O retrato sensorial de um país
Sérgio Tréfaut filma o cante alentejano para melhor falar do país que fomos e do país que somos.
Se era isso que já norteava Lisboetas (2004) e A Cidade dos Mortos (2009), Alentejo, Alentejo leva-o a um novo patamar. Onde antes encontrávamos gente a apropriar-se de um local como seu para aí construir uma comunidade, aqui Tréfaut filma uma comunidade em movimento do centro para a periferia, filma o Alentejo profundo mas também o ausente, olha para aquela região do sul como uma espécie de “diáspora” que se dispersou pelo país mas onde a música e o cante servem como “cola” e “semente” da comunidade.
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Se era isso que já norteava Lisboetas (2004) e A Cidade dos Mortos (2009), Alentejo, Alentejo leva-o a um novo patamar. Onde antes encontrávamos gente a apropriar-se de um local como seu para aí construir uma comunidade, aqui Tréfaut filma uma comunidade em movimento do centro para a periferia, filma o Alentejo profundo mas também o ausente, olha para aquela região do sul como uma espécie de “diáspora” que se dispersou pelo país mas onde a música e o cante servem como “cola” e “semente” da comunidade.
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ARTIGO_CINEMA
Tréfaut filma ao mesmo tempo “raízes” e “ramos”, curiosos e resistentes, gerações diferentes unidas por um mesmo tronco chamado cante, música por natureza comunitária que tem sobrevivido teimosa e frontalmente ao tempo e à dispersão física. Alentejo, Alentejo retrata o cante como uma “essência” (não por acaso reduzida à simples voz humana), mas também como centro de gravidade, de um filme que dele parte para desenhar um retrato sensorial não só de uma região mas também de um país; confronta presente e passado (através dos depoimentos daqueles que não podem evitar identificar a música com uma dimensão de resistência e dignidade) para revelar o que mudou verdadeiramente no último meio século (e que, se calhar, não é assim tanto como possa parecer à primeira vista).
Sérgio Tréfaut sempre foi mestre em deixar o seu cinema mostrar e contar, mais do que explicar, e Alentejo, Alentejo restitui por inteiro a identidade comunitária do Alentejo, usando como padrão representativo uma forma musical que, como poucas outras, é indissociável da região que a criou. Como se a música fosse em si própria uma educação, uma forma de transmissão de uma herança, que codifica e perpetua um modo de ser e de estar nos aparentes antípodas do mundo em que vivemos.
Um pouco como o “ponto” que dá o mote da moda e funciona como “referência” para o coro, Alentejo, Alentejo é um olhar honesto e rigoroso (talvez um pouco seco demais, é certo) sobre uma prática que, no sentido mais nobre da palavra, é verdadeiramente cultural – e isso apenas o torna mais importante no país em que vivemos, hoje.