“Unhas Negras”: o punk são dois dias de festival em duas cidades
S. João da Madeira e Lisboa acolhem nesta sexta-feira e sábado as oito bandas de punk rock com que este festival se vai estrear
Chama-se Unhas Negras e é um festival punk dividido por duas cidades. S. João da Madeira e Lisboa acolhem nesta sexta-feira e sábado as oito bandas de punk rock com que este festival se vai estrear. Os austríacos Astpai, os espanhóis Bay City Killers (em estreia nacional) e os portugueses The Lazy Faithful são algumas das bandas bandas nacionais e estrangeiras que integram o cartaz.
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Chama-se Unhas Negras e é um festival punk dividido por duas cidades. S. João da Madeira e Lisboa acolhem nesta sexta-feira e sábado as oito bandas de punk rock com que este festival se vai estrear. Os austríacos Astpai, os espanhóis Bay City Killers (em estreia nacional) e os portugueses The Lazy Faithful são algumas das bandas bandas nacionais e estrangeiras que integram o cartaz.
"Há muito público em Portugal para este género de música, que envolve uma certa cultura contracorrente", começa por dizer, em declarações à Lusa, Luís Campos, coordenador do evento, lamentando que estes eventos se destinem a "pequenos nichos" e que, assim passem "um bocado à margem da Comunicação Social".
"O objectivo deste festival é, precisamente, tornar-se uma plataforma de divulgação desta cultura e permitir a sua celebração por este público específico, num espaço próprio", acrescenta. Na sua primeira edição, o festival Unhas Negras apresenta cinco bandas, esta sexta-feira, na sala dos Fornos da Oliva Creative Factory, em S. João da Madeira, e três grupos, no sábado, no espaço Fantasma, no Cais do Sodré, em Lisboa.
Anos 70
O primeiro dia faz-se com as actuações de Bay Citty Killers, Despite Everything, Astpai, The Lazy Faithful e The Idyll's End, enquanto o segundo fica reservado para Jackie D, Flaming Joseph e Selfish. Luís Campos explica que todos esses artistas são expressões de "uma cultura pop, que nasceu nos anos 70 como contracorrente de contestação política e social, e se traduziu depois numa moda muito associada ao negro, às correntes [de metal] e às cristas [de cabelo]". Entretanto, o punk rock "foi-se ligeiramente adaptando ao longo dos anos, sendo que na década de 90, sobretudo na costa Leste dos Estados Unidos, ficou também muito associado ao 'skate', ao 'surf', aos cabelos coloridos".
A expressão unhas negras combina com o estilo de indumentária tipicamente associada a esse movimento. Neste caso específico, a expressão reflecte também o contexto histórico de S. João da Madeira enquanto antigo pólo industrial da chapelaria: "Unhas Negras" é o nome do romance mais marcante de João da Silva Correia, escritor e jornalista ali nascido, no qual se aborda o começo da industialização da cidade nos primeiros anos do século XX.
O nome deve-se ao facto de a impermeabilização do feltro dos chapéus obrigar à sua imersão numa solução com doses elevadas de mercúrio, pelo que os operários responsáveis por essa tarefa facilmente se distinguiam pelo constante tom negro das suas unhas. Por isso mesmo, a primeira edição do festival arranca com uma homenagem aos antigos chapeleiros de S. João da Madeira, logo às 18h00 de sexta-feira, antes do concerto dos Bay City Killers.
Outro homenageado será João Ribas, que Luís Campos aponta como "um dos nomes incontornáveis da cena punk nacional". O programa paralelo do evento integra também a apresentação do livro "A Instável Leveza do Rock", da autoria de Paula Guerra, reconhecida como "a principal investigadora do movimento punk em Portugal".
Em diferentes momentos ao longo do festival, haverá ainda sessões de "punk acústico" por Zock Astpai e Joe Orson e a exibição do filme "The Art of Punk - Black Flag", projectado com o apoio do MOCAtv, o canal de YouTube do Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles.