Moedas, ou a ironia de uma atribuição
Portugal obteve uma pasta relevante para o seu comissário europeu, mas isso traz-lhe obrigações.
Embora nos bastidores do discurso oficial circulassem desejos de uma vice-presidência ou até de uma qualquer pasta de peso na área económica, a atribuição a Carlos Moedas da pasta de Investigação, Ciência e Inovação foi rapidamente recebida com agrado na área do governo. E com óbvio fundamento: é uma pasta relevante para o futuro da Europa e movimenta uma soma considerável, 80 mil milhões de euros a aplicar em investigação e ciência até 2020, cerca de 8% do total do orçamento comunitário. Mas se isto é razão para dizer que Portugal saiu bem no “retrato” dos pelouros dos comissários, e desse ponto de vista saiu, compreendem-se igualmente as reservas dos que vêem em Carlos Moedas, para lá de inexperiência na área, um símbolo da pesada austeridade que, entre os muitos sectores que afectou, penalizou bastante a investigação científica em Portugal. É claro que Carlos Moedas pode ter o benefício da dúvida, e pode até mostrar algum dom oculto. Jean-Claude Juncker, nas suas hábeis escolhas, feitas com sabedoria política, cuidou de entregar pastas a comissários cujos países praticam por vezes políticas contrárias ao que na comissão deles se exigirá. Por exemplo, a pasta das Migrações e Assuntos Internos foi entregue ao grego Dimitris Avramopoulos, cujo país enfrenta precisamente problemas graves nas suas políticas migratórias. Se isso se destina a uma maior responsabilização, não apenas dos comissários mas dos países que os nomearam, é coisa que se verá nos tempos próximos. Carlos Moedas disse, reagindo à sua nova pasta, que “a Inovação e a Investigação são a chave para o crescimento que queremos na Europa: um crescimento sustentável que promova a qualidade de vida dos europeus”. Substituam-se as palavras “Europa” por Portugal e “europeus” por portugueses e peça-se, já agora, que o governo de Passos Coelho aja aqui como promete o seu comissário. Já era um princípio.
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Embora nos bastidores do discurso oficial circulassem desejos de uma vice-presidência ou até de uma qualquer pasta de peso na área económica, a atribuição a Carlos Moedas da pasta de Investigação, Ciência e Inovação foi rapidamente recebida com agrado na área do governo. E com óbvio fundamento: é uma pasta relevante para o futuro da Europa e movimenta uma soma considerável, 80 mil milhões de euros a aplicar em investigação e ciência até 2020, cerca de 8% do total do orçamento comunitário. Mas se isto é razão para dizer que Portugal saiu bem no “retrato” dos pelouros dos comissários, e desse ponto de vista saiu, compreendem-se igualmente as reservas dos que vêem em Carlos Moedas, para lá de inexperiência na área, um símbolo da pesada austeridade que, entre os muitos sectores que afectou, penalizou bastante a investigação científica em Portugal. É claro que Carlos Moedas pode ter o benefício da dúvida, e pode até mostrar algum dom oculto. Jean-Claude Juncker, nas suas hábeis escolhas, feitas com sabedoria política, cuidou de entregar pastas a comissários cujos países praticam por vezes políticas contrárias ao que na comissão deles se exigirá. Por exemplo, a pasta das Migrações e Assuntos Internos foi entregue ao grego Dimitris Avramopoulos, cujo país enfrenta precisamente problemas graves nas suas políticas migratórias. Se isso se destina a uma maior responsabilização, não apenas dos comissários mas dos países que os nomearam, é coisa que se verá nos tempos próximos. Carlos Moedas disse, reagindo à sua nova pasta, que “a Inovação e a Investigação são a chave para o crescimento que queremos na Europa: um crescimento sustentável que promova a qualidade de vida dos europeus”. Substituam-se as palavras “Europa” por Portugal e “europeus” por portugueses e peça-se, já agora, que o governo de Passos Coelho aja aqui como promete o seu comissário. Já era um princípio.