Projecto vai adaptar lares de idosos a utentes com demências

União das Misericórdias Portuguesas lança esta sexta-feira o projecto VIDAS-Valorização e Inovação em Demências

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Muitos lares de idosos não estão adaptados a utentes com demências Daniel Rocha

“Muitas unidades não foram pensadas para pessoas com demências em grande dependência, foram pensadas para pessoas mais independentes”, afirma a neuropsicóloga Ana Catarina Santos, uma das investigadoras deste projecto. Mas “a população dos lares mudou radicalmente nos últimos 15 anos: eram pessoas mais autónomas, hoje são sobretudo pessoas com grande dependência física e com demências”, diz o médico Manuel Caldas de Almeida, responsável pelo projecto. Este facto é consequência, por um lado, do aumento da esperança de vida e consequente crescimento das demências, notando que aos 65 anos a sua incidência é de 5%, aos 85 já é de 30%, e, por outro lado, da multiplicação do apoio domiciliário pelo país que fez com que as pessoas fiquem em casa durante mais tempo, explica. Assim, quando são internadas em lares as pessoas chegam já com mais idade e mais fragilizadas do que há uns anos atrás, explica o médico da União das Misericórdias Portuguesas.

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“Muitas unidades não foram pensadas para pessoas com demências em grande dependência, foram pensadas para pessoas mais independentes”, afirma a neuropsicóloga Ana Catarina Santos, uma das investigadoras deste projecto. Mas “a população dos lares mudou radicalmente nos últimos 15 anos: eram pessoas mais autónomas, hoje são sobretudo pessoas com grande dependência física e com demências”, diz o médico Manuel Caldas de Almeida, responsável pelo projecto. Este facto é consequência, por um lado, do aumento da esperança de vida e consequente crescimento das demências, notando que aos 65 anos a sua incidência é de 5%, aos 85 já é de 30%, e, por outro lado, da multiplicação do apoio domiciliário pelo país que fez com que as pessoas fiquem em casa durante mais tempo, explica. Assim, quando são internadas em lares as pessoas chegam já com mais idade e mais fragilizadas do que há uns anos atrás, explica o médico da União das Misericórdias Portuguesas.

No país estima-se que haja 160 mil pessoas com demência, 90 mil só com Alzheimer, afirma. Mas quantos serão nos lares? Conhecer a prevalência deste problema é então um dos objectivos do projecto VIDAS, que esta sexta-feira é oficialmente lançado numa cerimónia que decorre em Fátima, e que é feito em parceria com Direcção-geral de Saúde, Alzheimer Portugal, Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade , Hospital do Mar, unidade privada nos arredores de Lisboa, e Hospital Magalhães de Lemos, no Porto.

 Um grupo de seis psicólogos irá estudar, através de uma bateria de provas de avaliação neuropsicológica, um grupo de 1600 utentes de 23 instituições por todo o país, 22 de misericórdias e uma instituição particular de solidariedade social, e cujo trabalho será depois validado por médicos neurologistas. As Misericórdias dão cuidados a cerca de 60 mil idosos no país.

Ana Catarina Santos estima que a percentagem de pessoas afectadas que irão encontrar seja alto, algo entre os 30 e 50%. Também vão querer saber em que fase da doença estão estes utentes, porque isso tem importância para adaptar o tipo de cuidados e ambientes, junta Manuel Caldas de Almeida. "Se estão numa fase inicial, com perdas de memórias mas em que ainda conhecem as pessoas, ganham com actividades de reabilitação, quando deixam de poder comunicar o importante é dar conforto”.

Um dos objectivos do programa é adaptar os espaços já existentes a esta  população. “Há coisas muito simples que podem ser feitas e que melhoram a qualidade de vida dos doentes”, diz a arquitecta Carla Pereira, que coordena a vertente do projecto ligado à arquitectura e ambiente. A este propósito lembra um filme protagonizado pelo actor Robin Williams, Despertares, que se passa numa instituição de doentes psiquiátricos. Na unidade há uma doente que deixa de andar sempre no mesmo sítio, quando o padrão de quadrados é interrompido, passando a ser todo branco. Decidem então pintar aquele pedaço com o mesmo padrão de quadrados e a doente passou a avançar. Uma solução simples, nota.

Carla Pereira diz que há doentes com demência que perdem competências visuais, em que um reflexo ou uma sombra no chão pode ser visto como um buraco e a pessoa tem medo e paralisa, então tudo o que tem a ver com iluminação, com criar espaços de continuidade, sem quebras, pode ser feito com pequenas adaptações.

Outra questão importante é a sinalética, sublinha. Muitos doentes perdem o sentido de orientação, a indicação ideal para o refeitório pode passar por colocar uma fotografia do próprio espaço de refeições com uma seta. Para as pessoas encontrarem o seu quarto às vezes não basta pôr uma foto porque há pessoas que já não reconhecem o seu próprio rosto, então pode colocar-se um desenho que a pessoa tenha feito recentemente, uma foto vinda juventude da pessoa, exemplifica. “Não é fácil ter normas genéricas, é importante conhecer a história de vida”. Da avaliação das condições arquitectónicas resultarão recomendações.

Outras das valências deste programa é a da formação, explica Manuel Caldas de Almeida. “Está provado que se as pessoas que cuidam destas pessoas tiverem formação específica, aprendendo a relacionar-se, a falar, evitamos em 90% as manifestações secundárias da demência, a agitação, a agressividade, a ansiedade”.