Austrália diz que travou plano que envolvia decapitações em público
Operação envolveu 800 agentes. Um dos detidos foi acusado de planear atentados para "chocar, horrorizar e aterrorizar" o povo australiano, com "um nível de fanatismo fora do comum".
A detenção foi feita na madrugada desta quinta-feira durante a maior operação policial da história do país, com 800 agentes, apoiados por helicópteros, a entrarem em dezenas de casas nos subúrbios de Sydney e Brisbane.
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A detenção foi feita na madrugada desta quinta-feira durante a maior operação policial da história do país, com 800 agentes, apoiados por helicópteros, a entrarem em dezenas de casas nos subúrbios de Sydney e Brisbane.
Das 15 pessoas inicialmente detidas, nove foram libertadas poucas horas depois e duas receberam ordens para comparecerem em tribunal. Um jovem de 24 anos foi acusado de posse de arma e munições sem licença e foi libertado sob caução.
Uma das duas pessoas que ficaram a aguardar julgamento foi identificada como Omarjan Azari, um jovem australiano de 22 anos residente em Guilford, nos subúrbios de Sydney. As autoridades não avançaram informações sobre o outro suspeito.
O procurador Michael Allnutt disse que as acusações contra Azari são "muito, muito graves", já que envolvem "um nível de fanatismo fora do comum" – o objectivo, segundo a acusação, era "chocar, horrorizar e aterrorizar" o povo australiano através da "escolha aleatória de pessoas para as executar de forma macabra".
Citado pelo jornal Sydney Morning Herald, Michael Allnutt disse que a operação da polícia foi lançada depois de as autoridades terem interceptado uma conversa telefónica "há dois dias", em que um dos intervenientes seria Omarjan Azari.
O Ministério Público australiano diz ter provas de que Azari estava a conspirar com o também australiano Mohammed Baryalei, e outros suspeitos não identificados, para "prepararem ou planearem um ou vários ataques terroristas".
Mohammed Baryalei, de 33 anos, é procurado pela polícia australiana, que o descreve como um importante elemento do Estado Islâmico na Austrália. As autoridades acreditam que é ele o responsável pelo recrutamento de dezenas de australianos que combatem na Síria e no Iraque nas fileiras dos jihadistas.
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, falou em "incitamentos directos por parte de um australiano bem colocado na hierarquia do Estado Islâmico a redes de apoio na Austrália para cometerem assassínios públicos".
"Não é apenas uma suspeita, há mesmo uma intenção, e foi por isso que a polícia e as agências de segurança decidiram agir desta forma", disse o chefe do Governo australiano.
A organização Hizb ut-Tahrir, que defende a criação de um califado, convocou um protesto em Sydney, que contou com a participação de cerca de 400 pessoas. Um dois responsáveis do Hizb ut-Tahrir na Austrália, Wassim Doureih, acusou a polícia de usar violência excessiva durante a operação.
"Qual seria a vossa reacção se a vossa casa fosse arrombada e as vossas mulheres desonradas?", questionou.
Um jovem ouvido pelo Sydney Morning Herald disse que a sua casa tinha sido alvo da rusga da polícia. "Acordei com a minha mãe a gritar. Um dos porcos tentou arrancar o cobertor que tapava a minha mãe quando ela estava vestida como qualquer mulher se veste para o seu marido", disse o jovem, que pediu para não ser identificado.
Outro jovem, residente no subúrbio de Wentworthville e identificado como Raban Alou, disse que os agentes arrombaram a porta da casa da sua família em busca do irmão, que acusaram de ter ligações "à Al-Qaeda ou ao Estado Islâmico".
"Não sei, sou alvo de muito ódio. Há uma guerra contra o islão só porque deixamos crescer as barbas. Querem catalogar-nos como terroristas, ou apoiantes do Estado Islâmico. É como vocês quiserem", lamentou.
O primeiro-ministro australiano anunciou no fim-de-semana passado o envio de 600 soldados para o Médio Oriente, para participarem nas operações contra os jihadistas do Estado Islâmico, que decapitaram três pessoas no último mês – os jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff e o britânicoDavid Haines, que trabalhava para uma organização humanitária.
Na semana passada, as autoridades australianas passaram o nível do seu alerta antiterrorista de "médio" para "elevado" pela primeira vez desde que esse sistema foi introduzido, em 2003. O alerta "médio" significa que pode ocorrer um ataque; o alerta "elevado" significa que é provável que ocorra um ataque; e o alerta "máximo" significa que um ataque está iminente ou que já foi cometido.