FireChat, a aplicação das revoluções

App já tinha sido utilizada por activistas em acções de protesto noutros países e agora volta a ser protagonista em Hong Kong, face às limitações impostas por Pequim.

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A resposta das autoridades chinesas foi quase imediata: redes sociais e sites informativos foram censurados e o acesso à Internet limitado.

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A resposta das autoridades chinesas foi quase imediata: redes sociais e sites informativos foram censurados e o acesso à Internet limitado.

De mãos atadas para revelar aquilo que Pequim não quer mostrar, os manifestantes contornaram a falta de rede móvel com uma simples aplicação e esta resultou. Chama-se FireChat e foi criada em Março deste ano pela Open Garden, uma empresa de São Francisco, EUA. A FireChat serve para manter conversações mesmo que não haja ligação à Internet. Gratuita e disponível para o iOS 7 e 8 e para Android, a aplicação usa as comunicações por wi-fi e Bluetooth do smartphone para criar uma rede até uma distância de cerca de 70 metros entre aparelhos móveis. A FireChat usa qualquer sinal que um telemóvel ou rede sem fios tenham e permite conversações peer-to-peer. Segundo a Open Garden, a aplicação permite que dez mil pessoas se agrupem desta forma.

Em Hong Kong, esta tem sido a alternativa usada pelos manifestantes para manterem o contacto e se organizarem. Números da Open Garden, citados pelo South China Morning Post, indicam que em apenas 24 horas desde a tarde do último domingo, a FireChat foi descarregada 100 mil vezes por utilizadores, sendo que na noite de domingo 33 mil aparelhos móveis estavam a usar a aplicação em simultâneo.

A facilidade de comunicar através da aplicação apresenta, no entanto, riscos para a segurança online do utilizador. É o próprio vice-presidente do departamento de vendas e marketing da Open Garden que o admite, em declarações à revista Wired. “As pessoas têm de entender que esta não é uma ferramenta para comunicar coisas que as coloquem numa situação de perigo, caso seja descoberto por alguém hostil”, observou o responsável, reforçando que a FireChat nunca teve a intenção de garantir “conversações seguras e privadas”, já que os dados não são encriptados.

Nos últimos dias, alguns dos organizadores dos protestos e líderes estudantis têm apelado a que a aplicação seja descarregada, principalmente depois de surgirem rumores de que as autoridades chinesas estavam a controlar as redes móveis e alguns dos manifestantes terem afirmado que tinham falhas de ligação constantes.

Kyle Hui, 19 anos, estudante da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, confirmou ao The New York Times a utilidade que a aplicação tem tido. “Os manifestantes estão a usá-la para, por exemplo, pedir mais mantimentos ou para anunciar tácticas de protesto”. Mas Kyle diz que se torna impossível de seguir a torrente de mensagens que são enviadas. “Algumas vezes recebo mais de mil mensagens apenas numa hora, por isso é impossível manter-me actualizado”. A facilidade de espalhar informações mas também rumores tem os seus prós e contras, continua. Entre as informações que foram partilhadas e que Kyle considera que não passam de rumores estava a indicação de que o Exército da Libertação do Povo ia enviar tanques e veículos armados para os locais dos protestos.

Esta não é a primeira vez que a FireChat é utilizada em situações de protesto. Em Março, pouco depois do lançamento da aplicação, um movimento estudantil usou-a para organizar protestos em Taiwan contra o retomar do diálogo daquele país com a China, um momento histórico para a relação entre os dois Estados.

O New York Times lembra que, em Maio, a Open Garden registou um número anormal de acessos à aplicação vindos do Irão, depois de as autoridades do país terem bloqueado as entradas no Instagram e no WhatsApp. Um mês depois, foi a vez dos iraquianos recorreram à FireChat após um bloqueio governamental a sites noticiosos.

O uso da tecnologia em momentos de revolta popular tem vindo a crescer nos últimos anos. Seja através das redes sociais ou blogues, o uso de smartphones, tablets e computadores pessoais para “passar a palavra” a nível local e internacional. Os manifestantes e activistas, na sua maioria jovens, estão a recorrer à Internet para relatar a história que está a ser feita. Isso verificou-se nas revoluções árabes, por exemplo. No Egipto, nas enormes manifestações na praça Tahrir, em 2011, contra o regime de Hosni Mubarak, imagens e comentários sobre a violência da polícia e as acções de protesto cresceram de dia para dia, levando para a rua cada vez mais indignados. O mesmo se passou na Líbia e mais recentemente no Brasil, Síria e na Faixa de Gaza.