O solo a três de Nuno Artur Silva em "A Sério?"

Uma reflexão de Nuno Artur Silva sobre Portugal e o seu humor, ladeada por interjeições musicais dos Dead Combo e ilustração em directo de António Jorge Gonçalves. É assim "A Sério?", em cena no Famous Humor Fest a 26 de Setembro

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Nuno Artur Silva começou a vida activa como professor, mas cedo abandonou essa via para se dedicar ao humor. Co-fundou as Produções Fictícias, onde escreveu e produziu para nomes como Herman José, Maria Rueff, Eduardo Madeira ou os Gato Fedorento. Dá a cara na tentativa de manter a ordem n'"O Eixo do Mal" da SIC Notícias e na gentileza de "Nas Nuvens" do Canal Q. Falamos com ele sobre "A Sério?", que segundo o próprio é uma espécie de "confessionalismo encenado" que poderá resultar num "grande espalhanço em público"

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Nuno Artur Silva começou a vida activa como professor, mas cedo abandonou essa via para se dedicar ao humor. Co-fundou as Produções Fictícias, onde escreveu e produziu para nomes como Herman José, Maria Rueff, Eduardo Madeira ou os Gato Fedorento. Dá a cara na tentativa de manter a ordem n'"O Eixo do Mal" da SIC Notícias e na gentileza de "Nas Nuvens" do Canal Q. Falamos com ele sobre "A Sério?", que segundo o próprio é uma espécie de "confessionalismo encenado" que poderá resultar num "grande espalhanço em público"

Começaste por ser convidado para programar no festival. Como é que isso resulta num "solo acompanhado"?

De facto começaram por me convidar para programar uma das noites do festival. Mas eu disse-lhes que como já tinha feito isso muitas vezes não era exactamente o que me estava a apetecer fazer agora. E propus-lhe fazer uma coisa a título pessoal, ao que ele respondeu "a sério?" - e ficou mesmo esse título.

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O cartoonista António Jorge Gonçalves fará desenho digital ao vivo durante o espectáculo

Mas esse espectáculo a título pessoal vai estar assistido por ilustração e música ao vivo. De onde veio este formato?

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Os Dead Combo providenciarão o fundo musical para A Sério?

Aquilo que me interessa fazer, no sentido mais lato, é um monólogo que cruza o campo do stand-up e de uma conferência ao estilo TED. Mas eu decidi não fazer isto sozinho. Chamei o António Jorge Gonçalves, que além de meu amigo é meu colega de trabalho há muitos anos. Como ele se tem especializado no desenho digital, funciona aqui como um contraponto àquilo que eu vou dizendo. Queria também ter uma componente musical, e julguei que os Dead Combo para isto seriam perfeitos. Para além de neste momento serem uma banda com uma identidade que se ajusta ao tema, também são pessoas por quem tenho amizade. Daí o diálogo entre os três ser mais fácil. Mas o que vai acontecer vai ser uma espécie de estreia ou ensaio - apesar de haver um guião. Mesmo pelo espaço que vai ocupar - um armazém - vai ter essa característica de ser algo novo com muita margem para o improviso.

Então é possível que este espectáculo venha a tomar forma de novo?

Já está até prevista uma continuação do projecto. Este espectáculo vai ser um pouco uma ante-estreia daquilo em que estamos a trabalhar. É o cruzamento de uma série de coisas que ainda não foram testadas. Embora tenha começado a minha carreira como actor, acabei por passar a maior parte destes 20 anos como autor. Sendo assim também vai ter uma forte componente de reflexão - ver o que se está a passar à minha volta e fazer uma reflexão pessoal sobre a comédia em Portugal. Será um confessionalismo encenado. Em último caso será um grande espalhanço em público (risos)

Em virtude do teu longo trabalho na indústria do humor, estás numa posição privilegiada para dizer se os portugueses têm de facto uma falta de proximidade com o riso

Eu não diria exactamente isso. Acho que nos últimos anos houve uma grande evolução, porque o humor está sempre ligado aos meios de comunicação. O meio humorístico está intimamente ligado ao meio de comunicação emergente. Os primeiros comediantes estavam associados ao cinema. Depois, passaram para a rádio. Nos anos 70 estavam todos na televisão. O que aconteceu em Portugal foi que a ditadura atrasou todo o nosso século XX. Os nossos "anos 60" de facto só aconteceram nos anos 80. A nossa televisão por cabo só apareceu no fim dos anos 90, e este é um território fértil para a comédia. Durante muito tempo os géneros de humor que se faziam em Portugal eram completamente quadrados, mainstream, sem variedade. Com as Produções Fictícias acabamos por estar um pouco no centro dessa mudança. Dos programas do Herman ao Contra-Informação , o primeiro programa de humor político, passando pela produção dos programas da Maria Rueff e dos Gato Fedorento, acabamos por lançar muito deste boom de comédia. Tudo isto me precipita a reflectir sobre tudo isto como protagonista do processo do humor em Portugal. Mas não pensem que isto será uma espécie de balanço de carreira ao estilo Salão Branco e Prata do Casino do Estoril (risos)

Falando em balanço, como é que achas que o humor em Portugal tem lidado com as convulsões da crise? Tratou o tema bem, ou manteve distância?

Eu acho que o problema aqui está, mais uma vez, nos meios de comunicação. Ou seja, não tem havido espaço nos grandes meios de comunicação para desenvolver humor político e satírico. Nós fazemos isso no Canal Q, mas somos um canal pequeno. Nos generalistas não tem havido esse espaço, mantém-se aquele humor mais ligeiro. Na imprensa escrita, como por exemplo com o Inimigo Público, e em demais espectáculos ao vivo, encontra-se muito mais humor em cima da crise. Porque de resto tenho notado uma ausência de confronto desse tema.