O nosso homem na Europa
A União Europeia deu um passo crucial para devolver a iniciativa a um Ocidente anestesiado por uma vaga de apaziguamento politicamente correcto.
Em vez dela, senti um irreprimível impulso para saudar a eleição de Donald Tusk, primeiro-ministro da Polónia, como novo Presidente do Conselho Europeu. Depois de um mês de Agosto deprimente, com sucessivas notícias de avanços das forças anti-ocidentais por esse mundo fora — desde as tropas russas na Ucrânia, aos bárbaros extremistas islâmicos no Iraque, na Síria e em Gaza, enquanto Jean-Claude Juncker, o sucessor de Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, discutia o número de mulheres na sua futura equipa — eis que chega o primeiro sinal de esperança de uma vigorosa resposta ocidental.
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Em vez dela, senti um irreprimível impulso para saudar a eleição de Donald Tusk, primeiro-ministro da Polónia, como novo Presidente do Conselho Europeu. Depois de um mês de Agosto deprimente, com sucessivas notícias de avanços das forças anti-ocidentais por esse mundo fora — desde as tropas russas na Ucrânia, aos bárbaros extremistas islâmicos no Iraque, na Síria e em Gaza, enquanto Jean-Claude Juncker, o sucessor de Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, discutia o número de mulheres na sua futura equipa — eis que chega o primeiro sinal de esperança de uma vigorosa resposta ocidental.
No sábado passado, em Bruxelas, a União Europeia deu um passo crucial para devolver a iniciativa a um Ocidente anestesiado por uma vaga de apaziguamento politicamente correcto. Tusk e a Polónia vão seguramente trazer de volta à União Europeia o vigor e o orgulho do livre Ocidente.
A eleição de Tusk é desde logo um sinal muito claro que não passará despercebido na Rússia — mesmo ao sr. Putin e seus apaniguados. A Polónia tem liderado nos últimos meses os apelos para tomadas de posição mais firmes por parte da Europa e dos EUA face à Rússia. Agora, a voz da Polónia será escutada a partir da presidência do Conselho Europeu.
É imperioso que isso tenha consequências já na cimeira da NATO das próximas quinta e sexta-feiras, no País de Gales. As reclamações de Radek Sikorski, ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Donald Tusk, devem aí ser atendidas. É imperioso reforçar a presença permanente de forças militares da NATO na Polónia e nas Repúblicas Bálticas. É imperioso reforçar os acordos de colaboração da NATO com a Suécia e Finlândia, também com a Ucrânia.
A eleição de Tusk será também muito importante para a reforma interna da União Europeia. Tendo sido proposto pelo Reino Unido, e contado com o apoio da Alemanha, Tusk pode liderar agora um processo de ajustamento interno da UE. A Polónia é simultaneamente um orgulhoso membro da UE e uma orgulhosa nação independente. Ela pode compreender o desconforto britânico com o dogma politicamente correcto de “sempre maior integração supra-nacional”. Ao mesmo tempo, pode canalizar esse desconforto para ajustamentos reformistas, evitando que ele continue a ser explorado na Europa continental por partidos extremistas — alguns dos quais, sintomaticamente, não escondem a sua simpatia pelo sr. Putin.
Obviamente, todas estas são excelentes notícias para Portugal — um membro fundador da NATO e uma nação euro-atlantista. Durão Barroso — que foi um grande presidente da Comissão Europeia, o que continua a ser misteriosamente ignorado entre nós — sempre insistiu na importância crucial da Polónia para a União Europeia. Os laços de amizade entre Portugal e a Polónia são hoje fortíssimos — e esta é a altura certa para os festejar.
Em Novembro último, teve lugar em Lisboa uma conferência sobre "Polónia e Portugal: fronteiras da Europa". Tratou-se de uma iniciativa conjunta do Embaixador da Polónia, Bronislaw Misztal, e do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Oradores da Academia das Ciências polaca e da Universidade de Varsóvia vieram a Lisboa reflectir sobre o tema com académicos portugueses, entre os quais Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Católica, e Isabel Gil, actual vice-reitora.
Muitos elementos inesperados, para além da sólida tradição católica, aproximam a Polónia e Portugal. Um deles, tantas vezes esquecido, reside no papel central que as duas nações, geograficamente periféricas, desempenharam na eclosão e alargamento da chamada "Terceira Vaga" da democratização mundial, no último quartel do século passado. É importante recordar esta comunhão democrática luso-polaca neste dia 1 de Setembro de 2014 — precisamente 75 anos depois da invasão da Polónia por Hitler, à qual se seguiria, a 17 de Setembro, a invasão por Staline.
Em data a anunciar neste mês de Setembro, o Embaixador Misztal voltará à Católica — ao almoço mensal do Instituto de Estudos Políticos que tem lugar no Círculo Eça de Queiroz, ao Chiado, — para falar sobre a eleição de Tusk e o que ela representa. Será uma boa ocasião para festejar a solidariedade luso-polaca, bem como a feliz eleição do “nosso homem na Europa”.