Novo vídeo de decapitação dá força à resposta internacional contra Estado Islâmico
Países que formam a "frente unida" de combate aos islamistas da Síria e do Iraque reúnem-se esta segunda-feira em Paris. Estados Unidos garantem participação de estados árabes na campanha aérea contra o EI, e Reino Unido promete "perseguir e caçar" os responsáveis pela morte de David Haines.
O Reino Unido está preparado para apoiar a estratégia internacional contra o Estado Islâmico (EI), e disponível para prosseguir as suas acções militares de vigilância e de assistência humanitária no Iraque, disse ontem David Cameron, no fim de uma reunião extraordinária do gabinete interministerial de crise, Cobra, em Londres. Os britânicos também continuarão a fornecer armamento aos soldados peshmerga curdos e a dar formação às tropas iraquianas que enfrentam os militantes.
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O Reino Unido está preparado para apoiar a estratégia internacional contra o Estado Islâmico (EI), e disponível para prosseguir as suas acções militares de vigilância e de assistência humanitária no Iraque, disse ontem David Cameron, no fim de uma reunião extraordinária do gabinete interministerial de crise, Cobra, em Londres. Os britânicos também continuarão a fornecer armamento aos soldados peshmerga curdos e a dar formação às tropas iraquianas que enfrentam os militantes.
O primeiro-ministro não assumiu novos compromissos – a novidade foi a urgência e a dureza de Cameron após a morte de David Haines. “Passo a passo, vamos pressionar, desmantelar e no fim destruir o EI e o que ele representa. Vamos fazê-lo de forma calma e deliberada, com uma determinação de ferro”, declarou. Uma escalada na acção contra o EI parece inevitável, embora o líder britânico tenha resistido a confirmar um papel activo da Royal Air Force na campanha aérea em curso no Iraque. Mas “à medida que esta estratégia se intensifica”, Londres “está preparado para assumir o papel que for necessário para erradicar esta ameaça e garantir a segurança do país”, indicou.
David Haines, de 44 anos, cresceu em Perth, na Escócia, e foi raptado em Março de 2013, na Síria, onde estava a trabalhar com a organização não-governamental francesa de assistência humanitária, ACTED. A sua função era coordenar a distribuição de água potável e mantimentos, e a instalação de tendas no campo de refugiados de Atmeh, junto à fronteira com a Turquia.
O vídeo da sua morte foi publicado pelo Estado Islâmico um dia depois de a sua família ter divulgado uma mensagem àquela organização implorando por um contacto, e na véspera da realização de uma conferência internacional sobre o Iraque, promovida pelo Presidente da França, François Hollande. A reunião em Paris juntará representantes de dezenas de países, entre os quais o ministro britânico da defesa, Philip Hammond, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
Na semana passada, os EUA revelaram o seu plano de uma “frente unida” de combate ao EI no Iraque e na Síria, numa campanha concertada de anti-terrorismo liderada por Washington e com a participação dos seus aliados ocidentais e do Médio Oriente. Fontes diplomáticas norte-americanas garantiram este domingo à Reuters que vários países árabes – que declinaram identificar – já disponibilizaram meios para integrar a campanha aérea contra os jihadistas, dando maior credibilidade à operação lançada pelo Presidente Barack Obama. O primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, informou que um contingente de 600 soldados foi destacado para os Emirados Árabes Unidos, “para apoiar as acções de combate contra o EI no Iraque”.
Terror e opinião pública
Para os analistas, a sucessão de vídeos grotescos de decapitações de ocidentais demonstram a raiva e a frustração do EI com a intervenção militar internacional que travou a sua expansão territorial no Iraque e na Síria e põe em causa a sua ideia de consolidação de um califado nos dois países. A capacidade bélica dos jihadistas não é proporcional à dos seus inimigos: incapazes de abater os jactos e drones norte-americanos, os militantes respondem com outras armas – o terror e a opinião pública.
Daí que muitos analistas se questionem sobre o calendário das publicações dos vídeos, que podem não corresponder às datas exactas das decapitações. As imagens da morte dos dois jornalistas norte-americanos, James Foley e Steven Sotloff, foram divulgadas num intervalo de duas semanas, mas desta vez passaram dez dias: estará o EI a sentir-se acossado ou em desespero? Poderá a decapitação de Haines ter sido adiantada para condicionar os participantes na conferência de Paris sobre o Iraque? Poderá ter alguma coisa a ver com a realização do referendo para a independência na Escócia, esta quinta-feira?
A votação poderá ter refreado os ímpetos de David Cameron na resposta aos islamistas, de forma a não alienar os eleitores escoceses, tradicionalmente mais cépticos quanto ao uso da força militar. Numa entrevista à BBC, o primeiro-ministro escocês e líder do partido nacionalista, Alex Salmond, frisou que “não é possível ceder ao terrorismo” mas considerou que “actos bárbaros” como os do EI “exigem uma deliberação colectiva” sob os auspícios das Nações Unidas.
O ministério dos Negócios Estrangeiros britânico divulgou um comunicado da família Haines, assinado pelo irmão de David, Mike, que referia o seu entusiasmo e dedicação à causa humanitária. “A sua alegria pelo trabalho que foi fazer na Síria é, para mim e para toda a família, o aspecto mais importante deste triste acontecimento”, escreveu.
Mortes na praça pública
No vídeo divulgado pelo EI, um segundo refém britânico, Alan Henning, de 47 anos, é apresentado como a próxima vítima, como antes acontecera com Sotloff e Haines. Todos os filmes até agora seguem quase exactamente o mesmo guião: o cenário é o mesmo (os especialistas acreditam que sejam os montes desertos a Sul de Raqqa, na Síria), as vítimas envergam o mesmo uniforme prisional cor-de-laranja e são obrigadas a ler uma declaração antes de ser mortas. O seu carrasco, que é canhoto, parece ser o mesmo: um britânico que a imprensa internacional apelidou de “Jihadi John”.
A Reuters reportou ainda a morte de oito sunitas (decapitados) às mãos de militantes do EI, na aldeia de al-Jumasah, no Norte do Iraque, a cerca de 120 quilómetros de Tikrit. A partir de relatos de testemunhas oculares, a agência reconstituiu um fim-de-semana de horror, que começou com o assassínio de um agente da polícia acusado de espionagem pelos jihadistas na sexta-feira à noite: os radicais andaram a bater às portas e reunir os habitantes para assistir à morte do polícia na praça pública, prometendo fazer o mesmo a quem os desafiasse. Durante a noite, a casa de um dos membros do EI foi atingida a tiro, numa acção que precipitou a morte de sete familiares do agente, que foram raptados pelos islamistas no dia seguinte, e apareceram mortos no domingo.