Bispos estão a propor alterações ao texto sobre gays e recasados
Pequenos grupos continuam a trabalhar até quinta-feira para dar contributos ao documento que resume a primeira semana do Sínodo.
Esta quarta-feira, na conferência de imprensa levada a cabo no Vaticano sobre o Sínodo, o cardeal espanhol Lluís Martínez Sistach, actual arcebispo de Barcelona; o monsenhor norte-americano Joseph Edward Kurtz, presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América; e o monsenhor italiano Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, juntaram-se para dar eco do que se passa nos seus grupos de trabalho.
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Esta quarta-feira, na conferência de imprensa levada a cabo no Vaticano sobre o Sínodo, o cardeal espanhol Lluís Martínez Sistach, actual arcebispo de Barcelona; o monsenhor norte-americano Joseph Edward Kurtz, presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América; e o monsenhor italiano Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, juntaram-se para dar eco do que se passa nos seus grupos de trabalho.
Foi com um sorriso que Kurtz declarou que, da parte do seu grupo, o trabalho estava terminado. O mesmo não se passou ainda com a maioria, uma vez que têm até quinta-feira para apresentarem propostas de alterações ao documento de trabalho que foi apresentado na segunda-feira pelo relator-geral do Sínodo, o cardeal Péter Erdo.
Este texto prevê alguma abertura por parte da Igreja aos homossexuais, aos casais que vivem em união de facto, mas também àqueles que se divorciaram e voltaram a casar. Sistach confessou aos jornalistas que os problemas que lhe pareciam ser do Ocidente europeu e dos países mais desenvolvidos economicamente são do mundo em geral. "A globalização chegou a toda a parte": casados, recasados, divorciados e uniões de facto também existem noutros continentes.
O arcebispo espanhol avançou que todos os pontos do documento foram discutidos no grupo de trabalho a que preside e que foram feitas emendas, "bastantes". Embora se trate de um texto síntese da primeira semana de Sínodo e feita com "bastante objectividade", "temos que o melhorar, não vamos modificá-lo, mas modificar conteúdos e apresentar conteúdos novos que não figuravam no texto", esclarece. As mudanças sugeridas são "sistemáticas". "Tivemos sempre em conta a dimensão pastoral, a realidade do mundo", refere.
Também Kurtz confirma que foram feitas "emendas" para "clarificar" o documento. O seu grupo – que tirou uma fotografia no final dos trabalhos, revelando a unidade e o respeito entre todos – propôs "melhorias e aprofundamento de diversos aspectos". Embora não levante o véu sobre as alterações propostas, o monsenhor norte-americano avança que o grupo pensou sempre "nas pessoas que sofrem", essas, "ficarão orgulhosas com a seriedade do trabalho que foi feito".
Fazer emendas exige "muita atenção", de modo a que estas reflictam a "fidelidade ao debate do grupo", explica Fisichella, que é relator de um grupo onde estão reunidos participantes do Médio Oriente, África e Europa do Leste, onde há "sensibilidades muito diferentes", confessa. O Sínodo favorece uma visão católica e universal, mas nos grupos há uma percepção da diversidade [da Igreja]", acrescenta o italiano.
Acompanhar as famílias
Questionados se os grupos foram pressionados por lobbies conservadores ou liberais da Igreja, o cardeal espanhol nega e lembra o que o Papa Francisco disse no primeiro dia dos trabalhos, para todos falarem com muita liberdade e que a usem para o bem da Igreja. Os textos que saírem será "a vontade de Deus e não dos grupos, para o bem da Igreja e da humanidade".
Os três responsáveis concordam que falta uma linha pastoral que acompanhe mais as famílias, antes ainda do casamento. Ou seja, cabe à Igreja apoiar os casais de namorados, formá-los – Fisichella considera que "há pouco conhecimento" sobre os métodos contraceptivos naturais, aqueles que a Igreja advoga e que é preciso introduzi-los na formação dos jovens; já Sistach cita João Paulo II para falar do "valor da consciência", dizendo que "esta é muito importante" –; continuar a acompanhá-los depois do casamento, quando surgem as primeiras dificuldades e apoiá-los quando os filhos nascem; e também quando o divórcio acontece.
Sobre se estes católicos divorciados devem ou não comungar, Kurtz é cuidadoso e começa por dizer que estas pessoas são benvindas à Igreja mas que é preciso um estudo cuidado e ter fundamentos teológicos para poder deixá-las receber a comunhão.
Quanto aos homossexuais, Sistach defende que estes merecem uma palavra da Igreja. Fisichella conta que no seu grupo se defende que o comportamento da Igreja deve ser de "acolhimento, compreensão e amor" quando há filhos de casais que são gays ou quando um casal homossexual pede à Igreja os sacramentos para os seus filhos. "Devem encontrar acolhimento sem condenação", diz. Kurtz revela-se mais cauteloso e defende que é preciso clarificar a noção destas pessoas serem benvindas e que é preciso fazer mais depois de o Sínodo ter terminado.
Na quinta-feira, o Vaticano fará nova conferência de imprensa. O porta-voz da Santa Sé, Frederico Lombardi, anunciou que um dos convidados é o cardeal austríaco Christoph Schönborn. Lombardi lembrou que estes encontros servem para dar a conhecer o caminho que os grupos estão a fazer.
No mesmo dia será conhecido um documento síntese, resultado do trabalho dos pequenos grupos.