Uma demissão irresponsável
Por muitas divergências que houvesse, a forma como Bento sai do Novo Banco é irresponsável.
Por muitas e fortes divergências que pudesse haver entre Carlos Costa, Vitor Bento e Passos Coelho (ou os seus ministros), tudo deveria ser feito de modo a evitar que o banco fosse ferido por mais uma demissão que o deixa outra vez afundar na deriva. Todos deveriam ter cedido um pouco para evitar uma ruptura que evidencia crispação e desnorte. E não havendo condições para manter essa urgência de estabilidade, todos se deveriam ter preocupado em apresentar a demissão sem vazios de poder – ou seja, já com uma nova administração pronta para assumir responsabilidades.
Com atitudes responsáveis e empenhadas em evitar que o pântano do BES se transforme numa cloaca, seria sempre possível uma solução que não implicasse a transmissão para o exterior de um clima de guerrilha que torna o banco ingerível. Teria de haver uma solução no qual o compromisso se sobrepusesse ao despeito e onde os egos pessoais se subordinassem aos interesses do país. Não foi isso que aconteceu. Uma oportuna fuga de informação para a imprensa serviu de mote para que Bento e a sua equipa anunciassem a sua demissão sem que o BdP pudesse ter tido tempo para os substituir no segundo seguinte.
Bem se sabe que no interior do banco se vivia há semanas uma paz podre que tornaria a prazo inviável a continuação de Vítor Bento. O economista e a sua equipa dizem a verdade quando referem que “as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio com base no qual aceitáramos esta missão em meados de Julho”. Bento fora nomeado para um projecto de médio ou longo prazo e o BdP e o Governo optaram por contrariar esta estratégia e decidiram anunciar a venda do banco o mais depressa possível - uma pressa que coloca sempre o vendedor em desvantagem. De resto, é legítimo o receio de que os processos judiciais que vão começar em catadupa ou os estilhaços da comissão parlamentar de inquérito podem vir a retirar valor ao banco.
Tendo todos razão parcial, nenhuma das partes poderia ter esticado a corda ao ponto de a fazer rebentar sobre a frágil situação de um banco convalescente. Todos deveriam ter tido a preocupação de saber que uma saída intempestiva da direcção do Novo Banco serviria apenas para agravar a sua imagem de nau sem rumo. Uma vez mais, a qualidade das instituições da República ficou refém de orgulhos pessoais e guerras de protagonismo. Uma vez mais, o que é o interesse colectivo foi subalternizado por aqueles que têm particular responsabilidade em o preservar.
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Por muitas e fortes divergências que pudesse haver entre Carlos Costa, Vitor Bento e Passos Coelho (ou os seus ministros), tudo deveria ser feito de modo a evitar que o banco fosse ferido por mais uma demissão que o deixa outra vez afundar na deriva. Todos deveriam ter cedido um pouco para evitar uma ruptura que evidencia crispação e desnorte. E não havendo condições para manter essa urgência de estabilidade, todos se deveriam ter preocupado em apresentar a demissão sem vazios de poder – ou seja, já com uma nova administração pronta para assumir responsabilidades.
Com atitudes responsáveis e empenhadas em evitar que o pântano do BES se transforme numa cloaca, seria sempre possível uma solução que não implicasse a transmissão para o exterior de um clima de guerrilha que torna o banco ingerível. Teria de haver uma solução no qual o compromisso se sobrepusesse ao despeito e onde os egos pessoais se subordinassem aos interesses do país. Não foi isso que aconteceu. Uma oportuna fuga de informação para a imprensa serviu de mote para que Bento e a sua equipa anunciassem a sua demissão sem que o BdP pudesse ter tido tempo para os substituir no segundo seguinte.
Bem se sabe que no interior do banco se vivia há semanas uma paz podre que tornaria a prazo inviável a continuação de Vítor Bento. O economista e a sua equipa dizem a verdade quando referem que “as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio com base no qual aceitáramos esta missão em meados de Julho”. Bento fora nomeado para um projecto de médio ou longo prazo e o BdP e o Governo optaram por contrariar esta estratégia e decidiram anunciar a venda do banco o mais depressa possível - uma pressa que coloca sempre o vendedor em desvantagem. De resto, é legítimo o receio de que os processos judiciais que vão começar em catadupa ou os estilhaços da comissão parlamentar de inquérito podem vir a retirar valor ao banco.
Tendo todos razão parcial, nenhuma das partes poderia ter esticado a corda ao ponto de a fazer rebentar sobre a frágil situação de um banco convalescente. Todos deveriam ter tido a preocupação de saber que uma saída intempestiva da direcção do Novo Banco serviria apenas para agravar a sua imagem de nau sem rumo. Uma vez mais, a qualidade das instituições da República ficou refém de orgulhos pessoais e guerras de protagonismo. Uma vez mais, o que é o interesse colectivo foi subalternizado por aqueles que têm particular responsabilidade em o preservar.