"Uma nova direcção" à esquerda na Suécia com a extrema-direita no meio do caminho

Partido Social-Democrata põe fim a oito anos de poder do centro-direita, mas o partido anti-imigração Democratas Suecos mais do que duplicou o número de deputados.

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O Partido Social-Democrata obteve 31,2% dos votos, mas a coligação pós-eleitoral com os Verdes (6,8%) e o Partido da Esquerda (5,7%) coloca a fasquia do futuro governo sueco nos 43,7%, ainda assim longe de uma maioria.

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O Partido Social-Democrata obteve 31,2% dos votos, mas a coligação pós-eleitoral com os Verdes (6,8%) e o Partido da Esquerda (5,7%) coloca a fasquia do futuro governo sueco nos 43,7%, ainda assim longe de uma maioria.

Os sociais-democratas (que governaram o país durante a maior parte do último século) continuam a ser os mais votados, mas o crescimento do Partido Moderado na última década levou o centro-direita ao poder em 2006, numa coligação com o Partido Popular Liberal, o Partido do Centro e os Democratas Cristãos. Juntos, estes quatro partidos do centro-direita obtiveram nas eleições de domingo 39,3% dos votos.

A expectativa de que a Iniciativa Feminista conseguisse pelo menos 4% para poder entrar no Parlamento não se cumpriu (ficou-se pelo 3,1%), o que dificulta ainda mais a tarefa do social-democrata Stefan Loefven para formar um governo estável.

O maior derrotado das eleições foi o Partido Moderado, com uma queda de sete pontos percentuais em relação às eleições de 2010, quando obteve o melhor resultado da sua história.

"Estes anos em que a Aliança assumiu a responsabilidade pela Suécia têm sido fantásticos. A minha esperança é que essa viagem prossiga, mas sem a minha participação", disse o líder do Partido Moderado e até agora primeiro-ministro, Fredrik Reinfeldt, no seu discurso de aceitação da derrota.

Mesmo sem crescerem muito em relação a 2010, os sociais-democratas e os restantes partidos do centro-esquerda beneficiaram da queda de popularidade do centro-direita, que pôs em causa a imagem de um país que se destacava pela sua política social – a Suécia foi o país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico onde as desigualdades mais cresceram nos últimos anos, apesar de se manter no grupo dos dez com menores diferenças entre os mais ricos e os mais pobres.

Medidas como a diminuição dos impostos sobre heranças e património e a diminuição da carga fiscal de 49% para 45% deixaram o famoso Estado social sueco mais desprotegido.

Como resultado, escreve a agência Reuters, muitos eleitores castigaram o Partido Moderado por considerarem que as suas políticas estão a prejudicar o sistema de saúde e a integração de imigrantes. O desemprego subiu para 8% e afecta principalmente os imigrantes e os mais jovens – os motins do ano passado nos subúrbios de Estocolmo são vistos por muitos como um indicador da mudança de orientação da última década.

"Estamos numa situação grave. Temos milhares de pessoas desempregadas. Os nossos resultados escolares estão a piorar mais do que em qualquer outro país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico", disse Stefan Loefven, que prometeu "uma nova direcção" para a Suécia.

"Temos de reencontrar os nossos valores, aqueles que nos levam a apoiar-nos uns aos outros, e que isto não é tudo uma forma de os ricos ficarem ainda melhor", disse à Reuters Sofia Bolinder, uma mulher de cerca de 30 anos que disse ter votado num partido "da esquerda".

Apesar de tudo, é preciso recuar até 1920 para encontrar um resultado mais fraco do que o obtido neste fim-de-semana pelo Partido Social-Democrata – habituado a votações entre os 40% e os 50%, o maior partido sueco começou a perder alguma da sua base de apoio em 2006, quando obteve 35% e teve de entregar o poder à coligação do centro-direita. Desde então, teve 30,7% em 2010 e 31,2% nas eleições de domingo.

Quem ganhou com esta dispersão – e com as divisões provocadas pelos diferentes pontos de vista sobre política de imigração – foram os Democratas Suecos, um partido de extrema-direita populista e anti-imigração.

A formação liderada por Jimmie Akesson é agora a 3.ª maior força política do país, com 12,9% dos votos e 49 deputados, mais do que duplicando o resultado obtido há quatro anos. Os Democratas Suecos entraram pela primeira vez no Parlamento precisamente em 2010, com 5,7% e 20 deputados.

Apesar de nenhum outro partido aceitar coligar-se com os Democratas Suecos, o seu líder já fez questão de sublinhar o seu novo estatuto na política sueca: "Não é possível evitar-nos se quiserem governar o país. Somos nós que controlamos o equilíbrio do poder."

O caminho mais provável para o futuro governo da Suécia é o da procura de uma aliança com os partidos do centro-direita caso a caso, segundo o jornalista norueguês Lars Bevanger, numa análise na BBC.