Todos os textos dos bispos sobre gays e recasados vão ser conhecidos
Polémica com tradução em inglês. Cardeal Schönborn defende compreensão com a situação dos homossexuais e dos casais que vivem em união de facto ou são divorciados.
Desde segunda-feira que os bispos, depois de conhecido o documento de trabalho que prevê alguma abertura da Igreja Católica aos homossexuais e aos casais divorciados, estavam reunidos em grupos linguísticos – três grupos de língua italiana, três de inglês, dois de espanhol e dois de língua francesa.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Desde segunda-feira que os bispos, depois de conhecido o documento de trabalho que prevê alguma abertura da Igreja Católica aos homossexuais e aos casais divorciados, estavam reunidos em grupos linguísticos – três grupos de língua italiana, três de inglês, dois de espanhol e dois de língua francesa.
Esta manhã, depois de entregarem os seus textos, os bispos decidiram que estes deveriam ser divulgados publicamente. Isto revela "um caminho de abertura e transparência na participação", considera Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, na conferência de imprensa desta quinta-feira.
Na segunda-feira, no texto entregue aos jornalistas e que foi o mesmo que os grupos estiveram a trabalhar, sobre os homossexuais o título era "acolher a pessoa homossexual". Em italiano, a palavra escrita foi "accogliere" e em inglês a tradução fez-se para "welcoming". Contudo, na quarta-feira foi entregue uma nova tradução em inglês onde a palavra mudou para "providing". O que se passou?
Lombardi esclarece que o texto que importa é o italiano e conta que houve um grupo de pessoas de língua inglesa que pediu para rever a tradução. "Não posso dizer qual é a melhor, a vantagem é que é um documento de trabalho e que o original é o italiano", acrescenta.
Este é o "Sínodo da vergonha", como tem sido escrito e comentado por alguns grupos, questionou um jornalista mexicano. E é verdade que ainda na quarta-feira, o Papa recebeu participantes queixosos com o rumo dos trabalhos? Lombardi desconhece que Francisco tenha recebido alguém, mas lembra que o Papa "move-se livremente", encontra pessoas no seu caminho e "é sempre muito gentil a responder". Por isso, embora nada esteja na sua agenda oficial, é possível que tenha ouvido descontentes.
Para o cardeal austríaco Christoph Schönborn, um dos participantes da conferência de imprensa desta manhã, este é um Sínodo "autêntico" porque todos puderam falar abertamente, sem medo, tal como o Papa pediu. E foi também "muito positivo", embora reconheça que se trataram temas controversos.
Homossexualidade, uniões de facto e divórcio
Questionado pela jornalista da Rádio Renascença Aura Miguel sobre se é preciso mudar o Catecismo da Igreja Católica, do qual Schönborn foi redactor, por causa das decisões que podem resultar deste Sínodo, o cardeal responde que não vê necessidade de o fazer. Para Schönborn existem novos desafios que têm de ser olhados "com os mesmos princípios [da Igreja] mas para os quais é preciso procurar novas palavras".
E dá o exemplo das uniões de facto, algo que se espalhou não só pela Europa mas pelo mundo. "É um fenómeno da desinstitucionalização da família", define, e para qual se tem de olhar e acompanhar.
Sobre a homossexualidade, o princípio deve ser "olhar para pessoa e não para a sua orientação sexual". Quando o texto de trabalho ou o Catecismo falam de "acolhimento", "é esse o comportamento cristão, porque todas as pessoas têm dignidade", diz Schönborn. Mas, salvaguarda, embora a Igreja respeite todos, não é o mesmo que respeitar todos os "comportamentos humanos". Contudo, "o Catecismo é claro que a orientação sexual não tem nada a ver com pecado".
O cardeal austríaco acrescenta que não sabe o que vai estar no texto final, mas tem a certeza de que o "acolhimento é elementar" e revela que houve uma participante leiga alemã que pediu aos bispos para "não olharem para o que se passa no quarto, mas na sala". Schönborn confessa ainda que conheceu um casal do mesmo sexo que era "maravilhoso" e "exemplar" na sua relação.
Quanto ao divórcio, Schönborn lembra que é filho de divorciados. Por isso, conhece a realidade das famílias que vivem em ruptura. Portanto, não são situações abstractas, mas reais. "É preciso encontrar um equilíbrio" entre o que diz a doutrina e o Evangelho e, lembra, "as palavras de Jesus são de misericórdia e compaixão".
Feita a discussão nos vários grupos, agora cabe a um grupo onde estão representados todos os continentes – também esta manhã, o Papa decidiu juntar a este grupo um representante africano e um da Oceânia, o cardeal sul-africano Wilfrid Fox Napier e o arcebispo australiano Denis Hart, respectivamente – elaborar o texto final que será conhecido no próximo sábado de manhã e aprovado no mesmo dia, à tarde.
Os dois consagrados juntam-se assim a outros seis já nomeados: o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura; o cardeal Donald W. Wuerl, arcebispo de Washington, EUA; Victor Manuel Fernández, reitor da Pontifícia Universidade Católica da Argentina; D. Carlos Aguiar Retes, presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano; D. Peter Kang U-Il, presidente da Conferência Episcopal da Coreia; e o padre Adolfo Nicolás, da Companhia de Jesus.
Lombardi sublinha que estes textos fazem parte do caminho que o Sínodo está a fazer e salvaguarda que não são textos finais. Contudo, aconselha à sua leitura na íntegra.