Pode o design salvar ou destruir uma empresa? Depende da porta que se abra

Três designers e um gestor de marketing de São João da Madeira abrem o coração e partilham experiências. Rosário Costa, directora de Design da Lego, avisa que o design tem “muita força”.

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Rosário Costa, directora de Design da Lego, diz que “os designers também precisam de ser estimulados” Adriano Miranda

Rosário Costa conhece bem os cantos à casa que emprega quase 14.000 trabalhadores. Dá conferências em várias partes do mundo sobre a empresa que mantém o segredo daquele clique que se escuta quando duas peças Lego se encaixam e que garante a qualidade do produto. O papel dos designers não escapa nas suas intervenções. São mais de 180 na Lego. “O design tem muita força na empresa. Devido ao investimento no design, a Lego teve um crescimento consecutivo nos últimos nove anos”, revelou. E quem cria precisa de motivação, de ambientes estimulantes. “Os designers também precisam de ser estimulados. É preciso investir na educação do design para perceber o processo da empresa, mas a empresa também tem de se adaptar”.

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Rosário Costa conhece bem os cantos à casa que emprega quase 14.000 trabalhadores. Dá conferências em várias partes do mundo sobre a empresa que mantém o segredo daquele clique que se escuta quando duas peças Lego se encaixam e que garante a qualidade do produto. O papel dos designers não escapa nas suas intervenções. São mais de 180 na Lego. “O design tem muita força na empresa. Devido ao investimento no design, a Lego teve um crescimento consecutivo nos últimos nove anos”, revelou. E quem cria precisa de motivação, de ambientes estimulantes. “Os designers também precisam de ser estimulados. É preciso investir na educação do design para perceber o processo da empresa, mas a empresa também tem de se adaptar”.

O que nem sempre acontece. A designer Joana Santos bateu à porta de cerca de 20 empresas com uma marca de mobiliário na mão. Andou por Paços de Ferreira, por Paredes. “A ideia era envolver o fabricante nos protótipos e na comercialização”. Não resultou. “Ninguém nos abriu as portas”, lembra. Com o colega Hugo Silva, também designer, criou a marca DAM. A dupla deu-se bem. No ano passado, as mesinhas de cabeceira com chapéu de palha, o Nel e Maria, venceram, na sua categoria, a edição dos POP – Projectos Originais Portugueses de Serralves. Este ano, a DAM voltou a vencer o mesmo concurso com o Pipo, um pequeno banco ou uma mesa de apoio de cortiça, e que este mês esteve numa feira em Londres.

A criatividade e a viabilidade comercial dos produtos DAM têm despertado a atenção. A internacionalização foi um objectivo desde o início e Joana decidiu testar a máxima. “Se formos lá para fora, Portugal vem por arrasto”. Assim foi e hoje a DAM vende mais cá do que lá fora. “É uma marca consistente, coerente, forte, e com uma história para contar”. “O design está em tudo o que fazes”. Do produto à comunicação. No final do debate, um aviso. “Dizem que um designer pode salvar ou destruir uma empresa. Um designer é como outro funcionário qualquer”.

O toque de Midas
O gestor de marketing da empresa de calçado são-joanense Evereste, André Fernandes, trouxe uma mala de sapatos que circularam pela plateia como exemplos da evolução e inovação do calçado masculino ao longo dos anos. A empresa é familiar, André pertence à terceira geração e está preocupado. “Dizem que a primeira geração lança a pedra, que a segunda desenvolve a ideia e que a terceira estraga tudo. Se calhar a culpa é do design”, brincou.

A Evereste tem 72 anos e percebeu a importância do Design. Tem uma parceria com o estilista Miguel Vieira há 20 anos e outra com um gabinete de design italiano. “A evolução do design obriga-nos a ser mais competitivos”, admite. A procurar materiais, texturas, estilos. E para que tudo resulte, tem de haver cedências de parte a parte, de quem manda e de quem cria.

Hugo Costa irá apresentar a sua colecção de calçado no próximo Portugal Fashion, já em Outubro. Desistiu de engenharia de computadores para estudar design de moda e não se arrependeu. Dá aulas e garante que a formação permite chamar os alunos à realidade. As empresas, na sua opinião, precisam de olhar em mais direcções. “Muitas empresas não têm cultura de moda, não estão preparadas para o esforço de mudança de mentalidades”.

Será o design capaz de transformar em ouro tudo o que toca? Ricardo Figueiredo, presidente da câmara são-joanense, acredita que sim, que o design tem esse “toque de Midas”. “As empresas melhor sucedidas são as que incorporam mais inteligência”, disse no final do debate em jeito de remate.

Oliva, Sanjo e Viarco: resgastar a história com a prata da casa
O debate sobre o papel do design nas empresas foi uma das iniciativas do programa do Ciclo Industrial que assinala os 30 anos de elevação de São João da Madeira a cidade com conferências, música, exposições e cinema até perto do final do ano. Nesta comemoração não se atribui medalhas ou diplomas. A câmara decidiu reflectir sobre a sua história, discutir a cidade para abrir janelas para o futuro do seu território. E tudo feito com a prata da casa. O ciclo é comissariado pelo jornalista do PÚBLICO Amílcar Correia, também natural de São João da Madeira.

A 11 de Outubro, há concerto com Sensible Soccers e Prana na Casa da Criatividade, a partir das 21h30. A 17, no Museu da Chapelaria, às 21h30, discute-se o património na conferência “De que precisam as marcas para sobreviver? com José Miguel Araújo, dono da Viarco, a única fábrica de lápis do país, e o designer e professor Paulo Marcelo. O que é que a ciência pode fazer pelas cidades? é o tema em debate a 31 de Outubro na Escola João da Silva Correia, a partir das 21h30. A 7 de Novembro, pelas 18h30, é inaugurada a exposição Marcas da Memória: Oliva, Sanjo e Viarco que ficará na sala dos fornos da Oliva até 7 de Dezembro.

No mesmo dia, fala-se de qualidade de vida no salão nobre da câmara. O arquitecto paisagista Sidónio Pardal e Valente de Oliveira, ex-ministro do Planeamento e da Administração do Território, naturais de São João da Madeira, têm um tema para abordar: Existe qualidade de vida nas nossas cidades? O ciclo fecha com uma restropectiva do cinema do realizador são-joanense André Gil Mata.