Zeinal Bava deixa a presidência da Oi
Na nova Oi, nem os accionistas relevantes, nem a gestão serão portugueses.
A renúncia de Zeinal Bava surge também na mesma altura em que se sabe que o fundo francês Altice, que detém em Portugal a Cabovisão e a Oni, está em negociações com os accionistas da Oi para comprar a PT.
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A renúncia de Zeinal Bava surge também na mesma altura em que se sabe que o fundo francês Altice, que detém em Portugal a Cabovisão e a Oni, está em negociações com os accionistas da Oi para comprar a PT.
Bava – que foi um dos rostos da fusão entre a Oi e a Portugal Telecom e foi apontado como o homem certo para fazer da Oi uma empresa moderna, rentável e capaz de disputar a liderança do mercado de telecomunicações brasileiro – deixa a empresa num momento em que estão em cima da mesa vários cenários de consolidação, em que a Oi pode comprar ou ser comprada (fala-se na possibilidade uma compra da TIM pela Oi, de uma fusão entre esta e a Oi, ou mesmo de a TIM comprar a Oi).
Deixa uma empresa largamente endividada (mais de 14 mil milhões de euros), que falhou recentemente o leilão de licenças de quarta geração por falta de capacidade financeira, mas deixa também uma empresa com bons activos disponíveis para venda: a PT Portugal e os negócios da PT em África, incluindo a participação na empresa angolana Unitel.
O tempo do grande operador luso-brasileiro já acabou. Na nova Oi, nem os accionistas relevantes, nem a gestão serão portugueses. A fusão ainda não foi oficializada (a alteração de termos forçada pelos investimentos de 900 milhões de euros na Rioforte obrigaram a uma reavaliação pelos reguladores), mas os activos da PT foram transferidos em Maio para a Oi, pelo que competirá à nova gestão decidir o que faz com os negócios e participações em empresas que eram do antigo grupo PT.
Como herança portuguesa na Oi ficam ainda o know-how e a capacidade tecnológica que a PT transferiu para a Oi, para que esta pudesse transformar-se numa operadora de telecomunicações com serviços convergentes.
Bayard De Paoli Gontijo, que era responsável pelas Relações com Investidores da empresa e passou a administrador financeiro quando Bava chegou, há mais de um ano, assumirá interinamente a presidência da Oi, até à escolha de um novo gestor.
No Verão, já depois de conhecido o investimento na Rioforte, ficou evidente o esforço de separação de águas de Zeinal Bava relativamente à gestão da empresa em Portugal, com o argumento de que estava afastado da empresa há mais de um ano e transferindo as responsabilidades pelas decisões para a esfera da liderança de Henrique Granadeiro. Em declarações à Reuters a 4 de Agosto, Bava explicava que abandonava a presidência da PT Portugal de modo a dedicar-se em exclusivo à nova PT/Oi, que deveria ser gerida “como uma multinacional”.
Três dias depois, e após várias semanas debaixo de fogo devido às aplicações financeiras na Rioforte, foi a vez de Henrique Granadeiro se demitir da presidência da PT SGPS, com uma carta de demissão em que afirmava que não assumia “os encargos e responsabilidades de outros”. Como o PÚBLICO noticiou na terça-feira, uma auditoria interna da PT arrasou em Julho a gestão de Bava e Granadeiro.
Os dois gestores, que foram durante anos a imagem da PT, ficarão agora associados ao processo que fez com que a empresa deixasse de ser um operador de telecomunicações relevante com negócios em Portugal, África e Brasil, para se tornar numa subsidiária de uma empresa brasileira, à beira de mudar de mãos.
Zeinal Bava, de 48 anos, nasceu em Moçambique e destacou-se nos últimos anos como um gestor de topo em Portugal. Ambicioso, pragmático, imparável são algumas das palavras mais utilizadas para o descrever.