A revolução pacífica de Hong Kong promete continuar
Polícia antimotim deixou as ruas, mas dezenas de milhares de pessoas continuam a exigir verdadeiras reformas democráticas.
Nas imediações da sede do governo local encontravam-se cerca de 20 mil pessoas durante a tarde desta segunda-feira, com a perspectiva de que mais manifestantes se pudessem juntar ao fim do dia e durante a noite, de acordo com a AFP. Ao início do dia, o governo tinha anunciado a retirada das forças antimotim, sugerindo a desocupação das ruas para que a circulação fosse retomada. A polícia recuou, mas os líderes dos principais movimentos de protesto apelaram à permanência das pessoas nas ruas de forma pacífica.
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Nas imediações da sede do governo local encontravam-se cerca de 20 mil pessoas durante a tarde desta segunda-feira, com a perspectiva de que mais manifestantes se pudessem juntar ao fim do dia e durante a noite, de acordo com a AFP. Ao início do dia, o governo tinha anunciado a retirada das forças antimotim, sugerindo a desocupação das ruas para que a circulação fosse retomada. A polícia recuou, mas os líderes dos principais movimentos de protesto apelaram à permanência das pessoas nas ruas de forma pacífica.
O pacifismo tem sido, de facto, uma marca da já chamada “Revolução dos Guarda-Chuvas” – assim denominada por causa dos manifestantes que utilizaram os guarda-chuvas para se protegerem do gás-pimenta lançado pela polícia. Os correspondentes em Hong Kong destacam o civismo dos manifestantes, que deixam pedidos de desculpa junto de carros danificados, distribuem água e comida gratuitamente e reciclam o lixo que fazem. Ainda assim, os confrontos provocaram 41 feridos, entre os quais alguns agentes policiais, e foram feitas 78 detenções.
Mas à cortesia, aqueles que protestam juntam a tenacidade, prometendo continuar a ocupar o centro político do território autónomo chinês. A reivindicação mais premente é a demissão do impopular chefe de governo, Leung Chun-ying, que dizem ser uma marioneta do Partido Comunista Chinês. Mas o objectivo primordial é a promoção de verdadeiras reformas democráticas em Hong Kong.
No final de Agosto, o Governo de Pequim anunciou a instauração de eleições universais para a escolha do líder do executivo de Hong Kong – marcadas para 2017. No entanto, apenas os candidatos previamente aprovados por um comité podem participar, limitando a escolha a figuras próximas do regime de Pequim. O movimento pró-democracia Occupy Central anunciou uma acção de protesto para o dia 1 de Outubro, que assinala o 65.º aniversário da fundação da República Popular da China. Porém, o processo foi acelerado no último fim-de-semana, com a ocupação de parte do centro administrativo de Hong Kong por movimentos estudantis.
China avisa contra interferências
Pequim tem tentado impedir ao máximo a circulação de notícias sobre o protesto no seu território. O Diário do Povo, o jornal oficial do PCC, não escreveu qualquer linha sobre os acontecimentos de Hong Kong, à semelhança da agência estatal Xinhua e do canal televisivo CCTV. No mesmo sentido, o programa de partilha de fotografias Instagram foi bloqueado e várias palavras-chave na rede social Weibo foram banidas.
Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, considerou os protestos como “actos ilegais que prejudicam o Estado de direito e a segurança pública”. E também deixou um recado para o exterior: “Espero que outros países não interfiram nos assuntos de Hong Kong, não apoiem as actividades ilegais do Occupy Central e não mandem a mensagem errada.”
O aviso do Governo chinês não coibiu os EUA de pronunciarem o seu apoio às “aspirações do povo de Hong Kong”. “Acreditamos que a legitimidade básica do chefe executivo de Hong Kong será aumentada se o objectivo último da lei básica sobre a selecção do chefe executivo por sufrágio universal for alcançada”, disse o porta-voz da Casa Branca, John Earnest.
Apesar da grande adesão popular, o apoio aos protestos não é partilhado por toda a população de Hong Kong. A AFP relatou alguns confrontos entre activistas e grupos de pessoas que estão contra as manifestações. Para além das associações pró-governamentais – que em Agosto organizaram uma acção de apoio às reformas com vários milhares de pessoas, apesar de notícias de que muitas terão sido pagas, - há também descontentamento por parte da poderosa elite financeira, que receia o impacto económico negativo que possa advir. A continuação dos protestos populares naquela que é uma das praças financeiras mais importantes do mundo – o sexto maior mercado bolsista – levou ao fecho das bolsas asiáticas em terreno negativo nesta segunda-feira. O índice Dow Jones abriu igualmente no vermelho e as bolsas europeias também estavam em baixo, de acordo com a Reuters.