Ouvir Giacometti em Berlim deu “novos paradigmas” à música portuguesa
Inspirado em Giacometti e gravado por José Fortes, o novo disco dos Lavoisier, Projecto 675, é lançado hoje no Teatro da Malaposta.
“Foi um tributo à Nina Simone. Fazíamos uma espécie de espectáculo audiovisual, com uma tela à nossa frente, só apareciam as nossas sombras.” Ela estudara cerâmica e vidro (design), ele som e imagem. Terminado o curso e rodado o espectáculo por vários palcos portugueses, quiseram “experimentar viver fora de Portugal”. Instalaram-se em Berlim e, a par de trabalhos a part-time para sobreviver, prosseguiram nas experiências musicais.
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“Foi um tributo à Nina Simone. Fazíamos uma espécie de espectáculo audiovisual, com uma tela à nossa frente, só apareciam as nossas sombras.” Ela estudara cerâmica e vidro (design), ele som e imagem. Terminado o curso e rodado o espectáculo por vários palcos portugueses, quiseram “experimentar viver fora de Portugal”. Instalaram-se em Berlim e, a par de trabalhos a part-time para sobreviver, prosseguiram nas experiências musicais.
Chegaram em 2009 e focaram-se muito nas possibilidades do duo: “Ela a cantar, eu a tocar viola e a cantar, tentávamos trabalhar a sério.” Patrícia completa a ideia: “Explorávamos a simplicidade que é ter uma guitarra só e duas vozes, e isso em Berlim, com a coisa frenética da electrónica.” Pelo meio, intrometeu-se “uma coisa muito bonita”, diz Roberto: “Ainda em Berlim soubemos da edição dos DVD do Michel Giacometti.” Compraram e viram todos os DVD e isso foi “um motor incrível”. Patrícia acrescenta: “E ouvir aquilo em Berlim foi um arrepio. Descobrimos a Catarina Chitas…”
Isso impulsionou-os numa outra direcção. Com influências do tropicalismo e do modernismo antropofágico brasileiros, tentaram uma abordagem à música tradicional portuguesa. Mostraram uma cassete a José Fortes, ainda a medo, mas este pô-los à vontade a aceitou trabalhar com eles de modo a aclarar o seu rumo e o seu som. Abriu no computador um dossier chamado “Trabalho 675” e, por causa disso, o disco que resultou dessa colaboração chama-se “Projecto 675”. E tem uma tiragem de apenas 675 exemplares. Porquê Lavoisier como nome do grupo? Roberto diz: “Como estudei química no 12.º ano, lembrei-me da frase dele ‘Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’. Era isso que nós estávamos a fazer na música!” Patrícia: “Até porque nós não tínhamos feito originais, trabalhávamos músicas de outros mas como se fosse nossa.”
O disco, com uma qualidade de registo de preocupações audiófilas, é lançado hoje ao vivo no Teatro da Malaposta, em Odivelas, às 21h30 e com entradas a 5 euros. Tem, entre os seus oito temas, tradicionais como Sra do Almortão, Maria Faia, Alecrim ou A machadinha, além de uma versão de Acordai, de Lopes-Graça e José Gomes Ferreira. O editor, Miguel Augusto Silva, diz: “Os Lavoisier transformam em arte uma energia que é só deles mas que é urgente descobrir. As suas visões sobre a tradição ultrapassam os conceitos e assumem uma dinâmica própria, num movimento perpétuo – estabelecendo novos paradigmas e formas na música portuguesa.”
Acordai by Lavoisier from Sinter&Kowski on Vimeo.