Lenços brancos em noite de eclipse total
Portugal continua refém dos seus fantasmas. À desilusão do Mundial 2014, seguiu-se o desastre no arranque da corrida ao Euro 2016. A Albânia, que nunca tinha vencido a congénere portuguesa, fez história em Aveiro.
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O historial recente (um empate a zero e uma vitória pela margem mínima arrancada a ferros, em 2010) já tinha ensinado aos portugueses que enfrentar a Albânia não são favas contadas. Mas daí a antever-se uma derrota, em casa, vai uma longa distância. Especialmente depois do mea culpa pós-Mundial 2014 e depois de anunciado um novo capítulo na vida de uma selecção em fase de mudança de pele.
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Dois dos rostos desse projecto de renovação fizeram parceria com João Moutinho no meio-campo, em Aveiro: William Carvalho no lugar que costumava ser de Miguel Veloso (no banco), André Gomes com as rotinas que eram desempenhadas por Raul Meireles (no banco). No tridente ofensivo, Vieirinha evoluía (mas pouco) à esquerda, Nani à direita e Éder ocupava o eixo do ataque. O 4-3-3 de Paulo Bento enfrentava o 4-3-3 de Gianni de Biasi.
Eram duas equipas com o mesmo sistema, mas com dinâmicas diferentes. Os visitantes, mais confortáveis na organização defensiva (a imagem de marca da Albânia desde que o seleccionador italiano tomou conta da equipa, em Dezembro de 2011), os anfitriões a assumirem abertamente as despesas, em organização ofensiva, ainda que sem grande objectividade.
De resto, foi da velha guarda que Portugal quase sempre se serviu para criar desequilíbrios. Moutinho, inicialmente no papel de elemento mais adiantado do meio-campo, combinou bem com Nani para o melhor lance do primeiro tempo, que terminou com um remate cruzado e para fora. Depois, foi o extremo a descobrir Éder na área, para um cabeceamento medíocre. E só em mais dois lances de bola parada a selecção nacional conseguiu assustar o guarda-redes albanês, um dos mais assobiados da noite.
Etrit Berisha fazia o seu papel, atrasando como podia a reposição da bola em jogo e travando de forma eficaz as ténues tentativas de golo do adversário. No meio-campo, Kaçe ficara, surpreendentemente, no banco, mas Kukeli deu bem conta do recado no papel de médio mais recuado. A estratégia defensiva da Albânia, sempre bem arrumada num 4-5-1 no momento da transição, engolia Portugal.
Ia ser preciso algo mais na segunda parte se Paulo Bento queria começar a apagar a má imagem deixada no Brasil. Vieirinha fica nas cabines, Ivan Cavaleiro salta para o relvado. E foi justamente por esse flanco, o esquerdo, que se completou o eclipse português. Odise Roshi, um ala voluntarioso, foi à linha final cruzar com perícia para uma finalização imaculada de Bekim Balaj (o avançado do Slavia Praga fez ontem o quinto jogo e o primeiro golo pela selecção), à meia-volta e sem deixar a bola cair (52’).
Por esta altura, Portugal estava perdido no labirinto da sua própria incapacidade. Saiu de pronto William para Ricardo Horta ser lançado às feras (e o atacante ex-V. Setúbal ainda protagonizou o melhor momento ofensivo, com um remate à trave); mais tarde Ricardo Costa deu o lugar a Miguel Veloso. Mas já não havia discernimento, apenas vontade. E a vontade não chega, mesmo contra adversários modestos. Berisha podia recolher descansado aos balneários, os assobios tinham um novo destinatário. E vinham acompanhados de lenços brancos.
Ficha de Jogo
Portugal, 0
Albânia, 1
Jogo no Estádio Municipal de Aveiro, em Aveiro.
Assistência 23.205 espectadores
Portugal Rui Patrício, João Pereira, Ricardo Costa (Miguel Veloso, 74’), Pepe, Fábio Coentrão, William Carvalho (Ricardo Horta, 56’), Moutinho, André Gomes, Nani, Vieirinha (Ivan Cavaleiro, 46’) e Éder. Treinador Paulo Bento.
Albânia Berisha, Hysaj, Cana, Mavraj, Agolli, Kukeli (Kaçe, 66’), Roshi, Xhaka, Abrashi, Lenjani (Lila, 75’) e Balaj (Cikalleshi, 82’). Treinador Giovanni de Biasi.
Golos Balaj 52’
Árbitro Rudy Buquet (França) Cartões amarelos Roshi (4'), Abrashi (21'), Xhaka (34'), Mavraj (68'), Nani (69'), Kaçe (69'), Berisha (70')