Medalha de Ouro do RIBA para os mágicos do betão e poetas do tijolo
O casal irlandês por detrás da firma O’Donnell + Tuomey, que assina o novo Centro de Estudantes da London School of Economics, está também nomeado para o Stirling.
Aos 61 e 60 anos, respectivamente, Sheila O’Donnell e John Tuomey, que em 1988 fundaram a O’Donnell + Tuomey, estão entre os mais jovens arquitectos de sempre a receber este prémio do RIBA, de cuja lista de vencedores constam as grandes referências da arquitectura internacional – de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright aos Archigram, passando por Norman Foster, Frank Gehry, Toyo Ito, Herzog & de Meuron, Peter Zumthor e Siza Vieira (2009).
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Aos 61 e 60 anos, respectivamente, Sheila O’Donnell e John Tuomey, que em 1988 fundaram a O’Donnell + Tuomey, estão entre os mais jovens arquitectos de sempre a receber este prémio do RIBA, de cuja lista de vencedores constam as grandes referências da arquitectura internacional – de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright aos Archigram, passando por Norman Foster, Frank Gehry, Toyo Ito, Herzog & de Meuron, Peter Zumthor e Siza Vieira (2009).
A mais recente obra de grande impacto de O’Donell e Tuomey é o Centro de Estudantes Saw Swee Hock, da London School of Economics (LSE), um espaço multifunções ancorado na malha medieval da zona de Aldwych, no centro da capital britânica. A obra pela que estão também nomeados – pela quinta vez – para o Prémio Stirling, cujo vencedor será conhecido a 16 de Outubro.
“No meio de um complexo padrão de ruas da Londres medieval, O’Donnell e Tuomey teceram um pouco da sua magia. Este projecto notável é uma lição sobre como se mobilizam as limitações de um local convertendo-as num edifício estarrecedoramente original que traz um contributo gigante à paisagem da cidade”, lê-se no site do RIBA, que atribui tanto a Royal Gold Medal como o Stirling.
Com espaços de lazer como uma discoteca, um ginásio e cafés, mas também um icónico Centro de Fé, com salas para oração, o Centro de Estudantes Saw Swee Hock, em que foram investidos 24 milhões de libras (30,6 milhões de euros), apresenta ao exterior uma fachada multifacetada, feita de planos interrompidos e ângulos inesperados. Um poliedro feito em tijolo vermelho com apontamentos em vidro e marcado por uma torre lateral. Já o interior, articula-se em torno do betão à vista de uma escada em espiral cujas pesadas paredes recurvadas e de linhas mais orgânicas atravessam os vários andares do centro, abrindo-se pontualmente em janelas que permitem observar as actividades em curso em diferentes espaços.
“Os arquitectos começaram por pegar na geometria de ângulos apertados como definição de um sólido no qual abriram cortes e fissuras que lhe dão luz e forma”, lê-se ainda no site do RIBA. “A energia é gerada pelas ruas em volta e puxada para a espiral que se eleva através de todo o peso da estrutura como uma rua interna contínua, assumindo a forma de uma generosa escadaria que traça o seu caminho através do coração [do edifício]. As paredes exteriores inclinam-se e contorcem-se, os chãos assumem formas ortogonais complexas, porém, toda a comodidade gerada parece natural, funcional e altamente agradável de usar.”
Ao Guardian, Julian Robinson, responsável pelo património imobiliário da LSE, explicou que todas as valências do novo Centro de Estudantes Saw Swee Hock estavam antes em “caves velhas e sem janelas” e que um estudo recente concluiu que, hoje, mais de um terço dos candidatos universitários escolhe a instituição onde vai estudar tendo em conta a qualidade das instalações. Apesar de a LSE ser uma das mais reputadas escolas do mundo, Robinson diz: “É um mercado cada vez mais competitivo e nós sempre tivemos más notas nas instalações.”
Não foi a primeira vez que o casal O’Donnell e Tuomey trabalhou para uma escola. Ao longo dos últimos 30 anos, escolas mas também habitação social, teatros e centros comunitários têm constituído grande parte da produção do seu atelier.
Em 1999, a primeira nomeação para o Stirling deveu-se, precisamente, ao edifício da Ranelagh Multi-Denominational School, em Dublin, um tipo de escola então relativamente recente na Irlanda, visando promover o cruzamento de crianças de diferentes religiões numa mesma instituição do ensino primário. A nomeação mais recente para o Stirling, em 2012, deveu-se ao Teatro Lírico de Belfast, uma obra de 14 milhões de libras (17,8 milhões de euros) resolvida em três volumes primários que albergam o teatro, estúdio e sala de ensaios e que se deixam contornar e atravessar por vias de circulação pública.
O Guardian recorda como, depois de se formarem no University College de Dublin, onde se conheceram, Sheila O’Donnell e John Tuomey trabalharam no escritório de Londres de James Stirling e Colquhoun & Miller. Foi ao voltar a Dublin, em finais da década de 1980, que se comprometeram a “forjar uma nova identidade arquitectónica irlandesa”. “É uma linguagem que se desenvolveu continuamente ao longo das décadas, inspirando-se em fontes que vão das formas vernaculares das casas-torre da Irlanda antiga às villas clássicas, inflectidas pelo seu interesse em geometrias agudas e torturadas – como se estas estruturas maciças em betão e tijolo tivessem sido amarrotadas e dobradas sobre si mesmas. Num momento em que os edifícios são cada vez mais sistematizados, montados como frágeis kits de partes produzidas em linha de montagem, a abordagem O’Donnell e Tuomey é refrescantemente medieval, usando materiais que são enformados e moldados, cozidos e moídos.”