António Rendas demite-se do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas

Reitor da Universidade Nova de Lisboa negou que na base da decisão estejam divergências com o Governo e explicou que precisa de tempo para a sua instituição.

Foto
Rendas deveria ocupar o cargo até 2016 Nuno Ferreira Santos

Na sua intervenção no plenário do CRUP, António Rendas, explica o Diário Económico, terá invocado a necessidade de se dedicar mais à sua instituição, a Universidade Nova de Lisboa (UNL), para deixar o lugar. A decisão foi apresentada como “inabalável” aos reitores presentes na reunião, mas o reitor da Nova escusou-se a comentar o tema ao mesmo jornal.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na sua intervenção no plenário do CRUP, António Rendas, explica o Diário Económico, terá invocado a necessidade de se dedicar mais à sua instituição, a Universidade Nova de Lisboa (UNL), para deixar o lugar. A decisão foi apresentada como “inabalável” aos reitores presentes na reunião, mas o reitor da Nova escusou-se a comentar o tema ao mesmo jornal.

Ainda na reunião, António Rendas explicou que a sua saída em nada resulta de qualquer conflito com o Governo, reforçando que tem apenas como base a necessidade de maior dedicação à UNL, onde ainda tem três anos de mandato para cumprir. Rendas estava a meio do seu segundo mandato no CRUP, que terminaria em 2016, pelo que deverão ser marcadas novas eleições para decidir que reitor ficará à frente do conselho.

A demissão de Rendas foi confirmada, ao final da manhã desta quarta-feira, pelo CRUP, em comunicado, onde é sublinhado que “os motivos que fundamentaram a renúncia ao cargo estão exclusivamente relacionados com o desejo do presidente cessante conferir maior prioridade aos projetos e desafios que enfrenta enquanto reitor da Universidade Nova de Lisboa”.

O presidente demissionário “quis dar um sinal de demarcação desta decisão de qualquer situação política”, sublinha ao PÚBLICO o reitor da Universidade do Minho, António Cunha, que participou na reunião de terça-feira. Em Novembro, o presidente do CRUP tinha anunciado a seu demissão do cargo, em choque com o governo, a quem acusava de “falta de diálogo” a propósito dos cortes previstos no Orçamento de Estado para 2014, que eram superiores aos negociados. Esse assunto “já estava ultrapassado”, lembra Cunha..

Em Novembro de 2013, o presidente cessante, perante a “generalizada falta de diálogo” e a “quebra de compromissos” por parte do Governo, chegou a anunciar a decisão de “suspender a participação em reuniões com o Governo ou organismos regionais sobre a reestruturação da rede de ensino superior” e a colocar o seu lugar à disposição.

Em Junho deste ano, Rendas decidiu mesmo suspender as colaborações com a tutela, mas já sem colocar o lugar à disposição. Em causa estavam as divergências entre as universidades e a tutela no que diz respeito a um corte de 30 milhões de euros referente ao Orçamento do Estado para este ano — uma situação que foi agravada com o chumbo do Tribunal Constitucional às reduções salariais para 2014 e que, segundo as instituições, implica um acréscimo de mais de 55 milhões de euros nas facturas dos estabelecimentos. Porém, com o Governo a recuar em alguns dos cortes, as negociações foram retomadas e estariam a decorrer de forma mais tranquila.

António Rendas é o reitor há mais tempo em funções nas universidade públicas e, por isso, deverá ser ele a liderar a comissão eleitoral que vai preparar a escolha do seu sucessor. Atendendo às regras seguidas habitualmente pelo CRUP, o processo de substituição vai ser rápido, ficando concluído dentro de três semanas. A escolha do novo presidente acontece já na próxima reunião do plenário de reitores, a 14 de Outubro. “O presidente cessante continua a assegurar a gestão das matérias em curso nesta fase de transição”, garante o CRUP em comunicado.
Nesse dia será escolhido o novo líder daquele organismo, numa votação a duas voltas, onde participam os reitores das 15 universidades que compõem o CRUP – as 13 intituições públicas com existência “física” e a Universidade Aberta, especializada em ensino à distância, bem como a Universidade Católica. Na primeira votação, todos os reitores são candidatos e, na segunda, a escolha será feita entre os dois mais votados na fase anterior. O novo presidente assume funções na reunião plenária seguinte, a acontecer em Novembro.

Nesta fase ainda é prematuro avançar com os nomes dos reitores mais prováveis à sucessão de Rendas, mas não é crível que líderes recentemente eleitos como Feyo de Azevedo, no Porto, Ana Costa Freitas (Évora) ou José Luís Gaspar (Açores) assumam uma função exigente em termos de disponibilidade. Tendo em conta a antiguidade em funções, os reitores cuja candidatura ganha maior força nesta fase são os de António Cunha, da Universidade do Minho – no cargo desde 2009 –, Manuel Assunção, da Universidade de Aveiro (eleito em 2010) e João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra desde 2011.

A saída de Rendas acontece no mesmo dia em que se sabe que a UNL subiu, neste ano, dez lugares no ranking QS Top Under 50, que hierarquiza as 50 melhores universidades do mundo com menos de 50 anos, ocupando a 36.ª posição, avança a agência Lusa, que cita um comunicado da instituição.

O ranking é, de acordo com a instituição, um dos mais importantes para universidades mundiais com menos de 50 anos, e avalia o desempenho com base noutra classificação, o QS World University Rankings 2014, que lista anualmente as melhores universidades do mundo, partindo de critérios como o número de citações obtidas pelas publicações científicas ou a internacionalização de alunos e professores. Nessa lista, a instituição tinha subido 41 posições face a 2013, ocupando o 312.º lugar entre 863 universidades.