Director do Programa de Saúde Mental critica falta de internamento em pedopsiquiatria na Região Centro
Entre 2008 e 2013 o número de jovens a frequentar consultas de psiquiatria nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde aumentou 23% e o número de novas consultas disparou em 30%, mas a abertura das urgências e a criação de internamento em Coimbra continuam a ser adiadas. "Uma situação inaudita", diz o director do Programa Nacional para a Saúde Mental.
Álvaro Carvalho reagiu assim à intervenção do director de serviço de pedopsiquiatria do HPC, José Garrido, que, ao intervir no seminário sobre a prevenção do suicídio juvenil, que decorreu em Coimbra, considerou “chocante” que para uma população de 300 mil pessoas com menos de 18 anos, na Região Centro, não exista “uma urgência” ou “uma cama” naquela área. “Nem sequer gastamos muito dinheiro: não fazemos exames dispendiosos, não utilizamos medicamentos caríssimos e mesmo em relação às nossas horas de trabalho… enfim, ganhamos cada vez menos, também não é por aí...”, ironizou.
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Álvaro Carvalho reagiu assim à intervenção do director de serviço de pedopsiquiatria do HPC, José Garrido, que, ao intervir no seminário sobre a prevenção do suicídio juvenil, que decorreu em Coimbra, considerou “chocante” que para uma população de 300 mil pessoas com menos de 18 anos, na Região Centro, não exista “uma urgência” ou “uma cama” naquela área. “Nem sequer gastamos muito dinheiro: não fazemos exames dispendiosos, não utilizamos medicamentos caríssimos e mesmo em relação às nossas horas de trabalho… enfim, ganhamos cada vez menos, também não é por aí...”, ironizou.
A falta de camas para internamento na área da Saúde Mental da Infância e Adolescência (só existem 20, dez em Lisboa e dez no Porto) foi um dos problemas detectados no último Relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde. Isto num quadro de aumento da procura, como revelava na altura um estudo publicado na revista científica internacional The Lancet, segundo o qual entre 2008 e 2013 o número de jovens a frequentar consultas de psiquiatria nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde aumentou 23% e o número de novas consultas disparou em 30%.
No seminário sobre prevenção do suicídio, esta quarta-feira, Álvaro Carvalho frisou que a falta de pedopsiquiatras para assegurarem as urgências no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, foi ultrapassada “há cinco ou seis meses”, com a criação de uma pool de especialistas de hospitais da região, que passaram a trabalhar algumas horas naquele serviço.
“O internamento em Coimbra seria importantíssimo também para ultrapassar a falta de especialistas – passaríamos a ter mais um centro com capacidade formativa total na área da psiquiatria da infância e da juventude”, frisou.
Em resposta a questões colocadas pelo PÚBLICO, o presidente da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), José Tereso, frisou que “a decisão de criar o internamento está tomada há anos” e que “o secretário de Estado-adjunto do ministro da Saúde já expressou a sua necessidade absoluta”. “O secretário de Estado não coloca dificuldades, pelo contrário, ele pergunta é: ‘quando?’”, disse José Tereso, que concordou que a solução encontrada para as urgências do D. Estefânia “pode ser aplicada na região, desde que se assegure que não se desguarnecem outras frentes”.
"Há questões legais e burocráticas que se levantam, mas a aplicação desse sistema em Lisboa facilita-nos o caminho”, comentou.
José Tereso afirmou que a decisão final cabe ao CHUC. Álvaro Carvalho apelou "às forças vivas da região" que se mobilizem em torno daquele projecto.
Na tarde de quarta-feira, o PÚBLICO pediu esclarecimentos sobre este assunto ao conselho de administração daquele centro hospitalar. Até ao momento não obteve resposta.
No seminário sobre o projecto de prevenção do suicídio + Contigo, vários especialistas referiram que a taxa de suicídio entre os adolescentes portugueses não tem vindo aumentar, mas os comportamentos autolesivos, como a intoxicação medicamentosa, sim.
O projecto + Contigo, que resulta de uma parceria entre a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, visa, precisamente, promover a capacidade de resolução de problemas, o reforço da auto-estima e o combate ao estigma em saúde mental. Segundo dados divulgados esta quarta-feira, dos 1218 adolescentes da Região Centro que no último ano lectivo participaram no projecto, mais de um quarto (27,2%) “apresentou sintomatologia depressiva (de leve a agrave) que diminuiu no decurso das intervenções do programa”, em que participam profissionais de saúde, professores e encarregados de educação.