Cardeais reunidos em sínodo: texto sobre gays é só um documento de trabalho

Conferência de imprensa desta terça-feira feita com declarações cuidadosas face ao documento onde se refere a integração dos homossexuais e de casais recasados.

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Os cardeais e bispos estão reunidos no Vaticano GABRIEL BOUYS/AFP

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Na segunda-feira, o Sínodo de Bispos, que decorre no Vaticano, emitiu num comunicado que prevê algum tipo de integração dos homossexuais na Igreja Católica. Mas também propõe que se façam "escolhas pastorais corajosas" junto das "famílias feridas" pela separação ou pelo divórcio.

Na conferência de imprensa desta manhã, onde estiveram presentes os cardeais Wilfrid Fox Napier (sul-africano) e Fernando Filoni (italiano), o porta-voz do Vaticano começou por lembrar aos jornalistas que o documento é de trabalho e não é definitivo. "Repito, o documento é de trabalho e está a ser discutido em pequenos grupos de trabalho", disse, lendo um comunicado da secretaria do sínodo. Trata-se de um texto que "resume as intenções depois da primeira semana de trabalho".

Agora, os participantes estão reunidos em pequenos grupos a discutir precisamente esse documento de trabalho. "Estamos a trabalhar para apresentarmos ao Santo Padre o resultado final", explicou Filoni, que enalteceu a "riqueza do debate" e salvaguardou que o texto "não é uma ordem, como se tudo já estivesse definido". "Temos em mãos a riqueza de uma semana de intervenções", disse.

Por seu lado, Napier contou que no seu grupo de trabalho não se está a falar de contracepção, divórcio ou aborto, mas se está a reflectir sobre a família e se olha para esta como se olha para o dia: a manhã, onde tudo é esperança; a tarde, quando surgem as primeiras dificuldades; a noite, quando é preciso lidar com os problemas; e a manhã da ressurreição, quando se resolvem os problemas. "É assim que estamos a olhar no nosso grupo."

Polémica: a imprensa teve acesso primeiro ao documento?
Questionado pelos jornalistas, Napier reconheceu que não se revê em muitos dos pontos do documento e lamentou que aquele tivesse sido divulgado. "A mensagem que saiu foi: 'Isto é o que o sínodo disse, isto é o que a Igreja Católica disse' e não é verdade", declarou o sul-africano, confessando que faz parte de um grupo de participantes no sínodo que se mostraram insatisfeitos com o texto divulgado, embora o prelado admita que o documento reflecte o que se disse durante os encontros.

"Vocês tiveram o documento antes de nós", disse, dirigindo-se aos jornalistas e referindo que agora cabe aos grupos de trabalho gerir os "danos colaterais" da divulgação do documento. Napier ainda disse que este é um texto do cardeal Peter Erno, o relator-geral do sínodo. Contudo, questionado se aquele documento não deveria ser levado em conta, o cardeal sul-africano respondeu que "seria exagerado" e reconheceu que muito do que está escrito foi dito durante a semana que passou. "Mas há coisas que foram ditas por um indíviduo e que estão aqui como se fossem de todo o sínodo", salvaguardou.

Sem entrarem em diálogo mas respondendo apenas às perguntas dos jornalistas, Filoni reforçou que o documento é "fruto de uma longa análise" e uma recolha de todo o trabalho que foi feito.

Lombardi explicou aos jornalistas que a decisão de divulgar o documento foi da organização do sínodo e que, por exemplo, as conferências de imprensa com os diferentes relatores dos grupos de trabalho – a primeira decorreu esta terça-feira e na quarta haverá outra – é também uma novidade, de maneira a que se saiba como estão a decorrer os trabalhos. O porta-voz do Vaticano lembrou ainda que a organização informou todos os participantes que poderiam falar com a comunicação social e dar entrevistas ao longo dos trabalhos. No entanto, Frederico Lombardi sublinhou que nenhuma das declarações é reflexo do documento final, mas dos trabalhos em curso.

O relatório vai agora ser discutido, e só depois do fim do sínodo será divulgada uma versão definitva, que será discutida em todo o mundo, durante o ano que vem. Em Outubro de 2015 haverá um novo sínodo em Roma, onde haverá uma nova discussão, e no final de todo este processo será a vez de o Papa Francisco indicar o caminho a seguir, em termos de doutrina.