Há vida para além da universidade?
Ser professor jovem em Portugal equivale a ter quarenta e muitos anos. E há sempre alguém à nossa frente na lista de espera. Há sempre muita gente à nossa frente na lista de espera.
Há uma vida para além da universidade, ou melhor, uma vida fora da universidade. É difícil descobri-la, o caminho é árduo, mas essa vida existe. O mundo não acaba quando defendemos a tese ou quando decidimos que, para salvaguardarmos a nossa sanidade mental, não tentaremos escrever mais uma palavra que seja numa linguagem apenas legível para quem já só sabe escrever e pensar puxando pelo idem, ibidem, pelo op.cit. ou pelo vide.
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Há uma vida para além da universidade, ou melhor, uma vida fora da universidade. É difícil descobri-la, o caminho é árduo, mas essa vida existe. O mundo não acaba quando defendemos a tese ou quando decidimos que, para salvaguardarmos a nossa sanidade mental, não tentaremos escrever mais uma palavra que seja numa linguagem apenas legível para quem já só sabe escrever e pensar puxando pelo idem, ibidem, pelo op.cit. ou pelo vide.
O sonho de acabar o doutoramento ou o pós-doutoramento e ficar ligado a um estabelecimento de ensino, como professor ou investigador, é simplesmente irrealizável. Não há contratos para ninguém. Receber um ordenado é inimaginável. Ser professor jovem em Portugal equivale a ter quarenta e muitos anos. E há sempre alguém à nossa frente na lista de espera. Há sempre muita gente à nossa frente na lista de espera. A universidade tem destas coisas. As possibilidades do aluno resumem-se a ser bolseiro, saltar de bolsa em bolsa até não haver mais bolsa nenhuma.
Parece aliciante produzir ciência e ser pago para não fazer mais nada. Mas é uma ficção com um fim trágico. Não há bolsa que dure sempre. Chega-se a meio da vida com um bom currículo académico (qualquer coisa que inclua muitas participações em congressos e colóquios e inúmeras publicações em revistas ditas científicas) e quase inapto para a vida real. A culpa não é de quem estuda. O bolseiro não tem outro meio de ficar ligado à universidade: a escolha é entre a bolsa e o desemprego. A responsabilidade é de quem impediu que as faculdades tivessem meios para contratar. A culpa é de quem, ao longo dos anos, foi disseminando a ideia de que os universitários seguiam a via dos estudos pós-graduados por serem parasitas. Ninguém é culpado de ter nascido num país no qual não existem empregos para quem estudou, para quem estudou muito.
O caminho é penoso. A bolsa acaba, a última bolsa. Vem a vida real. Procura-se um emprego a sério. Tenta-se sobreviver com pouco, com nada. O doutoramento foi muito gratificante e enriqueceu-nos em termos intelectuais. Mas para trabalhar numa livraria ou num restaurante não era necessário gastar tanta paciência com notas de rodapé. A vida é dura e passamos muito tempo a fugir-lhe. Desejamos a segurança, como se fosse possível haver segurança em qualquer lado que não seja o útero da mãe. A vida é caótica e devemos aceitar isso. Aceitar o caos e procurar soluções.