Na quarta-feira morreram 259 pessoas em Portugal
Portugal tem desde quinta-feira um sistema electrónico com dados das mortes em tempo real para ajudar detectar e intervir "em crises de saúde pública".
O sistema eVM-Vigilância de Mortalidade foi apresentado esta quinta-feira no Congresso Nacional de Saúde Pública, que decorreu em Lisboa e vem permitir saber em cada óbito que se verifica em Portugal “onde, como e como ocorreu”, explicou o director-geral da Saúde, Francisco George.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O sistema eVM-Vigilância de Mortalidade foi apresentado esta quinta-feira no Congresso Nacional de Saúde Pública, que decorreu em Lisboa e vem permitir saber em cada óbito que se verifica em Portugal “onde, como e como ocorreu”, explicou o director-geral da Saúde, Francisco George.
O sistema tem dados desde 1 de Janeiro de 2014, quando entrou em funcionamento o novo registo de certificados de óbito – Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO). A ferramenta online permite a qualquer pessoa saber alguma das causas das mortes, como acidentes de trânsito ou de trabalho, suicídios, homicídios ou causas naturais; mas os dados concretos que envolvem as mortes (local, identidade, nome dos médicos que assinam o documento) só são acessíveis a médicos do centro de análise da Direcção-Geral de Saúde (DGS).
Cátia Sousa Pinto, chefe de divisão de epidemiologia e vigilância da DGS, explicou que o sistema permite às autoridades de saúde “iniciar uma intervenção rápida” caso venha a ser necessário, como em situações como ondas de calor ou outros fenómenos climáticos extremos; na vigilância da gripe ou, caso surjam mortes por doenças menos vulgares em Portugal, como a cólera. “É possível detectar e inciar a investigação rápida”. “Permite-nos em tempo real ver o impacto das épocas gripais na mortalidade, por exemplo. E permite-nos perceber se está a morrer-se mais ou menos em Portugal”, indicou a especialista em saúde pública. Através deste sistema electrónico é ainda possível acompanhar a mortalidade perinatal (em bebés até aos 28 dias de vida).
Morrer no Inverno
A evolução da mortalidade em Portugal foi tema de muitos trabalhos apresentados no congresso. Um deles investigou a sazonalidade da morte.
É um dado comum a muitos países do hemisfério Norte: grande parte da mortalidade acontece nos meses de Inverno e as mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC) não escapam à regra, explica Baltazar Nunes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Pública Ricardo Jorge. Mas esta concentração das mortes nos meses frios no caso desta patologia – que continua a ser uma das principais causas de morte no país – está a diminuir em Portugal, disse o investigador, revelando dados preliminares do estudo O risco de morrer por doença crónica em Portugal de 1980 a 2012: tendência e padrões de sazonalidade.
“O risco de morrer é maior no Inverno do que nos meses de Verão”, como se percebe pensando que um doente crónico está mais frágil no período do ano em que mais circula o vírus da gripe e são mais frequentes as infecções respiratórias. Mas este risco de morrer no Inverno tem vindo a diminuir em Portugal no que diz respeito ao AVC.
O investigador comparou a mortalidade por esta doença nos meses de Janeiro e Setembro, desde a década de 1980 até 2012. Enquanto que na década de 1980 cerca de 70% das mortes por AVC eram no Inverno, essa proporção desceu para 50% entre 2005 e 2012. As causas desta mudança não estão estudadas mas podem ser atribuídas “a um maior grau de protecção da população em relação a situações extremas”, melhores condições de habitação, mas também a uma maior taxa de cobertura vacinal da população com mais de 65 anos (que anda actualmente nos 50%), face a 35% no último ano em que há esse dado, em 1998, explica Baltazar Nunes.
Notícia corrigida às 10h04 de dia 3/10/2014. Os dados correspondem ao dia de quarta-feira e não a segunda-feira.