Dois anos depois da falência, a cerâmica Valadares renasce pela mão de antigos trabalhadores

Solução evita liquidação de empresa centenária e permite criação de mais de 350 postos de trabalho.

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Acordo permite readmitir 135 ex-trabalhadores da Fábrica de Valadares. Adelaide Carneiro

O acordo, que teve uma forte intervenção do presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, será formalizado esta sexta-feira, entre a massa insolvente da Fábrica de Cerâmica de Valadares e a ARCH, a nova empresa constituída pelos ex-quadros. A expectativa é que a fábrica recomece a laborar no início de 2015.

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O acordo, que teve uma forte intervenção do presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, será formalizado esta sexta-feira, entre a massa insolvente da Fábrica de Cerâmica de Valadares e a ARCH, a nova empresa constituída pelos ex-quadros. A expectativa é que a fábrica recomece a laborar no início de 2015.

O acordo conseguido, após meses de intensas negociações, pressupõe que uma parte das instalações da cerâmica seja alugada a uma empresa italiana de roupa interior, La Perla, que garante a criação de pelo menos mais de 200 postos de trabalho.

Depois de declarada a insolvência, a 26 de Setembro de 2012, aquela que é uma das marcas emblemáticas de Vila Nova de Gaia renasce com cerca de metade dos 300 trabalhadores que possuía na altura em que foi obrigada a fechar as portas. O compromisso em cima da mesa é que pelo menos 135 destes novos funcionários das Valadares sejam antigos trabalhadores da fábrica que podem, assim, regressar a um posto de trabalho que parecia perdido. A estes a empresa poderá juntar a contratação de outros.

“Esta é a melhor prenda do meu primeiro ano de mandato”, disse ao PÚBLICO Eduardo Vítor Rodrigues depois de alcançado o acordo entre as partes envolvidas, incluindo o Millennium BCP, que era, destacadamente, o maior credor da empresa, com 74,3 milhões de euros a haver, dos 96 milhões de dívida da empresa.

A Câmara de Vila Nova de Gaia envolveu-se activamente no processo da Valadares há cerca de seis meses e desde essa altura que tem trabalhado com todos os envolvidos para que fosse possível atingir um acordo que agradasse a todos, uma vez que o juiz de insolvência exigia que qualquer solução apresentada fosse acolhida por unanimidade pelas partes.

O município foi chamado às negociações pelo próprio administrador de insolvência, Rui Castro Lima. Além do Millennium BCP, a Cerâmica de Valadares tinha ainda contas a ajustar com as Finanças, a Segurança Social e os antigos trabalhadores da empresa, cujos créditos ascendiam a mais de dez milhões de euros.

A fábrica de louça sanitária estava já em processo de liquidação, pelo que, com o acordo agora alcançado, a posse da empresa continua na mão dos credores e são estes que arrendam, para já apenas à ARCH e à La Perla, parte das instalações. O objectivo é encontrar outros interessados em ocupar o espaço remanescente.

Além do envolvimento nas negociações, a Câmara de Gaia compromete-se ainda a isentar do pagamento de licenças e taxas tanto a ARCH como a La Perla. “Isto representa uma quebra significativa de receita para a autarquia, mas permite ressuscitar uma das marcas mais importantes de Vila Nova de Gaia”, disse Eduardo Vítor Rodrigues.

Rui Castro Lima, em declarações ao PÚBLICO, admite que a solução lhe “roubou muitas horas de trabalho e à vida familiar”, mas mostra-se “satisfeito” com a solução encontrada para a fábrica de Valadares. “O projecto é não só positivo para a fábrica de cerâmica como uma oportunidade para toda a freguesia”, disse.

Apesar de ter fechado portas há dois anos, a Valadares tinha uma importante posição no mercado nacional e internacional, continuando a ser procurada por inúmeros clientes, mesmo após a declaração de insolvência.

A falência da empresa está envolta em suspeitas de má gestão por parte dos anteriores accionistas e esta foi uma das razões que levou Eduardo Vítor Rodrigues a envolver-se neste processo. “Há dois tipos de insolvência. Ou a empresa colapsou e acabou ou houve má gestão. Na Valadares foi má gestão. A empresa é viável”, disse.