Empresas de sondagens temem errar o alvo no referendo escocês
Falta de termos de comparação e possível existência de uma timidez em assumir o voto no "não" podem estar a influenciar as estimativas.
Ninguém tem dúvidas de que o "sim" à independência foi conquistando terreno à medida que se aproximava o dia da consulta popular, mas a falta de uma experiência anterior para servir como termo de comparação leva os especialistas a recearem que as suas estimativas sejam um autêntico desastre, comparando essa possibilidade à histórica derrota de Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo.
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Ninguém tem dúvidas de que o "sim" à independência foi conquistando terreno à medida que se aproximava o dia da consulta popular, mas a falta de uma experiência anterior para servir como termo de comparação leva os especialistas a recearem que as suas estimativas sejam um autêntico desastre, comparando essa possibilidade à histórica derrota de Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo.
Para além de não ser possível comparar as sondagens deste ano com outras sondagens realizadas em anos anteriores (pelo facto de que este é o primeiro referendo sobre a independência na Escócia), esta é também a primeira votação no Reino Unido em que a maioria das empresas tenta avaliar o sentimento da população através da Internet.
Fazer sondagens através da Internet tem vantagens e desvantagens, mas os problemas são mais complicados neste caso, por ser mais difícil acautelar fenómenos que escapam aos radares de quem faz as perguntas.
"A arte das sondagens assenta nas técnicas de controlo", explicou à BBC Radio 4 Martin Boon, director da ICM, uma das mais importantes empresas de sondagens britânicas. No caso particular das sondagens sobre o referendo na Escócia, os especialistas temem que lhes esteja a escapar a existência de uma "espiral de silêncio" entre os escoceses que receiam assumir publicamente o seu voto contra a independência – se este cenário se confirmar, o resultado do "não" poderá ser mais expressivo do que se espera.
"Este referendo tem o potencial para ser o Waterloo das sondagens, o maior desde 1992", disse Martin Boon, referindo-se ao ano em que todos os indicadores apontavam para a vitória do trabalhista Neil Kinnock na corrida ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, e que acabou com uma vitória do conservador John Major por uma diferença de sete pontos percentuais.
"Não posso dizer que seria uma surpresa. Espero que as empresas façam justiça ao mercado das sondagens ao acertarem pelo menos na área do resultado final. Acho que o melhor que o nosso sector pode esperar é escapar por pouco, mas é perfeitamente possível que as balas nos acertem em cheio", disse o director da ICM.
Stephen Fischer, professor de Sociologia Política na Universidade de Oxford, está convicto de que as sondagens das últimas semanas têm sobrestimado o resultado do "sim" à independência.
"É mais provável que os números das sondagens nos títulos dos jornais estejam a sobrestimar e não a subestimar o voto pela independência escocesa", escreveu o especialista no site da organização What Scotland Thinks.
Martin Boon concorda: "Pode existir actualmente na Escócia uma espécie de espiral de silêncio patriótica. Talvez algumas pessoas achem que é antipatriótico dizer que vão votar 'não'", admite.
O enredo – e o potencial para um desastre das empresas de sondagens – torna-se ainda mais imprevisível porque os partidários do "sim" argumentam que é o seu campo que está a ser subestimado.
Num último esforço para convencer os escoceses a participarem no referendo, no início do mês, o primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, ligou uma eventual maior afluência às urnas ao desejo de independência. "Centenas de milhares de pessoas, muitas das quais nunca votaram nas suas vidas, participam agora no debate mais excitante e poderoso da história da política escocesa", disse Salmond.
Com ou sem uma derrota estrondosa das empresas de sondagens, parece certo que o campo do "sim" conquistou muitos adeptos nas últimas semanas, uma tendência que se pode observar através de "uma mudança grande, real e sustentada", disse à BBC Radio 4 Anthony Wells, da empresa de sondagens YouGov. "Há um número expressivo de pessoas na nossa amostra que se mudaram para o 'sim', e que há seis meses diziam 'não' ou estavam indecisos", notou o Wells.