Seguro quer reforma do sistema político feita até ao final do ano
Líder do PS apresentou propostas de alteração à lei eleitoral da AR e ao regime das incompatibilidades dos deputados. António Costa já veio criticar as opções do adversário.
As propostas foram feitas em forma de desafio, tanto em relação aos restantes partidos, como aos socialistas que já se manifestaram contra a reforma. No Largo do Rato, Seguro assumiu o propósito de que as revisões da lei das incompatibilidades e da lei eleitoral consigam atingir um “um consenso ainda maior do que os dois terços [dos deputados] exigidos [para a sua aprovação]”. E a apresentação das propostas serviriam “para verificar a vontade política dos grupos parlamentares e dos deputados” de fazer a reforma.
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As propostas foram feitas em forma de desafio, tanto em relação aos restantes partidos, como aos socialistas que já se manifestaram contra a reforma. No Largo do Rato, Seguro assumiu o propósito de que as revisões da lei das incompatibilidades e da lei eleitoral consigam atingir um “um consenso ainda maior do que os dois terços [dos deputados] exigidos [para a sua aprovação]”. E a apresentação das propostas serviriam “para verificar a vontade política dos grupos parlamentares e dos deputados” de fazer a reforma.
O actual líder do PS reconheceu também o risco de fractura no interior do seu próprio partido. “Haverá deputados com opiniões diferentes. Isso é importante que se manifeste”, disse.
Apesar do âmbito da reforma em causa, definiu também um prazo curto para o processo. Seguro defendeu o arranque rápido da reforma, “de modo a que [a nova lei] possa ser aplicada nas próximas legislativas” do próximo ano. A deliberação sobre a lei eleitoral, apesar de vaga em relação às alterações a efectuar, é taxativa quanto a datas: “Deve estar concluído até ao dia 31 de Dezembro de 2014.” Três meses e meio, portanto.
Quanto à AR, Seguro quis assinalar a sua disponibilidade para a abertura de um “debate descontaminado de qualquer solução final”. Por isso, a deliberação não faz referência a círculos uninominais ou voto preferencial, assumindo apenas o objectivo de “garantir aos eleitos a escolha do seu deputado”. Mas a proposta de início do “processo de alteração” da lei assume a redução para 181 do número de deputados.
Na lei das incompatibilidades, Seguro avança com nove alterações. Entre elas, por exemplo, está a estipulado que a revelação dos rendimentos dos titulares de cargos políticos inclua a “indicação das entidades pagadoras”, o cruzamento de dados para uma “efectiva fiscalização das declarações de património e rendimentos”, o alargamento do regime a novas categorias de responsáveis – consultores envolvidos em processos de privatização e negociadores que representem o Estado –, o alargamento de três para quatro anos do "período de nojo" dos ex-governantes e a proibição do exercício de funções para consultores e representantes do Estados em entidades que tenham estado envolvidas em processos por si tutelados.
Para Costa é "uma declaração de guerra aos partidos de esquerda"
António Costa classificou entretanto uma eventual redução do número de deputados como uma "declaração de guerra" aos partidos mais à esquerda e um "favor ao PSD".
De visita a uma IPSS de Loures, citado pela agência Lusa, o adversário de Seguro na corrida à nomeação como candidato a primeiro-ministro nas legislativas do próximo ano considera que "seria um erro avançar" para essa lei, uma vez que iria "afectar a proporcionalidade" e a representatividade dos partidos, sobretudo dos mais à esquerda. Para além de ser um "favor ao PSD, porque desvaloriza claramente o CDS-PP", acrescentou.
Desvalorizando as propostas de Seguro, António Costa disse que "cada um dá prioridade ao que quer" e que a sua é o "relançamento da economia" e o "combate à pobreza infantil e juvenil".
"Batota eleitoral", acusa Bloco
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) acusa o PS e Seguro de tentativa de "batota eleitoral" com a apresentação da proposta de redução do número de deputados. "Este debate volta constantemente. Constantemente PSD e PS tentam esta batota eleitoral", afirmou Catarina Martins citada pela agência Lusa.
Uma "batota para reduzir a proporcionalidade da representação democrática em Portugal e com isso ter o poder político refém do bloco central sem terem as vozes incómodas que hoje estão na AR", apontou a coordenadora bloquista.
"O BE tem feito várias propostas sobre transparência do interesse público e privado. São propostas que levamos muito a sério. Mas há neste pacote apresentado esta tentativa – mais uma – de alterar administrativamente a lei para garantir o controlo a PSD e PS da AR", frisou. Considerou que esta proposta "tem mais que ver com a campanha interna do PS" do que com outra coisa e lamentou ainda que Seguro, "homem que tem defendido o interior", venha propor uma redução de deputados, o que significa que "o interior será menos representado".
PSD espera pelo candidato do PS
O PSD teve uma atitude de desvalorização da proposta de Seguro. José Matos Rosa, secretário-geral social-democrata escusou-se a comentar a ideia da redução de deputados dizendo que o seu partido vai esperar pelo resultados das eleições que irão determinar quem será o candidato do PS nas legislativas de 2015. Até porque Seguro já garantiu que se não ganhar no dia 28 de Setembro se demite de secretário-geral do PS.
Daí que o PSD vai aguardar que o PS consensualize "entre as várias partes aquilo que é a opinião própria do PS e aquilo que pretende em relação à lei eleitoral", disse José Matos Rosa, secretário-geral do PSD, em declarações aos jornalistas na sede do partido, em Lisboa.
Notícias actualizada às 18h15 com declarações de António Costa, Catarina Martins e José Matos Rosa.