O Interior à procura de uma saída, que ajude também o país

II Forum do Interior realiza-se a 7 e 8 de Novembro em Vila Real. Organização recebe estudos e comunicações até 15 de Outubro.

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No final do século, a parte do país a que chamamos Interior pode perder 75% da sua população actual Manuel Roberto

A estimativa, só relativamente assustadora, foi avançada no âmbito do projecto Demospin, que envolveu várias universidades e politécnicos e foi coordenado por Anselmo Castro, da Universidade de Aveiro. Este abrirá o segundo Forum do Interior com uma intervenção sobre Política Económica e Demográfica para o Interior, seguindo o rasto desse trabalho académico que foi notícia, no ano passado, ao avisar-nos que, num horizonte mais largo, o de 2100, a parte do país a que chamamos Interior, pode perder 75% da sua população actual.

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A estimativa, só relativamente assustadora, foi avançada no âmbito do projecto Demospin, que envolveu várias universidades e politécnicos e foi coordenado por Anselmo Castro, da Universidade de Aveiro. Este abrirá o segundo Forum do Interior com uma intervenção sobre Política Económica e Demográfica para o Interior, seguindo o rasto desse trabalho académico que foi notícia, no ano passado, ao avisar-nos que, num horizonte mais largo, o de 2100, a parte do país a que chamamos Interior, pode perder 75% da sua população actual.

A demografia é um dos aspectos do contexto. O outro, politicamente justificado com o primeiro, é a reorganização de serviços do Estado, na saúde, na educação, por exemplo, que para Frederico Reis, da Animar, para além de piorar as condições de quem ainda vive no interior, torna as zonas do país afectadas por estas reformas menos atractivas para quem vive no litoral. O que, para este dirigente associativo, é “um contra-senso”, tendo em conta que o futuro da faixa a leste dos 50 km da costa será muito sombrio se não conseguir inverter o seu declínio demográfico.

O reitor da UTAD, Fontainhas Fernandes, avisa que este tem de ser tratado não como um problema do interior, mas do país, como o défice ou o envelhecimento da população, que é geral. E considera urgente que os decisores que ainda permanecem nos territórios de baixa densidade (o novo nome do interior, que, no litoral alentejano, pode, nesta acepção, até chegar à praia) mudem o discurso do “coitadinho”, e se concentrem no que é, de facto, essencial: levar a cabo políticas públicas que facilitem a instalação de novos negócios, geradores de emprego, sem os quais, avisa, ninguém dará um passo para se mudar. E, nesse aspecto, até considera que tem havido mudanças na forma como os autarcas – que nunca procuraram tanto a UTAD como agora – olham para este desafio.

Fontainhas Fernandes insiste que estes territórios de pouca gente têm um elevado potencial para a resolução de um dos défices da balança comercial portuguesa, a da área do agro-alimentar. Há pequenos exemplos – e ele lembra o do Vale do Sorraia, que, ao especializar-se na produção de tomate, ajudou o país a tornar-se num dos maiores exportadores mundiais deste produto e, acima de tudo, num dos mais produtivos, só atrás da Califórnia. Outros produtos há – e o reitor assinala os casos da maçã, no Douro Sul, da carne, do leite e de laticínios como o queijo, onde considera haver muito por fazer – cuja produção ou transformação poderiam ter impactos muito positivos em zonas deprimidas.

Frederico Reis concorda que é necessário mudar o discurso, mas acredita, pela sua experiência no terreno, que isso não chega. No litoral ainda há muito quem olhe para o resto do país pela grelha do “folclore”, não percebendo, por exemplo, que o nível de equipamentos existentes – nas acessibilidades rodoviárias e nas redes de telecomunicações, por exemplo – permite desenvolver qualquer tipo de actividade, até para um mercado global, a partir de uma vila do interior. “O interior tem muito potencial, mas é preciso uma mudança efectiva de política e de cultura”, assinala este dirigente da Animar.

É nesta perspectiva, a de contribuir para uma mudança na forma como o país olha para esta parte de si mesmo, que nos dias 7 e 8 de Novembro vários académicos e outros agentes se reunirão na UTAD, no segundo Forum do Interior. Em debate vão estar temas como a da participação das populações nos processos de decisão (Manuel Sarmento, Universidade do Minho), a importância da agricultura familiar para a sustentabilidade dos territórios (Vítor Barros, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária) e, claro, a questão da importância dos serviços públicos para a humanização dos territórios (tema de uma das mesas sectoriais, a desenvolver pelo autarca de Lamego, Francisco Lopes).

A organização admite ainda fazer integrar nas várias mesas intervenções de outros participantes que, até 15 de Outubro, enviem comunicações, ou estudos realizados nas várias áreas em debate (ver programa em http://www.animar-dl.pt/index/agenda/ii_forum).

Na abertura dos trabalhos estará presente o ministro-adjunto Miguel Poiares Maduro, que tem a pasta do Desenvolvimento Regional e que, ainda há poucos dias, em Aljezur, no Algarve, afirmava que o Governo vai reforçar o "investimento público e favorecer o privado com as regras que estão no Código Fiscal de Investimento" nos territórios de baixa densidade populacional, de forma a "trazer actividade e crescimento económico, emprego e dinamismo social".

Os próximos anos, e a aplicação dos fundos do Portugal 2020, permitirão dizer quão próximo estará este discurso da realidade.