteira para defenderem Kobani

Anúncio foi feito horas depois ter sido anunciado que EUA largaram armas sobre posições dos que defendem cidade contra o Estado Islâmico.

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Vista geral da cidade síria de Kobani, numa imagem deste domingo REUTERS/Kai Pfaffenbach

“Ajudamos as forças dos ‘peshmergas curdos',  a atravessar a fronteira para chegarem a Kobani”, disse o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu. “Nunca quisemos que Kobani caísse.

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“Ajudamos as forças dos ‘peshmergas curdos',  a atravessar a fronteira para chegarem a Kobani”, disse o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu. “Nunca quisemos que Kobani caísse.

O anúncio turco foi feito horas depois de ter sido anunciado que aviões norte-americanos largaram armas e munições sobre posições da guerrilha curda que defende a cidade síria de Kobani. Esta foi mais uma etapa no crescente envolvimento dos Estados Unidos na luta contra o autoproclamado Estado Islâmico, um passo que de novo promete inquietar os aliados turcos.

Apesar da pressão dos aliados, a Turquia tem recusado um papel mais activo na coligação contra o Estado Islâmico sem garantias de que existe uma estratégia global que inclua o afastamento do Presidente Bashar al-Assad, afirmando que a Síria continuará a ser um pólo de desestabilização enquanto não existir ali um regime legítimo.

Ancara teme também que, ao visar unicamente os jihadistas, os esforços internacionais legitimem e reforcem a guerrilha curda, minando as negociações que iniciou em 2012 com o PKK para pôr fim a um conflito que se arrasta há 30 anos e fez mais de 40 mil mortos.

A notícia da autorização turca e do “reabastecimento” norte-americano surge dois dias depois de o Observatório Sírio dos Direitos Humanos ter revelado que os jihadistas que tentam tomar a cidade curda receberam reforços de outras regiões da Síria e, apesar dos ataques aéreos da coligação, lançaram novo ataque para conquistar Kobani.

Segundo o Comando Central norte-americano (CentCom), que coordena as operações militares, aviões de carga C-130 “lançaram armas, munições e material médico fornecido pelas autoridades curdas do Iraque para permitir [às guerrilha curda] continuar a resistir aos avanços” dos radicais. Fontes militares norte-americanas, que falaram aos jornalistas sob reserva de identidade, adiantam que três aviões de carga lançaram 27 fardos com “armas ligeiras” sobre as posições curdas e que, segundo as informações recolhidas, “a vasta maioria” chegou aos destinatários.  

Ainda no domingo, Recep Tayyip Erdogan, o antigo primeiro-ministro agora na presidência turca, assegurava que não iria permitir que os americanos entregassem ou transferissem armas para a guerrilha curda. Uma das fontes militares norte-americanas garantiu, contudo, que o Presidente norte-americano, Barack Obama, “falou com Erdogan e conseguiu informá-lo da intenção dos EUA e da importância que colocam nesta questão”. O responsável diz que Washington “compreende a preocupação da Turquia com um conjunto de grupos envolvidos no conflito” sírio, mas reafirmou a “forte convicção de que tanto os EUA como a Turquia têm no Estado Islâmico um inimigo comum”.

Um porta-voz das Unidades de Protecção Popular (YPG), a milícia curda que há várias semanas pedia ajuda internacional para defender Kobani, confirmou também através da rede social Twitter que “uma grande quantidade de munições e armas” chegou à cidade.

As últimas informações recolhidas pelo Observatório indicam que a batalha continua cerrada, com os dois grupos a disputarem a cidade rua a rua. Há indicações de que os jihadistas avançaram algum terreno em direcção ao centro, enquanto as milícias do YPG tentam reconquistar áreas que perderam na zona leste. “A situação de segurança em Kobani continua frágil”, sublinha o CentCom, revelando que só nos últimos dias os aviões americanos e dos aliados árabes lançaram 135 ataques contra posições dos radicais.

Esta é a primeira vez que os Estados Unidos reconheceram estar a armar o YPG, um grupo que a Turquia diz ser o ramo sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que tanto Ancara como Washington e Bruxelas classificam de organização terrorista.