União Europeia doa 140 milhões de euros para luta contra o ébola

Financiamento vai dividir-se no reforço dos sistemas de saúde dos países africanos afectados, em laboratórios móveis e em apoio orçamental à Libéria e à Serra Leoa. Em cinco dias, a epidemia fez mais 296 mortos e infectou 638 pessoas.

Foto
Pessoal médico da Cruz Vermelha da Libéria carregam o corpo de uma pessoa que morreu devido ao ébola em Banjol, uma pequena cidade a 30 quilómetros de Monróvia, a capital Dominique Faget/AFP

Na quarta-feira, David Nabarro, coordenador das Nações Unidas para o combate do ébola, disse que eram necessários 600 milhões de dólares (462,98 milhões de euros) para combater o surto, cerca de 80 milhões a mais do que foi divulgado no plano de combate contra o ébola, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que definia as acções a tomar para conter o surto dentro de seis a nove meses.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na quarta-feira, David Nabarro, coordenador das Nações Unidas para o combate do ébola, disse que eram necessários 600 milhões de dólares (462,98 milhões de euros) para combater o surto, cerca de 80 milhões a mais do que foi divulgado no plano de combate contra o ébola, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que definia as acções a tomar para conter o surto dentro de seis a nove meses.

Em apenas cinco dias, o vírus do ébola matou mais 296 doentes e infectou 638 pessoas. Ao todo, até 31 de Agosto, o pior surto de ébola de sempre já atingiu 3707 e matou 1841 pessoas na Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal, de acordo com dados desta quinta-feira da OMS. Segundo a organização, o vírus está “espalhado e com transmissão intensa” na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa. No seu plano de acção, a OMS estimava que até ao fim da crise, 20.000 pessoas seriam ao todo infectadas pelo vírus.

O surto é “extremamente preocupante”, defendeu Andris Piebalgs, comissário europeu pelo Desenvolvimento, no comunicado da Comissão Europeia. Além de ter “impacto sobre os serviços de saúde” daqueles países, a epidemia põe em causa a “estabilidade económica, segurança alimentar, abastecimento de água e saneamento” da região. O pacote será usado tanto “durante a crise como na fase de recuperação”, lê-se no comunicado.

Dos 140,5 milhões de euros do pacote da UE, 38 milhões serão destinados para os cuidados de saúde, segurança alimentar e abastecimento de água e saneamento. Outros cinco milhões serão gastos em laboratórios móveis, detecção do vírus e a formação dos profissionais da saúde. Os restantes 97,5 milhões de euros vão especificamente para a Libéria e a Serra Leoa – os dois países mais afectados pelo surto, cujos sistemas de saúde estão completamente sobrecarregados devido à epidemia. O financiamento servirá para “reforçar a capacidade de prestação de serviços públicos e a estabilidade macroeconómica”.  

Enquanto em Genebra, na Suíça, estão reunidos 200 especialistas internacionais numa conferência de dois dias da OMS, que termina nesta sexta-feira, para uma avaliação de potenciais terapias e vacinas contra o ébola, as associações de saúde internacionais repetem os pedidos de urgência para responder esta crise. Depois de a presidente dos Médicos Sem Fronteiras, Joanne Liu, ter criticado a inacção da comunidade internacional, agora é a vez de um responsável da Cruz Vermelha exigir uma resposta.

“Em duas semanas a crise tornou-se mais alarmante do que nunca. O factor tempo é crucial para travar e conter a ameaça do ébola”, disse num comunicado Elhadj As Sy, secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha, citado pela agência AFP.

Há 1700 voluntários da Cruz Vermelha nos países com ébola que descobrem os doentes, retiram os corpos dos que não sobreviveram ao ébola e localizam pessoas que estiveram em contacto com os infectados. Segundo o responsável, estes trabalhadores “estão a chegar ao seu limite e estão completamente exaustos”.

“O medo, a ignorância e a estigmatização minam a eficácia dos esforços locais e alimentam um ciclo vicioso que só poderá ser quebrado se houver o envolvimento duradouro de todos os parceiros”, defendeu Elhadj As Sy, que apoia “sem reserva” o apelo dos Médicos Sem Fronteiras para a comunidade internacional colocar na região o equipamento necessário ao combate da epidemia.

Não há nenhum tratamento comprovado para curar o ébola, ou uma vacina. Mas há vários tratamentos e vacinas experimentais que poderão vir a ser utilizados, desde que a OMS considerou ser ético o uso no contexto do actual surto. Há oito fármacos e “duas vacinas promissoras” com potencial contra o vírus, de acordo com um documento que a OMS divulgou na quarta-feira, como material de trabalho para a conferência de dois dias em Genebra.

Segundo o documento, poderá haver “algumas centenas de doses no final de 2014” do ZMapp, um dos oito tratamentos potenciais e o único que já foi utilizado no actual surto em sete pessoas (duas morreram). O stock do medicamento ficou esgotado, de acordo com Mapp Biopharmaceutical, a empresa de biotecnologia norte-americana que produz o ZMapp. O fármaco já mostrou tratar primatas com ébola com uma taxa de sucesso de 100%, mas ainda não se comprovou a sua eficácia em humanos.

A reunião da OMS, à porta fechada, tem como objectivo o desenvolvimento dos fármacos mais promissores, no menor tempo possível. “O desenvolvimento em termos de os registar e em termos de os colocar nos centros de tratamento na maior quantidade possível para fazer a diferença nas vidas das pessoas”, referiu Marie-Paule Kieny, vice-directora-geral dos Sistemas de Saúde e da Inovação da OMS, que está a presidir à reunião.

Apesar do desenvolvimento de fármacos estar mais atrasado, a produção das vacinas “parece melhor”, disse a responsável, citada pela agência Reuters. Segundo responsáveis da farmacêutica GlaxoSmithKline, os ensaios clínicos em humanos para avaliar a segurança de uma vacina contra o ébola começam nesta semana. A NewLink Genetics Corp, que tem outra vacina em espera, disse que a agência federal dos Estados Unidos que regula os medicamentos (a FDA, sigla para Food and Drug Administration) já deu autorização para o início dos ensaios clínicos de segurança.