Facebook e Apple pagam congelação de óvulos às funcionárias
Empresas alegam que pretendem ajudar as mulheres a criarem as suas famílias, mesmo que adiem a maternidade devido à carreira.
A Apple está disponível para assumir os custos do procedimento a partir de 1 de Janeiro do próximo ano, mas apenas para as suas funcionárias a trabalhar nos Estados Unidos. "Queremos dar poder às mulheres na Apple para fazerem o melhor trabalho das suas vidas enquanto cuidam dos seus entes queridos e criam as suas famílias", explicou a empresa num comunicado enviado à ABC News.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Apple está disponível para assumir os custos do procedimento a partir de 1 de Janeiro do próximo ano, mas apenas para as suas funcionárias a trabalhar nos Estados Unidos. "Queremos dar poder às mulheres na Apple para fazerem o melhor trabalho das suas vidas enquanto cuidam dos seus entes queridos e criam as suas famílias", explicou a empresa num comunicado enviado à ABC News.
A empresa de tecnologia californiana sublinha que esta decisão vem reforçar os benefícios que oferece às suas trabalhadoras, nomeadamente através do prolongamento da licença de maternidade e da criopreservação de ovócitos, como parte do seu apoio aos tratamentos de infertilidade. Além destas comparticipações, a Apple realça também que oferece um programa de assistência à adopção de crianças, com a empresa a reembolsar os funcionários pelas despesas inerentes ao processo.
O Facebook não prestou tantas explicações quanto ao apoio adicional que vai prestar às mulheres na sua equipa norte-americana, mas confirmou à ABC News que está a oferecer a congelação de óvulos às funcionárias que são abrangidas por um seguro suportado pela empresa, incluindo as mulheres e companheiras dos que trabalham na rede social, desde 1 de Janeiro de 2014.
Não é raro as empresas norte-americanas oferecerem benefícios pouco comuns aos seus trabalhadores. Para garantir que estão concentrados nas suas funções e a bem de uma produtividade sem oscilações, empresas como a Google, por exemplo, oferecem massagens aos funcionários, um serviço de lavandaria, cabeleireiro, refeições preparadas por chefs ou oficina para bicicletas. O Facebook e a Apple atribuem aos seus funcionários algumas condições semelhantes.
Pagar a criopreservação de ovócitos parece ser uma novidade, pelo menos entre as maiores empresas norte-americanas. O custo associado a este procedimento é elevado e no país ronda os 10 mil dólares (7900 euros), um valor que duplica quando é necessário repetir a colheita de ovócitos e proceder à sua congelação, o que acontece com alguma frequência. Além deste valor, é necessário pagar o armazenamento dos óvulos congelados, o que tem um custo mensal de cerca de 500 dólares (395 euros).
O Facebook já oferece uma comparticipação de 20 mil dólares (15.700 euros). A Apple paga o valor total do procedimento a partir do próximo ano.
A razão que suporta a decisão das suas empresas pode ser explicada com a tentativa de equilibrar os géneros no seu pessoal. Números avançados este ano pela Apple e Facebook indicam que cerca de 70% dos seus trabalhadores são homens. Há ainda a possibilidade de com medidas como esta se cativar mais mulheres e talentos femininos a pensarem em entrar no mercado de trabalho da área da tecnologia.
Por outro lado, surge também a questão se as empresas não estarão a exigir demasiada dedicação às suas funcionárias, ao adiarem a maternidade em benefício da companhia, ou se estas têm a responsabilidade de entregarem todos os esforços à entidade empregadora e deixar a família para um segundo plano.
Kellye Sheehan, da organização norte-americana Women in Technology, admitiu ao USA Today que este incentivo é positivo, nomeadamente para mulheres sem capacidade financeira, mas questiona se não se estará a pressionar a mulher a alterar as suas prioridades. “Concordo que as mães têm muito com o que lidar. Mas não podemos deixar o nosso empregador forçar-nos a algo que não corresponde aos nossos valores e escolhas pessoais”.
O professor da Escola de Direito de Harvard e especialista na relação entre a bioética e o direito, Glenn Cohen, também vê um lado positivo nas ofertas dadas pela Apple e Facebook: “As mulheres têm mais opções de escolha que não poderiam suportar de outra forma”. Mas Cohen alerta em declarações à ABC News que envia uma mensagem de que os “locais de trabalho podem não ser tolerantes com mulheres que decidem ter filhos enquanto estão empregadas e potencia que mais mulheres se submetam ao procedimento, que acarreta riscos", e pode ser não ser útil quando quiserem ser mães.