Geração E: de êxodo e exclusão
Chamemos-lhe “Geração E”: a dos jovens europeus que procuram na UE o presente-futuro que o país de origem não lhes podia oferecer
Mais um dia passou, mais cerca de 200 jovens portugueses pegaram na mala e deixaram oficialmente o país para tentarem a vida num novo destino. Serão muitos mais se contarmos os que não formalizam a mudança de residência nem deixam rasto nos gabinetes oficiais de estatísticas.
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Mais um dia passou, mais cerca de 200 jovens portugueses pegaram na mala e deixaram oficialmente o país para tentarem a vida num novo destino. Serão muitos mais se contarmos os que não formalizam a mudança de residência nem deixam rasto nos gabinetes oficiais de estatísticas.
A vaga é transversal aos países periféricos do Sul da Europa, onde a crise económica, a falta de oportunidades e as elevadas taxas de desemprego têm aberto caminho para a saída de centenas de milhar de pessoas em idade activa.
Chamemos-lhe “Geração E”: a dos jovens europeus que procuram na UE o presente-futuro que o país de origem não lhes podia oferecer.
“E” de êxodo?
Os que deixaram Portugal nos últimos dois anos de forma permanente bastariam para esvaziar uma cidade como Coimbra. De acordo com dados do INE, em 2012 e 2013 foram mais de 105 mil as saídas de todas as idades. Desde 2010, 175 mil: Amadora inteira tornada deserto.
Na faixa dos 20 aos 40, os que decidiram emigrar de forma permanente ou temporária a partir de 2010 serão quase tantos quanto a população da segunda cidade do país. O "check-in" do aeroporto do Porto a distribuir cartões de embarque para mais de 200 mil jovens em êxodo. Lançam-se alertas sobre a “fuga de cérebros” e a dita “emigração qualificada”, mas ainda hoje “mais de metade da população [portuguesa] emigrada [nos países da OCDE] continua a ter apenas o nível básico de escolaridade”, 61%, segundo o primeiro relatório anual sobre emigração portuguesa [pdf], lançado pelo governo em finais de Julho.
Dados provisórios de Espanha apontam para perto de 35 mil pessoas entre os 20 e os 40 anos que terão emigrado em 2013. Mas como nos outros países, acredita-se que as fontes nacionais “subestimam substancialmente a emigração”. Um estudo publicado no final de 2013 pelo Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) diz que “é mais provável que o número [total] se aproxime das 700 mil pessoas entre 2008 e 2012 do que das 225 mil estimadas por fontes oficiais”.
Em Itália, foram registadas 94 mil saídas em 2013 - um aumento de 19,2% comparativamente a 2012 - metade das quais, pessoas com menos de 40 anos. (dados: Aire). No caso da Grécia, país onde a taxa de desemprego jovem atinge valores mais altos (perto dos 60% em 2013), as estimativas da emigração não são exaustivas - se são sequer existentes. A Autoridade Helénica de Estatísticas não faz registo dos fluxos de migração gregos.
“E” de excluídos das estimativas
Quantos e quem são, para onde vão? Qual o rastilho que levou à decisão de partir? Pretendem regressar ou é lá que querem ficar? Que dificuldades encontra hoje a jovem diáspora - quais as esperanças que alimentam o seu futuro? O projecto “Geração E” convida à partilha de histórias na primeira pessoa desta geração que atravessa as fronteiras imaginárias do velho continente para reinventar o “mundo-da-vida” num outro país. Alargando o espectro da chamada “geração Y” (a dos “nascidos entre 1980 e 1994 - ou 99”), propomos recuar a 1974 e trazer à luz histórias dos emigrantes de hoje que nasceram no período que marca os primeiros 20 anos da democracia em Portugal.
Estórias de escape ou simples emigração, começam desde esta segunda-feira a ser recolhidas em português, italiano, grego, espanhol e inglês através do website GenerationE.eu. O projecto é lançado por uma equipa internacional de jornalistas dedicada ao levantamento, cruzamento e análise de dados. Serão recolhidos depoimentos de jovens emigrantes dos quatro países e entrevistados investigadores e decisores que lidam com as políticas da juventude e migração na Europa.
Os resultados da investigação incluirão mapas e visualizações interactivas e serão publicados no final de Outubro por parceiros em Portugal (um exclusivo do P3), Espanha (El Confidencial), Itália (Il Fatto Quotidiano) e Grécia (Rádio Bubble). Se tens menos de 40 anos e deixaste Portugal nos últimos anos, conta-nos a tua história. Se tens amigos que pertencem a esse tecido social que compõe hoje uma Europa mais unida convida-os a partilhar a história da “Geração E”. Podem fazê-lo através do website oficial, página e grupo no Facebook ou acompanhando a hashtag #GenerationE no Twitter.