José de Mello garante que não fará despedimentos na ES Saúde
Grupo familiar lançou OPA concorrente à dos mexicanos, oferecendo 4,40 euros, mais dez cêntimos do que a Ángeles.
O sindicato bancário, liderado pelo Santander Totta, vai assegurar dois terços do financiamento da OPA concorrente sobre a ES Saúde, anunciou o Grupo José de Mello. O remanescente será assegurado pelo grupo familiar, esclareceu Vasco de Mello, em conferência de Imprensa nesta quinta-feira.
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O sindicato bancário, liderado pelo Santander Totta, vai assegurar dois terços do financiamento da OPA concorrente sobre a ES Saúde, anunciou o Grupo José de Mello. O remanescente será assegurado pelo grupo familiar, esclareceu Vasco de Mello, em conferência de Imprensa nesta quinta-feira.
Sobre a oferta de aquisição anunciada, o presidente do grupo sustenta “que uma operação desta natureza não é uma corrida para ver quem chega primeiro” e argumentou que o grupo é o único “com condições de desenvolver um projecto empresarial de base nacional que pode ambicionar ser uma referência internacional”.
Em termos de dimensão, a junção dos dois grupos permite controlar 7,6% das camas do mercado de saúde a nível nacional, incluindo nesta contabilidade o sector público e privado.
Nesta quinta-feira, em conferência de imprensa, o presidente da José de Mello Saúde, Salvador de Mello, garantiu que se ficar com a ES Saúde não irá haver despedimentos. “Não vamos despedir. Contamos com todos e com a equipa de gestão, liderada por Isabel Vaz”, assegurou. Tendo em conta que os dois são grupos nacionais, há no seio da ES Saúde o receio de que uma OPA bem-sucedida por parte da José Mello possa conduzir a alguns despedimentos, numa lógica de duplicação de algumas funções e de redução de custos.
Na análise que fez à investida dos mexicanos do grupo Ángeles, há dois dias, a equipa liderada por Isabel Vaz afirmou que “uma eventual conclusão com sucesso da oferta não implicará um movimento de concentração de empresas, não alterando o actual cenário de liberdade de escolha dos trabalhadores e clientes/pacientes e assegurando a manutenção do equilíbrio actual do mercado ao nível das seguradoras /sistemas de saúde/pagadores e dos fornecedores e Estado”.
Mostrando-se favorável à OPA dos mexicanos, até porque esta permitiria “o regresso sem restrições ao mercado financeiro” e mostrava haver “um alinhamento estratégico”, a gestão afirmava, no entanto, que embora o preço por acção (4,30 euros) fosse “aceitável”, poderia “não reflectir a totalidade de um potencial prémio de controlo”.
Em termos de concorrência, Salvador de Mello mostra-se convicto que “a oferta não cria problemas” a esse nível, cabendo, no entanto, a última palavra à Autoridade da Concorrência. O grupo, que tem dois hospitais em regime de Parceria Público-Privada (PPP), não espera também quaisquer problemas por parte do Ministério da Saúde devido ao facto de a ES Saúde ter no seu portefólio o Hospital de Loures, uma outra PPP. “Queremos desenvolver ainda mais a ES Saúde”, destacou.
Neste momento, a José de Mello Saúde, onde a Associação Nacional de Farmácias (ANF) tem 30%, é composta por 11 unidades de saúde, onde estão incluídos cinco hospitais. Com quase 1500 camas e 6655 trabalhadores, gere também um negócio de "soluções residenciais e domiciliárias para a a terceira idade".
Valorização na bolsa
A negociação das acções da Espírito Santo Saúde (ES Saúde) esteve suspensa até meio da manhã, para que os investidores pudessem assimilar a nova oferta. A negociação foi suspensa cinco minutos depois do arranque da sessão desta quinta-feira, numa altura em que o título subia 0,3%, para 4,40 euros, exactamente o preço oferecido na OPA concorrente agora lançada. A negociação foi retomada ao final da manhã, com as acções a valorizarem 4,56% para 4,59 euros, já acima da última contrapartida oferecida.
A OPA da José de Mello Saúde é geral, mas está condicionada à verificação de várias condições, entre as quais a aquisição de um mínimo de 50,01% dos direitos de voto correspondentes ao capital social da ES Saúde, detida em 51% pelo Grupo Espírito Santo e com 49% do capital disperso em bolsa.
Também a Ángeles condiciona a sua oferta ao controlo de mais de 50% dos direitos de voto da empresa portuguesa, que controla um elevado número de hospitais e clínicas em Portugal, entre os quais o Hospital da Luz, em Lisboa.
No anúncio preliminar da oferta enviada à CMVM, a José de Mello Saúde avança que poderá retirar a empresa de bolsa se conseguir obter mais de 90% dos direitos de voto, recorrendo para isso à aquisição potestativa das restantes acções.
Para o êxito das ofertas lançadas pelos mexicanos e pelo grupo português é fundamental que as acções detidas pelo Grupo Espírito Santo sejam vendidas.
A ES Saúde tem como maior accionista a Espírito Santo Healthcare Investments (ESHCI), que por sua vez é detida maioritariamente pela Rioforte, uma das empresas do Grupo Espírito Santo que pediu protecção de credores no Luxemburgo.
Após a devida autorização da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a aceitação das ofertas de aquisição agora lançadas está nas mãos da juíza luxemburguesa responsável pelo processo.