Ban Ki-moon pede “pessoas, material e financiamento” para combater o ébola

Nações Unidas vão criar um gabinete de crise, enquanto a União Europeia reuniu pacote de 140 milhões de euros para ajudar os países africanos. Vírus duplicou o número de mortes em menos de um mês.

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Um médico da Cruz Vermelha da Libéria em Banjol, uma pequena cidade a 30 quilómetros de Monrávia Dominique Faget/AFP

Estes são alguns sinais de que a comunidade internacional poderá estar finalmente a acordar para o pior surto de sempre desta febre hemorrágica, qua surgiu em 1976, na República Democrática do Congo, ex-Nigéria.

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Estes são alguns sinais de que a comunidade internacional poderá estar finalmente a acordar para o pior surto de sempre desta febre hemorrágica, qua surgiu em 1976, na República Democrática do Congo, ex-Nigéria.

A 11 de Agosto, a OMS dava conta de 1013 mortos e 1848 casos de ébola, já depois de declarar a epidemia uma emergência internacional. Desde aí, os casos subiram em flecha. “O número de casos está a aumentar exponencialmente. A doença está a espalhar-se mais rápido do que a resposta dada. As pessoas estão cada vez mais frustradas”, disse Ban Ki-moon, em Nova Iorque, citado pela agência Reuters. “O objectivo é parar a transmissão do ébola nos países afectados dentro de seis a nove meses, e prevenir que o vírus se espalhe a nível internacional”, adiantou o responsável. “Isto só poderá ser feito se houver a mobilização necessária e urgente nos países afectados e na comunidade internacional.”

Para deter este vírus serão necessários 600 milhões de dólares (462,98 milhões de euros), de acordo com o responsável, cerca de 80 milhões a mais do que foi divulgado no plano de combate contra o ébola, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no final de Agosto, que definia as acções a tomar para conter o surto. No seu plano de acção, a OMS estimava que até ao fim da crise, 20.000 seriam infectadas pelo vírus.

“Precisamos de contribuições”, continuou Ban Ki-moon, “pessoas, material e financiamento – de governos, do sector privado, de instituições financeiras, de organizações não-governamentais e de outros grupos”. Para haver uma sinergia dos esforços e uma eficiência na acção, a ONU resolveu ainda “criar um centro de crise do ébola”.

Nesta sexta-feira, a União Europeia (UE) anunciou a criação de um pacote de 140,5 milhões de euros para o combate da epidemia que será usado tanto “durante a crise como na fase de recuperação”. O surto é “extremamente preocupante”, defendeu Andris Piebalgs, comissário europeu pelo Desenvolvimento, no comunicado da Comissão Europeia. Além de ter “impacto sobre os serviços de saúde” daqueles países, a epidemia põe em causa a “estabilidade económica, segurança alimentar, abastecimento de água e saneamento”.

Dos 140,5 milhões de euros do pacote da UE, 38 milhões serão destinados para os cuidados de saúde, segurança alimentar e abastecimento de água e saneamento. Outros cinco milhões serão gastos em laboratórios móveis, detecção do vírus e a formação de profissionais da saúde. Os restantes 97,5 milhões de euros vão especificamente para a Libéria e a Serra Leoa – para “reforçar a capacidade de prestação de serviços públicos e a estabilidade macroeconómica”.  

Elhadj As Sy, secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha, dá uma imagem que traduz os números da OMS. “Em duas semanas a crise tornou-se mais alarmante do que nunca”, disse num comunicado, citado pela agência AFP. Há 1700 voluntários da Cruz Vermelha nos países afectados. O seu trabalho passa por descobrir doentes, retirar corpos e localizar pessoas que estiveram em contacto com os infectados. Segundo o responsável, estes trabalhadores “estão completamente exaustos”.

Não há nenhum tratamento comprovado para curar o ébola, ou uma vacina. Mas há vários tratamentos e vacinas experimentais que poderão vir a ser utilizados, desde que a OMS considerou ser ético este uso no contexto do actual surto. Nesta sexta-feria termina em Genebra um encontro de dois dias da OMS à porta fechada para acelerar o desenvolvimento dos fármacos mais promissores, no menor tempo possível. O encontro reuniu cerca de 200 especialistas.

A solução que pode chegar mais rapidamente aos doentes será o uso de soro de pessoas que sobreviveram ao ébola e terão desenvolvido anticorpos para combater o vírus, concluíram os responsáveis da OMS.

“Há uma oportunidade real que produtos derivados do sangue possam ser usados agora. Isto pode ser muito eficaz para o tratamento dos pacientes”, explicou Marie-Paule Kieny, da direcção da OMS, numa conferência de imprensa, citada pela Reuters. “Com o lado negativo de que temos tantos doentes vem o lado positivo de que há muitas pessoas que estão em convalescença, que sobreviveram e estão a ficar bem. Estas pessoas podem dar sangue, soro para tratar [outros doentes]”, disse a responsável, que presidiu ao encontro. “O que existe será usado no terreno para tratar doentes reais o mais cedo possível.”

Há ainda oito fármacos e “duas vacinas promissoras” com potencial de combater o vírus, de acordo com um documento que a OMS divulgou na quarta-feira. Segundo esse documento, poderá haver “algumas centenas de doses no final de 2014” do ZMapp, o único fármaco que já foi usado no actual surto em sete pessoas (duas morreram). O stock ficou esgotado, de acordo com Mapp Biopharmaceutical, a empresa de biotecnologia norte-americana do ZMapp. O fármaco já mostrou tratar primatas com ébola, mas ainda não foi alvo de ensaios clínicos em humanos e não se sabe se realmente funciona.

Apesar do desenvolvimento de fármacos estar mais atrasado, a produção das vacinas “parece melhor”, adiantou Marie-Paule Kieny. A farmacêutica GlaxoSmithKline disse que ia começar os ensaios clínicos em humanos para avaliar a segurança de uma vacina nesta semana. A NewLink Genetics Corp, que tem outra vacina, revelou que já tem autorização para o início dos ensaios clínicos de segurança nos Estados Unidos.

Já em Novembro, haverá resultados em relação à segurança destas duas vacinas. “Se os resultados forem positivos, [as vacinas] vão começar a ser administradas aos trabalhadores de saúde para os proteger”, explicou Marie-Paule Kieny, acrescentando que também vão avaliar a sua eficácia para verificar se realmente tornam as pessoas imunes ao ébola.