Jardim Botânico da Universidade de Lisboa agoniza à espera de obras
Existe apenas um jardineiro “residente” para tratar dos quatro hectares deste espaço centenário. Projecto de requalificação que venceu Orçamento Participativo em 2013 tarda em avançar.
A falta de jardineiros é uma das maleitas de que padece este jardim centenário, integrado no Museu Nacional de História Natural e de Ciência (MNHNC), da Faculdade de Ciências. Actualmente há apenas um jardineiro nos quadros, que tem a seu cargo quase 1500 espécies vegetais dos quatro cantos do mundo, entre as quais estão árvores de grande porte, como araucárias, cactos, figueiras e palmeiras.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A falta de jardineiros é uma das maleitas de que padece este jardim centenário, integrado no Museu Nacional de História Natural e de Ciência (MNHNC), da Faculdade de Ciências. Actualmente há apenas um jardineiro nos quadros, que tem a seu cargo quase 1500 espécies vegetais dos quatro cantos do mundo, entre as quais estão árvores de grande porte, como araucárias, cactos, figueiras e palmeiras.
Através do Instituto do Emprego e Formação Profissional, este ano foram contratadas a prazo mais quatro pessoas para ajudar na manutenção do espaço, mas “demoraram três meses a chegar”, o que deixou o jardim numa situação “catastrófica”, lamenta o director do museu, José Pedro Sousa Dias. “Tememos que volte a acontecer no próximo ano”, diz o responsável, até porque “não há muitos jardineiros disponíveis para trabalhar na função pública”.
Além da falta de pessoal, faltam verbas para assegurar o normal funcionamento do espaço. “A despesa com a rega foi sempre um problema muito grande, gastamos anualmente 80 mil euros em água”, afirma Sousa Dias. Sem revelar qual o orçamento da Universidade de Lisboa para o MNHNC, o director diz que “é um valor elevado” e que as receitas próprias do museu não chegam para cobrir 20% da despesa total. Apesar de não ter diminuído o número de visitantes, que ronda os 80 mil por ano, houve uma quebra nas actividades com as escolas.
O resultado está à vista: algumas plantas estão a secar, há árvores a precisar de poda e palmeiras a morrer - o escaravelho-vermelho já dizimou algumas e o director do MNHNC receia que a praga se transforme num “pesadelo", perante a falta de verbas para a combater.
Os três lagos que existem no jardim também estão em mau estado, sobretudo o que está situado na zona do Arboreto (à esquerda da entrada pela Rua da Escola Politécnica), o designado Lago de Baixo. Actualmente vazio “devido ao fendilhamento das suas paredes”, como se lê na página dedicada ao Jardim no site Monumentos, o Lago de Baixo vai ser um dos alvos da intervenção da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que tarda em arrancar.
Com 7553 votos, a proposta de requalificação do Botânico foi a grande vencedora do Orçamento Participativo em 2013, tendo-lhe sido atribuídos 500 mil euros. Mas o projecto ainda não está pronto. “Há uma série de ideias que estão a ser trabalhadas mas ainda não há projecto. Os prazos deslizaram um pouco, as obras deviam estar a começar agora”, conta Sousa Dias. “Acredito e espero que ainda comecem este ano”, acrescenta.
Em resposta ao PÚBLICO, o Departamento de Comunicação da câmara informa que a verba para o projecto só ficou inscrita no orçamento municipal para 2014. Os prazos de execução previstos, no total de 18 meses, "contam a partir da aprovação do Orçamento da CML e não são o prazo para a obra estar concluída, mas sim o tempo necessário para a elaboração dos respectivos projectos, lançamento de empreitada, etc", afirma. A mesma fonte acrescenta que o projecto está "em curso, na fase de elaboração do Projecto Base de Arquitectura Paisagista e respectivas especialidades, fase que antecederá a elaboração do Projecto de Execução".
O valor a ser investido pela autarquia é “muito pouco” para fazer face a todos os problemas do Botânico, admite Sousa Dias, mas já é uma ajuda preciosa. “Definimos três objectivos prioritários e estabelecemos que nenhum ultrapassaria 35% do valor total”, explica o responsável do MNHNC. São eles a renovação dos sistemas de armazenamento de água (com a impermeabilização do Lago de Baixo) e de rega, a recuperação dos caminhos e de algum edificado, e a criação de zonas de estar para os visitantes, como esplanadas, cafetarias e canteiros com relvado.
Observatório Astronómico em risco
Inaugurado em 1878, o Jardim Botânico de Lisboa foi plantado para apoiar o ensino da botânica na então Escola Politécnica. No coração do jardim está ainda o Observatório Astronómico, o único observatório oitocentista de ensino existente em Portugal. No entanto, os edifícios estão já de tal forma degradados que se aproximam do “ponto de não retorno”, lamenta Sousa Dias.
O projecto para restaurar os imóveis está feito mas são precisos dois milhões de euros para avançar com a obra. “Com um milhão de euros já conseguíamos travar a degradação da parte exterior e da cobertura, sobretudo do edifício da zona superior [onde ainda existe um telescópio, na cúpula], que é onde a ruína pode ser irreversível”, afirma.
Em 2011, foi apresentada uma candidatura ao Fundo de Salvaguarda do Património Cultural que, segundo Sousa Dias, foi aceite mas o dinheiro nunca apareceu. Em Janeiro deste ano foi feita nova candidatura, até agora sem resposta. O observatório, que era usado para apoio ao ensino na Escola Politécnica, foi desactivado em 2002 e está interdito há três anos, cercado de andaimes e tapado por panos já esfarrapados. “Tem uma cobertura de protecção, que também nos está a custar dinheiro”, diz o director. A recuperação permitiria retomar as actividades educativas para alunos dos ensinos básico e secundário e abrir o espaço aos turistas.