Frei Bento Domingues, o “monge cronista” é esta sexta-feira homenageado na Gulbenkian

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Rui Gaudêncio

Esta sexta-feira, o frade dominicano Frei Bento Domingues é homenageado no Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa sessão intitulada Cidadania, Cultura e Teologia na Praça Pública. Do painel de debates constam motes como Liberdade, Paz e Utopias e Da crónica de jornal à intervenção na cultura e na sociedade, a par da interrogação: “Jesus e a Igreja ainda interessam à sociedade portuguesa?”.

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Esta sexta-feira, o frade dominicano Frei Bento Domingues é homenageado no Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa sessão intitulada Cidadania, Cultura e Teologia na Praça Pública. Do painel de debates constam motes como Liberdade, Paz e Utopias e Da crónica de jornal à intervenção na cultura e na sociedade, a par da interrogação: “Jesus e a Igreja ainda interessam à sociedade portuguesa?”.

Frei Bento Domingues acredita que sim. Aos 80 anos, o “monge cronista” continua a pregar a liberdade e os direitos humanos em letra de imprensa. Às interpretações incessantes do evangelho junta umas migalhas de Nietzsche ou Kant ou alguns dos aforismos de Agustina Bessa Luís, de quem se diz admirador desde há muito, particularmente do romance A Muralha, como confessou há dias na entrevista que deu ao Jornal de Letras.

Diz não gostar de escrever. Porém, quando, no início do PÚBLICO, António Marujo lhe lançou o desafio, acabou por dizer que sim. Desde então, a preocupação maior é fugir ao facilitismo. Em palavras suas, ao Jornal de Letras: “Não cair na tentação de ‘despachar’. Centrar-me no fenómeno religioso, não no sentido cristão, e nas implicações que tem em toda a realidade social, económica e política”.

Nasceu filho de agricultores, na aldeia de Travassos, em Terras do Bouro. No BI o nome que surge é Basílio de Jesus Gonçalves Domingues. Aos 19 anos, entrou numa escola apostólica, em Fátima. Depois ingressou nos Dominicanos e daí a nada viveria uma crise de fé, muito por culpa da proximidade com o mosteiro de monjas dominicanas, algumas das quais americanas, que costumava ver. Foi crise passageira. Pelo meio estudou em Roma, Salamanca e Toulouse. Tomou o nome de Bento quando se juntou à Ordem dos Pregadores. Depois, deu aulas no estrangeiro, trabalhou em África e na América do Sul. Por cá, escondeu clandestinos, afrontou a PIDE. Em 1963, apelou do altar da Igreja de São João de Brito, em Lisboa: “O problema não é a conversa, é a organização e é preciso derrubar este governo“. Daí a pouco era convidado a abandonar o país.

Hoje, considerado um dos maiores teólogos portugueses, vive no convento do Alto dos Moinhos, em Lisboa. Cumpre sem grande sacrifício o seu voto de pobreza. No quarto, espaço apenas para os livros. As roupas vai-as reciclando nomeadamente entre as que ficam dos que morrem. Quando deu a entrevista publicada pela revista Sábado, desta quinta-feira, confessa às tantas que os sapatos que calça tinham pertencido a um morto. “Já se descolaram. Arranjei-os com cola-tudo. Não me faz impressão”.