Se a Escócia disser adeus, será para sempre, avisou Cameron
Primeiro-ministro britânico discursou em Aberdeen, na sua última acção de campanha pelo "não" no referendo sobre a independência de uma das quatro nações que compõem o Reino Unido
Foi uma última tentativa do primeiro-ministro britânico de tentar ganhar pontos para o “não”, quando as sondagens mostram os dois lados virtualmente empatados, com as diferenças dentro das margens de erro dos estudos de opinião. Salientou os “valores britânicos, a justiça, a equidade e a liberdade”, partilhados pelas quatro nações que constituem o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales), e esforçou-se para sublinhar os “factos”, os aspectos negativos de uma Escócia independente.
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Foi uma última tentativa do primeiro-ministro britânico de tentar ganhar pontos para o “não”, quando as sondagens mostram os dois lados virtualmente empatados, com as diferenças dentro das margens de erro dos estudos de opinião. Salientou os “valores britânicos, a justiça, a equidade e a liberdade”, partilhados pelas quatro nações que constituem o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales), e esforçou-se para sublinhar os “factos”, os aspectos negativos de uma Escócia independente.
“Deixaremos de ter a mesma moeda; os fundos de pensões vão ser repartidos; passaremos a ter fronteiras internacionais, que não serão tão fáceis de cruzar; acabará o apoio que têm automaticamente nas embaixadas britânicas quando estão no estrangeiro; mais de metade dos empréstimos para a compra de casa passará, automaticamente, a estar em bancos estrangeiros; as taxas de juro deixarão de ser reguladas pelo Banco de Inglaterra – com a estabilidade e segurança que isso garante; se ficarem bancos na Escócia, e se tiverem problemas, terão de ser os contribuintes escoceses a pagar os custos sozinhos”, enumerou Cameron.
“Não estou a meter medo, é meu dever garantir que não é vendido aos escoceses um sonho que logo desaparecerá”, defendeu-se David Cameron, reconhecendo a acusação, feita pelos partidários do “sim”, de que os políticos britânicos e as grandes empresas que ameaçam retirar a sua sede da Escócia se o “sim” ganhar têm usado “a intimidação, o medo e ameaças” como armas na campanha eleitoral, nas palavras de um comentário do jornalista escocês Kevin McKenna no Guardian.
Mas não é claro qual o efeito que poderão ter estes apelos desesperados de David Cameron. O seu Partido Conservador obtém a maioria do seu apoio em Inglaterra – e Alex Salmond, o primeiro-ministro e líder independentista escocês, gosta de dizer que “há mais pandas gigantes no zoo de Edimburgo do que deputados tories no parlamento regional da Escócia”. Os tories elegeram apenas um deputado para o parlamento de Edimburgo.
Os motivos deste desamor pelos conservadores remontam à passagem de Margaret Thatcher pelo Governo de Londres (1979-1990), aos anos de crise da década de 1980 e à reconversão da economia britânica imposta pela primeira-ministra conservadora, que “criaram uma agenda política a norte da fronteira em nítido contraste com o sul, em Inglaterra”, escreveu no fim-de-semana que passou no Guardian o respeitado historiador escocês Tom Devine, que declarou o seu apoio ao “sim” à independência. A Escócia tornou-se uma zona livre de tories, em termos eleitorais. Foi outro bastião da união que passou à história”, escreveu Devine.
Cameron só nos últimos tempos participou na campanha, quando o “sim” disparou nas sondagens. Em desespero, o Governo conservador ofereceu a garantia de mais poderes autonómicos, ao nível da cobrança de impostos, orçamento e segurança social – e rapidamente, em troca de a Escócia continuar parte do Reino Unido. “Em Novembro teremos um Livro Branco, que será transformado em legislação em Janeiro – a tempo do aniversário de um dos heróis da Escócia, o poeta Robert Burns, que se celebra a 25 de Janeiro. Este calendário já foi aceite pelos principais partidos e estou preparado para trabalhar nisto em 2015”, garantiu Cameron.
“Portanto, um voto no 'não' significa na verdade uma mudança mais rápida, mais justa, mais segura e melhor”, afirmou Cameron – que copiou quase palavra a palavra o slogan lançado na sexta-feira pelo ex-primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown (mais rápido, mais seguro, melhor), salienta o Guardian.
Brown foi considerado o primeiro-ministro menos popular do Reino Unido em 2010, ao conduzir o seu partido para devastadora derrota eleitoral, que levou Cameron ao poder. Mas foi ele que deu novo fôlego à campanha pelo Vamos Continuar Juntos, considerando que o tom demasiado negativo estava a alienar os eleitores. Na verdade, foi ele que anunciou o projecto legislativo para novos poderes autonómicos – Cameron apenas foi atrás.
Numa série de discursos fervorosos, Brown foi um factor de renascimento da campanha do “sim". “Podem-se perder países por um erro. Não deixem que isto se transforme em políticos britânicos contra a Escócia”. Cameron segue a música imposta por Brown: “Se não gostam de mim, não vou cá ficar para sempre!”, afirmou, com um riso nervoso. “Para conseguir um futuro melhor não é preciso destruir o nosso país.”