Hong Kong: a “Central” estava vazia
A paisagem típica dos últimos dias não foi do trânsito a cruzar os arranha-céus, mas sim de turistas, de pessoas comuns, a caminhar em plena estrada, criando uma imagem pitoresca daquela que é uma das cidades mais desenvolvidas e com maior densidade populacional do mundo
Como são os protestos de Hong Kong aos olhos de um turista? Bem mais diferentes do que aquilo que se poderia esperar. Os restaurantes estavam cheios, o trânsito semi-caótico e as ruas extremamente movimentadas, sobretudo devido à celebração do feriado nacional chinês que levou entre 500 mil a um milhão de turistas à cidade. À primeira vista, nada de anormal acontecia.
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Como são os protestos de Hong Kong aos olhos de um turista? Bem mais diferentes do que aquilo que se poderia esperar. Os restaurantes estavam cheios, o trânsito semi-caótico e as ruas extremamente movimentadas, sobretudo devido à celebração do feriado nacional chinês que levou entre 500 mil a um milhão de turistas à cidade. À primeira vista, nada de anormal acontecia.
O primeiro impacto passou-se já largas horas depois de termos chegado, quando passávamos pelo centro financeiro de Hong Kong e notámos em algumas vedações a impedir o trânsito. Do outro lado, no entanto, a rua não estava cheia de manifestantes, estava apenas vazia. A paisagem típica dos últimos dias não foi do trânsito a cruzar os arranha-céus, mas sim de turistas, de pessoas comuns, a caminhar em plena estrada, criando uma imagem pitoresca daquela que é uma das cidades mais desenvolvidas e com maior densidade populacional do mundo.
As ocupações dos protestantes nestas ruas eram quase pequenas ilhas, com tendas de estudantes a dormir, marcando a sua zona de protesto até na hora de descanso. Depois, mensagens de apoio, barracas com mantimentos, água e outras ofertas simbólicas aos estudantes. Guarda-chuvas eram o símbolo e, como símbolo, repousavam nos locais mais visíveis e emblemáticos. Houve problemas pontuais nas manifestações durante a nossa estadia, mas nada que um turista não conseguisse evitar sem qualquer dificuldade. Facto com o qual a comunicação social chinesa e a televisão estatal de Hong Kong parecem não concodar ou mesmo omitir.
No entanto, também a comunicação social ocidental parace omitir que os protestos em Hong Kong são bem mais do que a interminável busca, e impossibilidade, de obter democracia. Quando os estudantes gritam por democracia essa é a história para muitos, mas a verdadeira história é a razão pela qual os estudantes gritam por democracia. A razão é pura e simplesmente o facto de os protestantes não quererem que o caminho da região convirja com o caminho traçado por Pequim. Para os ocidentais, a ambição pela democracia é quase como um percurso natural da história e da civilização, mas em Hong Kong a democracia não surge como símbolo máximo de liberdade, antes como oposição às políticas da China Continental.
O que vai acontecer nos próximos dias, ou mesmo nos próximos meses? Em príncipio nada de mais. Houve e haverá erros na forma como os protestos vão ser tratados, alguns inevitáveis, outros nem tantos, mas a violência é definitivamente algo que não se espera nem da polícia nem dos habitantes de Hong Kong. Todavia esta fricção entre o povo de Hong Kong e o governo chinês continuará a existir, porque Pequim não se vai dar ao luxo de perder o controlo da sua cidade mais importante do Sul da China. O que há a entender neste ponto é que a China não tolera perder as suas regiões. A civilização chinesa é uma história contínua de crescimento populacional, geográfico e cultural ao longo de mais de dois mil anos. Como é que isto se consegue? Houve altos e baixos ao longo da história, mas a longo prazo simplesmente nunca se perdeu o controlo.