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Com este monumental registo, Wadada Leo Smith consagra-se como um dos mais vitais e importantes jazzmen deste início de século

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Ao longo dos seis temas, os quatro músicos orquestram uma contenção que ameaça explodir a qualquer momento

Nomeado em 2012 para um Pulitzer Prize em música, o trompetista e compositor Wadada Leo Smith concentra em si as maiores expectativas cada vez que edita um novo álbum. Depois de Ten Freedom Summers (2012) e Occupy The World (2013), ambos enormes sucessos de criatividade e estética, a curiosidade era grande para a anunciada nova gravação. Antes de mais, pela absoluta excelência da formação escolhida – Leo Smith no trompete, Henry Threadgill em saxofone e flautas, John Lindberg no contrabaixo e Jack DeJohnette na bateria. Se a este verdadeiro all-stars do universo mais criativo do jazz juntarmos o facto de que o trompetista atravessa um dos períodos mais intensos e férteis da sua carreira, então temos reunidas as condições para um novo acontecimento de ordem maior, longe de modas e tendências, longe dos valores de entretenimento fútil que contaminam, cada vez mais, tudo aquilo que ouvimos. Em The Great Lakes Suite, sequência de seis temas originais divididos em dois CD e dedicados a Petri Haussila e Oliver Lake, Leo Smith assume um papel de músico/geólogo, ocupando-se sobretudo de noções de densidade, grau de dureza e refracção, conferindo à música uma rara qualidade orgânica – melodia e harmonia como matéria, pura e inadulterada. Ao longo dos seis temas, o mais curto com pouco mais de 9 minutos, o mais longo com cerca de 22, os quatro músicos orquestram uma surpreendente contenção rítmica e melódica que ameaça explodir a qualquer momento, sem que isso no entanto aconteça. Uma contenção que Leo Smith manipula de forma a que a música atinja graus de intensidade avassaladores sem nunca perder coesão ou controle. Se Threadgill e Lindberg se encontravam já extensivamente familiarizados com uma estética que tem em Anthony Braxton um dos seus expoentes, já DeJohnette surge aqui com uma qualidade de drumming profundamente diferente da que utiliza habitualmente nas suas gravações, contribuindo para o carácter único deste disco. Em temas com amplo espaço para improvisação por parte de cada músico, e um grau de comunicação apenas ao alcance dos maiores, timbres, texturas e tonalidades são manipulados e desenvolvidos de forma não linear numa música que convida à reflexão.

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Nomeado em 2012 para um Pulitzer Prize em música, o trompetista e compositor Wadada Leo Smith concentra em si as maiores expectativas cada vez que edita um novo álbum. Depois de Ten Freedom Summers (2012) e Occupy The World (2013), ambos enormes sucessos de criatividade e estética, a curiosidade era grande para a anunciada nova gravação. Antes de mais, pela absoluta excelência da formação escolhida – Leo Smith no trompete, Henry Threadgill em saxofone e flautas, John Lindberg no contrabaixo e Jack DeJohnette na bateria. Se a este verdadeiro all-stars do universo mais criativo do jazz juntarmos o facto de que o trompetista atravessa um dos períodos mais intensos e férteis da sua carreira, então temos reunidas as condições para um novo acontecimento de ordem maior, longe de modas e tendências, longe dos valores de entretenimento fútil que contaminam, cada vez mais, tudo aquilo que ouvimos. Em The Great Lakes Suite, sequência de seis temas originais divididos em dois CD e dedicados a Petri Haussila e Oliver Lake, Leo Smith assume um papel de músico/geólogo, ocupando-se sobretudo de noções de densidade, grau de dureza e refracção, conferindo à música uma rara qualidade orgânica – melodia e harmonia como matéria, pura e inadulterada. Ao longo dos seis temas, o mais curto com pouco mais de 9 minutos, o mais longo com cerca de 22, os quatro músicos orquestram uma surpreendente contenção rítmica e melódica que ameaça explodir a qualquer momento, sem que isso no entanto aconteça. Uma contenção que Leo Smith manipula de forma a que a música atinja graus de intensidade avassaladores sem nunca perder coesão ou controle. Se Threadgill e Lindberg se encontravam já extensivamente familiarizados com uma estética que tem em Anthony Braxton um dos seus expoentes, já DeJohnette surge aqui com uma qualidade de drumming profundamente diferente da que utiliza habitualmente nas suas gravações, contribuindo para o carácter único deste disco. Em temas com amplo espaço para improvisação por parte de cada músico, e um grau de comunicação apenas ao alcance dos maiores, timbres, texturas e tonalidades são manipulados e desenvolvidos de forma não linear numa música que convida à reflexão.