Pais querem saber como é que alunos vão recuperar aulas perdidas

Alguns professores que faltavam na Escola Francisco de Arruda, em Lisboa, já chegaram, mas os pais garantem que, um mês depois, ainda haverá turmas sem docentes a algumas disciplinas. E queixam-se também de falta de funcionários.

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Pedro Nunes

A forma como este ano lectivo arrancou continua a espantar os pais. O prazo de aceitação para os docentes contratados através da última BCE terminava na terça-feira à noite e, embora alguns pais tenham tido nesta quarta-feira boas notícias com a chegada de alguns professores, no horário afixado junto ao portão, continuam assinaladas aulas de substituição para turmas do 5.º, 6.º, 7.º e 9.º.

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A forma como este ano lectivo arrancou continua a espantar os pais. O prazo de aceitação para os docentes contratados através da última BCE terminava na terça-feira à noite e, embora alguns pais tenham tido nesta quarta-feira boas notícias com a chegada de alguns professores, no horário afixado junto ao portão, continuam assinaladas aulas de substituição para turmas do 5.º, 6.º, 7.º e 9.º.

O horário que continua a ser afixado chama-se Regime de funcionamento provisório com actividades lectivas, actividades de substituição e outras adequações aplicadas ao horário normal da turma. “Continuam a pôr os horários à porta, porque nem todas as turmas têm ainda todos os professores”, explica Ana Salsinha, 40 anos, gerente de uma frutaria e mãe de uma menina do 6.º ano. Ana Nunes acrescenta: “Constatei que hoje a minha filha já tinha os professores todos, mas ontem a directora de turma disse-me que ainda há turmas do 9.º ano sem professor de Matemática.”

Ana Sofia Oliveira, secretária de 38 anos e mãe de uma criança do 5.º ano, conta que, no final da semana passada, finalmente chegaram os professores de Ciências da Natureza e Matemática à turma da filha, continuando, porém, a faltar Educação Física. “Este arranque do ano lectivo foi péssimo”, lamenta, preocupada com o facto de a filha ter estado, durante quatro semanas, sem professor de Matemática. “É complicado, não deixa de ser uma disciplina base”, argumenta, acrescentando que, nesses furos, os miúdos iam para a biblioteca “fazer desenhos ou ler um livro”. A escola chegou mesmo a estar fechada a 6 de Outubro por causa dos problemas na colocação dos professores.

Compensações
A forma como se vai compensar os alunos pelas aulas perdidas preocupa os pais: “Dizem que vão repor as aulas, mas eu não acredito muito nisso”, lamenta Ana Salsinha. Pedro Cunha, informático de 36 anos, acrescenta: “O arranque deste ano lectivo foi mau. Só desde ontem é que a minha filha, no 5.º ano, teve Inglês e Ciências da Natureza. Têm de arranjar forma de compensar os alunos.” Ao lado, Manuel Neta, avô da Carolina (filha de Ana Nunes) questiona: "Como é que vão fazer essas aulas de substituição?"

Na terça-feira, o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, voltou a garantir que o ministério que tutela está a proceder ao levantamento dos alunos que perderam aulas e que a ideia é que cada escola defina os mecanismos apropriados para compensar os alunos e peça à tutela os recursos necessários. O governante disse ainda que se pretende que os estudantes cheguem aos exames com igual "treino" e "exposição às matérias".

A filha de Ana Salsinha, Daniela, 11 anos, está a despedir-se da mãe no portão da escola. Já tem, desde a semana passada, todos os professores, mas esteve 15 dias sem docente a Português e uma semana sem o de Inglês. A mãe lamenta a “instabilidade” causada pelos erros do ministério na ordenação dos docentes, que levou a que alguns tivessem sido colocados e, depois, excluídos: “Este ano lectivo começou tarde de mais, eles não sabiam se ia haver mudança de professores, se iam ficar, no caso da minha filha até acabaram por ficar. Mas nas primeiras semanas só tinha aulas de manhã. Só agora, desde segunda-feira, é que começou a ter aulas à tarde”, relata. Alguns pais dizem que a justificação para o facto de não ter havido, nas primeiras semanas, aulas e actividades à tarde, foi não só a falta de docentes, mas também de funcionários. “Esta escola tem um problema grave, faltam funcionários. E a presença de funcionários numa escola é fundamental”, diz Ana Nunes, contando que a filha se queixa, por exemplo, de casas-de-banho sujas.

Esta mãe faz, porém, questão de elogiar o director da escola: “Tem sido uma pessoa incansável, está a tentar resolver tudo, a falta de professores, de funcionários…” O PÚBLICO tentou ouvir o director da escola para saber quantos professores ainda faltam, mas o responsável transmitiu que, durante esta quarta-feira e por estar com uma grande carga de trabalho com a colocação de professores, não iria ter disponibilidade.