Portugal obtém 3500 milhões de euros na emissão de dívida a 15 anos
Procura ultrapassou os 8000 milhões de euros. Foi a primeira vez em seis anos que o IGCP lançou uma emissão de obrigações com prazo superior a dez anos.
A operação, realizada com o suporte de um sindicato de bancos encarregados de angariar investidores interessados, registou uma procura superior a 8000 milhões de euros (2,3 vezes o financiamento obtido), segundo dados da agência Reuters.
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A operação, realizada com o suporte de um sindicato de bancos encarregados de angariar investidores interessados, registou uma procura superior a 8000 milhões de euros (2,3 vezes o financiamento obtido), segundo dados da agência Reuters.
Os títulos de dívida foram negociados com um prémio de 235 pontos base acima da taxa de juro de referência, o que representa uma taxa de juro inferior a 4%.
Foi a primeira vez em seis anos que o IGCP, agência responsável pela gestão da dívida pública, realizou uma emissão a 15 anos. O IGCP está a realizar esta emissão com a ajuda de um grupo de seis bancos, mandatados para captar investidores interessados em comprar títulos obrigacionistas, com quem o preço foi negociado numa base individual.
Através deste modelo de emissão de dívida, o Tesouro tinha, à partida, mais garantias de que a operação seria bem-sucedida, uma vez que existe procura suficiente logo que a emissão arranca.
No caso do leilão desta quarta-feira, a intermediação foi assegurada por um sindicato de bancos composto pela CaixaBI (banco de investimento do grupo Caixa Geral de Depósitos), Morgan Stanley (EUA), Nomura (Japão), Deutsche Bank (Alemanha), Crédit Agricole (França) e Danske Bank (Dinamarca).
Para Steven Santos, gestor da XTB Portugal, a emissão desta quarta-feira foi uma oportunidade de o Tesouro português beneficiar da descida dos juros na zona euro para conseguir financiamento que só é reembolsado em prazos superiores aos dez anos das emissões de dívida, mais comuns.
E em emissões de longo prazo acorrem, por norma, seguradoras e fundos de pensões, “que precisam de investir em períodos alargados”, nota o analista, num comentário enviado às redacções.
O analista nota o facto de o IGCP beneficiar da janela de oportunidade com uma emissão recente de Espanha, que colocou mil milhões de euros em obrigações a 50 anos na segunda-feira, com um juro de 4%. E sublinha o facto de o IGCP ter colocado “obrigações com uma procura forte e um spread de apenas 235 pontos base, apesar de os relatos desta manhã sobre o cessar-fogo permanente na Ucrânia terem retirado suporte a activos de refúgio, como as bunds (obrigações alemãs a dez anos) e o ouro”.
Numa altura em que os juros da dívida portuguesa a dez anos estão em mínimos históricos, esta emissão a 15 anos foi usada pelo IGCP para diversificar a sua oferta de produtos ao segmento institucional e preservar o seu interesse na dívida a 15 anos.
No mercado secundário, onde se realizam recompras de dívida pública, os juros implícitos às transacções ou intenções de transacção das obrigações portuguesas a dez anos (o prazo de referência no mercado) continuam em queda. Nesta quarta-feira de manhã, tinham recuado para 3,235%, uma diferença de 0,018 pontos em relação a terça-feira, segundo valores registados pela Reuters. A tendência de descida ocorre igualmente nos juros da Grécia, Irlanda, Itália e Espanha.
Portugal tem realizado desde 2013 várias emissões sindicadas de dívida pública de longo prazo (este ano também chegou a concretizar leilões a dez anos já sem a ajuda de um sindicato bancário), mas desde Junho de 2006 que não realizava uma emissão de títulos com prazo de 15 anos.
O IGCP, liderado por Cristina Casalinho, avançou para esta emissão numa altura em que os países periféricos da zona euro registam taxas de juro historicamente baixas, o que, aliás, levou igualmente o Tesouro espanhol a apostar em novas emissões de longo prazo.