Relançamento da Cerâmica Valadares conta com parceiro internacional
Ex-quadros pretendem exportar 80% da produção da fábrica, que vai ser relançada depois de dois anos de encerramento.
O PÚBLICO apurou que a ARCH, constituída pelos ex-quadros da empresa, integra um parceiro internacional e outros investidores, cuja identidade não foi revelada pelo administrador de insolvência, Rui Castro Lima, nem por Henrique Barros, presidente e accionista da nova empresa.
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O PÚBLICO apurou que a ARCH, constituída pelos ex-quadros da empresa, integra um parceiro internacional e outros investidores, cuja identidade não foi revelada pelo administrador de insolvência, Rui Castro Lima, nem por Henrique Barros, presidente e accionista da nova empresa.
Esta sexta-feira, na assinatura do acordo que permite o relançamento da empresa centenária, os responsáveis pela nova aposta não revelaram também qual foi o investimento realizado na aquisição da marca, bem como o esforço financeiro que será necessário para a reactivação da produção industrial, depois de dois anos de paragem.
Nesta fase, Henrique Barros prefere destacar que o projecto da ARCH para a Valadares passa essencialmente pelo mercado externo, para onde pretende vender 80% da produção, com um enfoque inicial em Espanha e no resto da Europa, mas posteriormente na Ásia e no Médio Oriente.
O processo de salvação da marca de Valadares, que garante para já 150 postos de trabalho, maioritariamente ex-funcionários da empresa, está recheado de particularidades, nunca testadas num processo de insolvência.
Tal como o PÚBLICO noticiou na edição desta quinta-feira, a ARCH assume a propriedade da marca Valadares e reactiva a produção nas instalações da antiga Fábrica Cerâmica de Valadares, em Vila Nova de Gaia, através de um contrato de arrendamento de instalações e de equipamentos. O contrato de arrendamento é feito por três anos, prorrogável por mais dois, findo o qual a ARCH tem de se mudar para outras instalações industriais, explicou ao PÚBLICO Henrique Barros.
A receita do arrendamento e de uma parte do stock de produtos que ainda se encontra na empresa reverte para pagamento aos credores, onde se incluem os ex-trabalhadores, respeitando a hierarquia de créditos aprovada no âmbito do processo de insolvência, que ascende a 96 milhões de euros, com o BCP a reclamar 74,3 milhões de euros.
Esta solução, “desenhada” pelo administrador de insolvência, foi aprovada por unanimidade por todos os credores, cumprindo uma condição imposta pelo juiz responsável pelo processo.
Entretanto, a Fábrica de Cerâmica de Valares continua em processo de liquidação, nos termos em que foi aprovado pelos credores. Neste âmbito, já foi alienado, por um milhão de euros, um armazém aos italianos da La Perla. A fábrica de roupa interior já tinha uma pequena unidade fabril em Valadares e vai criar, nas novas instalações, cerca de 200 postos de trabalho.
Paralelamente, e com o apoio da autarquia, a restante área da fábrica está a ser alvo de um plano de licenciamento, com vista a venda ou arrendamento a outros investidores.
Depois de ter falhado a venda da fábrica como um todo, e numa conjuntura em que a alienação dos terrenos é extramente difícil e poderá representar um encaixe modesto face à dimensão dos créditos reclamados, os credores acabaram por aceitar a liquidação faseada, dando assim uma oportunidade à ARCH de manter a marca.
O acordo entre as partes foi formalizado ontem, na Câmara de Vila Nova de Gaia, e ficou marcado por um troca de elogios e de agradecimentos de todos os intervenientes no processo. Ficou, aqui, claro que o tiro de partida foi dado pelo administrador de insolvência, que vendo os faxes de encomendas que continuam a chegar à Valadares, por parte de clientes estrangeiros que desconheciam a paragem da fábrica, desafiou os ex-quadros a manter a marca, criada em 1921.