Cartas de Sapana: ela escreve e envia as cartas em teu nome
Patrícia Cardoso escreve cartas personalizadas: as mensagens podem ser enviadas para qualquer parte do mundo e o preço do serviço varia entre os 10 e os 20 euros
O que Patrícia Cardoso propõe é muito simples: substituir o clássico “post” no Facebook pela clássica correspondência pelo correio. Patrícia chamou-lhe Cartas de Sapana. E as Cartas de Sapana mais não é do que um serviço para quem não sabe, não quer ou não gosta de escrever uma simples carta. Seja ela qual for. Patrícia tanto pode escrever cartas amorosas como cartas, digamos, menos calorosas.
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O que Patrícia Cardoso propõe é muito simples: substituir o clássico “post” no Facebook pela clássica correspondência pelo correio. Patrícia chamou-lhe Cartas de Sapana. E as Cartas de Sapana mais não é do que um serviço para quem não sabe, não quer ou não gosta de escrever uma simples carta. Seja ela qual for. Patrícia tanto pode escrever cartas amorosas como cartas, digamos, menos calorosas.
“Recebo”, explica Patrícia, “pedidos de pessoas de todos os géneros e de todas as idades”. E exemplifica: “Já tive uma rapariga de 30 anos que quis enviar uma carta ao pai; um senhor de 44, que vive no Luxemburgo, e que quis enviar uma carta a uma tia em Portugal; e, também, um rapaz de 20 anos que pediu para que eu escrevesse uma carta à irmã, porque eles têm uma relação muito especial”.
Num mundo cada vez mais digital, um serviço como este pode não fazer sentido aos olhos de algumas pessoas. Mas na opinião da sua impulsionadora, a comunicação via Internet não tem a mesma força e banaliza as relações: “Estamos rodeados de meios para falar, mas falamos cada vez menos e cada vez menos profundamente. É preciso”, explica a jovem de 27 anos, “que as pessoas se lembrem o quão especiais são as relações”.
Foi durante o tempo em que viveu no Rio de Janeiro que Patrícia Cardoso, licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, decidiu criar este serviço, que é uma “ponte entre quem está longe mesmo estando perto”.
“Nos dois anos e meio em que vivi no Rio de Janeiro tinha toda a gente aqui [em Portugal]. Eu sempre gostei muito de escrever cartas, mas claro que a comunicação era feita sobretudo pela Internet. O que me levou a pensar mais a sério neste assunto foi”, recorda, “uma conversa com uma rapariga de 18 anos, que me contou que nunca tinha recebido uma carta. Isso marcou-me imenso e eu decidi criar um projecto que devolvesse importância quer às cartas de papel quer às palavras. Afinal, quem é que não gosta de chegar ao correio e de ter lá uma carta em seu nome?”.
A influência do Nepal
O serviço das Cartas de Sapana concretiza-se através de uma conversa entre o remetente e Patrícia – a autora precisa de saber o motivo da missiva, o tipo de relação entre os interlocutores e, para que seja conferida mais personalização ao texto, “dois ou três momentos marcantes que essas pessoas passaram juntas”. “Nunca quero entrar na privacidade das pessoas”, garante. Mas, para que a carta se torne na “melhor”, precisa de perceber a relação que une o cliente ao destinatário. Depois de recolhidas as informações e escrita a carta, Patrícia envia um rascunho ao cliente e só depois de o mesmo ser aprovado é que o resultado final é enviado.
Não existe um modelo predefinido, diz, pois todas as cartas são escritas especialmente “para aquela pessoa”. Podem ser enviadas para qualquer parte do mundo e o preço do serviço varia entre os 10 e os 20 euros.
O contacto pode ser feito via Facebook, email ou telefone (em breve o projecto vai ter também um blogue). As cartas são enviadas com selo do projecto, cuja imagem gráfica recorre ao elefante. Esta é uma consequência da viagem de Patrícia ao Nepal, em 2009, onde foi acolhida por uma família que a apelidou de Sapana, que, em nepalês, significa sonho.
A adesão tem sido “boa”. Têm recorrido aos seus serviços pessoas de todos os géneros e idades, o que para Patrícia é positivo, porque significa que está a chegar a um público jovem, para além do que seria esperado. “Claro que não tenho pessoas a pedir para enviar cartas todos os dias. As cartas surgem em momentos especiais. Mas tem corrido bem. Tenho recebido muitos elogios”, explica, porque “as pessoas ficam agradavelmente surpreendidas”.