David Cameron, um vencedor com novos desafios
Os próximos desafios não são isentos de riscos políticos, mas nada que se comparasse a uma vitória do “sim” , que não deixaria incólume o primeiro-ministro conservador.
As críticas à gestão que Cameron fez do referendo foram aumentando no seu próprio partido, de forma mais ou menos explícita, à medida que a incerteza sobre o desfecho se instalava – por ter aceitado a consulta, por não ter sido dada aos eleitores alternativa que não fosse responderem apenas se queriam ou não ser independentes, por ter actuado durante muito tempo como se um triunfo do "sim" fosse um cenário impensável.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As críticas à gestão que Cameron fez do referendo foram aumentando no seu próprio partido, de forma mais ou menos explícita, à medida que a incerteza sobre o desfecho se instalava – por ter aceitado a consulta, por não ter sido dada aos eleitores alternativa que não fosse responderem apenas se queriam ou não ser independentes, por ter actuado durante muito tempo como se um triunfo do "sim" fosse um cenário impensável.
O pânico que nas últimas semanas se instalou nas lideranças políticas britânicas, com a perspectiva de uma vitória independentista, levou o chefe do Governo – tal como os líderes trabalhista e liberal-democrata – a não regatear nas promessas de reforço dos poderes do parlamento escocês, designadamente em matéria fiscal e apoios sociais. No seu partido, principalmente entre os mais “radicais”, há quem pense que o filho de um bem-sucedido corretor de Londres e da herdeira de uma linhagem de políticos conservadores, que em 2010 chegou ao poder, após cinco anos de liderança da oposição, foi longe de mais.
As vozes que, a exemplo da Escócia, defendem um reforço da autonomia das outras componentes do Reino Unido, começaram a fazer-se ouvir. E colocam novos desafios a Cameron, 47 anos. No rescaldo do referendo, por convicção ou para não alienar apoios necessários para honrar os compromissos assumidos com a Escócia, o político conversador disse que “os habitantes de Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda do Norte devem ter mais a dizer” sobre os assuntos que lhe dizem respeito.
É um desafio não isento de riscos políticos, mas muito diferente daqueles que teria pela frente no caso de uma vitória do “sim” , a qual, quase de certeza, não deixaria incólume o político formado em Eton, o mais elitista dos colégios privados do país, e em Oxford, onde se licenciou em Política e Filosofia.
Afastado o cenário que lhe “partiria o coração”, os escoceses esperam de Cameron, que há nove anos ganhou o partido com a promessa de um “conservadorismo moderno e com compaixão”, ponha em marcha o cumprimento das promessas feitas. Para o actual inquilino do número 10 de Downing Street, a questão passa a ser compatibilizar reformas que, no final, podem conduzir a reino diferente, ainda que unido, com a corrida eleitoral de Maio do próximo ano em que deverá lutar por um segundo mandato.