A dama de Leonardo, no início, não tinha arminho
Investigador francês diz que quadro famoso de Leonardo da Vinci sofreu várias alterações na sua criação.
Esta é a hipótese avançada pelo engenheiro francês Pascal Cotte, no final de um aturado trabalho de investigação à pintura que Leonardo realizou entre 1485 e 1490, em Milão, quando se encontrava ao serviço do duque Ludovico Sforza.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Esta é a hipótese avançada pelo engenheiro francês Pascal Cotte, no final de um aturado trabalho de investigação à pintura que Leonardo realizou entre 1485 e 1490, em Milão, quando se encontrava ao serviço do duque Ludovico Sforza.
Utilizando um sofisticadíssimo equipamento designado LAM (Layer Amplification Method), que permite decompor imagens em 240 milhões de pixels, Pascal Cotte – noticiou no último fim-de-semana o jornal italiano Corriere della Sera, citado pelo espanhol El País – diz ter descoberto que, na primeira versão da pintura, não há nenhum animal ao colo da jovem Cecilia que se crê tenha sido amante do duque Sforza.
O arminho foi acrescentado depois, mas, diz Cotte, o animal que hoje vemos no quadro que se encontra no museu da família Czartoryski (fechado para remodelação até 2015), na cidade polaca de Cracóvia, é também ligeiramente diferente daquele que se entrevê – mas apenas com o recurso ao LAM – numa camada anterior da obra. É ligeiramente maior e mais musculoso.
“O duque Ludovico Sforza era um homem de poder, ambicioso, dificilmente podia ver-se representado nessa criatura delicada. A minha interpretação é a de que, então, Leonardo converteu o arminho num símbolo emblemático, como se faz com leões, dragões e salamandras. Aumentou-o e fê-lo mais musculado, poderoso, valente”, defende Pascal Cotte, citado pelo El País.
A reforçar a teoria do engenheiro francês está também a existência de um soneto que o poeta Bernardo Bellincioni (1452-1492) dedicou ao quadro de Leonardo, e que não faz qualquer referência ao arminho.
Na sequência da sua investigação, cujo resultado foi já apresentado ao príncipe Czartoryski, Cotte diz ainda que Leonardo, que começou por fazer um retrato convencional de uma jovem, quando acrescentou o arminho acabou também por fazer pequenas alterações na representação de Cecilia Gallerani, modificando a mão direita e dando alguns retoques ao seu vestido.
O engenheiro francês já utilizou o LAM para estudar a mítica Gioconda (1503-06), que Leonardo pintou depois de A Dama com Arminho. E também na recente identificação de A bela princesa – um quadro que nos anos 1990 fora vendido em leilão, em Nova Iorque, por 19 mil euros, quando se acreditava que era apenas um trabalho de um pintor alemão do século XIX – como mais uma obra do mestre florentino.